O Instituto Pavão Cultural abre no próximo dia 25 de outubro sua nova mostra de artes visuais: Reproduções, uma coletiva com 22 artistas. O tema envolve obras que podem, como o nome expressa, ser reproduzidas em vários locais e suportes, sem prejuízo de seu valor artístico e cultural – pelo contrário. “Como peças únicas, as obras de arte têm garantido o seu valor. Porém, a partir de matrizes de reprodução, o que perdem em exclusividade ganham em popularidade, atingindo um número maior de pessoas e a possibilidade de estar em diferentes lugares ao mesmo tempo”, observa a arquiteta Teresa Mas, que divide a curadoria do Pavão com o também arquiteto Mário Braga.
As reproduções, consideram os curadores, são permanentemente passíveis de sofrer novas intervenções e, a cada mutação, recuperam sua condição de originalidade e aura de obra de arte. Eles chamam a atenção ainda para a importância social de reproduções, como as gravuras. “São as principais técnicas de comunicação urbana e da arte de rua, como mensageiras e expressão de cultura, principalmente por meio de cartazes que cada vez mais ‘falam’ uma linguagem internacional”.
Os expositores foram escolhidos numa convocatória pública da qual participaram artistas de várias regiões do Brasil e alguns do exterior. A diversidade das linguagens foi um dos critérios para a definição do acervo. O primeiro andar foi reservado para as colagens e instalações, como cartazes e lambes, que ocupam todas as paredes. No mezanino ficam as peças menores, como gravuras em diferentes técnicas, montadas sobre painéis.
Duas das obras são interativas; com a instalação do artista Otávio Monteiro, o público vai poder usar livremente um mimeógrafo, criando uma matriz e “rodando” cópias que podem ser tratadas ou modificadas. Já o coletivo SHN, formado pelos artistas Eduardo Saretta, Haroldo Paranhos e Marcelo Fazolin, levará uma máquina dispensadora de stickers (adesivo sobre vinil) que funciona com moedas de R$1, distribuindo aleatoriamente imagens produzidas pelo grupo.
O SHN também promoverá experiências de realidade aumentada por meio de leitura de QR Code colocado em seu painel na parede central da galeria, no formato de um grande olho, reproduzindo em outra mídia os trabalhos. Haverá diversas gravuras do coletivo à venda durante a mostra, inclusive a ave em tons de verde e rosa flúor que é símbolo do Instituto Pavão Cultural, cuja fachada é assinada pelo trio.
Também participam da mostra: Alessandro Scapinelli (arquiteto e artista plástico); Angie Niño (artista plástica); Ana Helena Grimaldi (artista e professora de Artes Visuais); Bárbara Tahira (artista plástica); Fabiano Carriero (artista plástico, gravurista, muralista e caricaturista); Mirs Monstrengo (artista plástico); Clarice Dellape (artista plástica); Diana Lanças (artista plástica); Diego Oscar Garcia, o D!NK (artista visual); Francisco José Maringelli (gravador, xilógrafo e professor de Artes); Guilherme Pilarski (artista plástico); Ingrid Ospina (artista plástica); Kiddo Fujimoto (artista plástica); Luciana Bertarelli (artista plástica); Márcio Elias (artista plástico e professor); Matheus Hofstatter (artista plástico, video maker e produtor independente); Priscila Belotti (artista plástica) e Vinícius Ribeiro da Cruz (artista plástico).
Reproduções fica em cartaz até 21 de dezembro, com entrada franca, e pode ser conferida de quarta à sábado, das 14h às 20h. A indicação etária é livre. O Pavão possui um pequeno café e bar onde são servidas bebidas e acompanhamentos nos dias de funcionamento, até as 20h. Também mantém acervo de reproduções e originais das obras dos artistas expositores, dessa e das exposições passadas.
ARTISTAS E OBRAS
Alessandro Scapinelli – o arquiteto e artista plástico brasileiro radicado na Itália leva ao Pavão o tríptico Terra Bralisis. A obra, em técnica autoral que usa fotografias sobre telas, estuco e lixas, reproduz o mapa homônimo de 1519, desenhado pelos cartógrafos Pedro Reinel e Lopo Homem (incluído no Atlas Miller, publicação portuguesa da época), com uma provocação iconográfica: as estampas de índios, paisagens e animais da nossa fauna são coloridos como azulejos portugueses.
Angie Niño – a artista plástica colombiana, mestre em Poéticas Visuais e Processos de Criação e doutoranda em Artes Visuais pela Unicamp, participa com seis gravuras inéditas em técnica de ponta seca sobre acrílico. As imagens figurativas exploram o que a artista chama de “educação corporal”, considerando o corpo humano uma representação não apenas física, mas conjunto de memórias e experiências de vida.
Ana Helena Grimaldi – artista e professora de Artes, especialista em educação em museus e centros culturais, vai expor sete gravuras em metal sobre folhas de revista (com exibição de sugestivos fragmentos de texto), utilizando a técnica da “matriz perdida”, que sofre alterações após cada tiragem. Fazem parte da série quatro monotipias em placas de off-set trabalhadas com ponta seca e solvente.
Bárbara Tahira – a artista plástica e graduanda da Unicamp terá duas obras na mostra, as monotipias (técnica de gravura em impressão única) A fuga é diária (2018) e Mas não existe fuga (2018), ambas com 30 x 42 cm.
Fabiano Carriero – o artista plástico, gravurista, muralista e caricaturista, formado em Artes Visuais pela PUC-Campinas, levará ao Pavão os lambe-lambes (impressos em papel de outdoor) de sua série João da pipa, personagem que evoca a liberdade e foi criado para um mural na Praça Arautos da Paz, em Campinas. O trabalho será exposto junto com as obras de Mirs Monstrengo, com quem Carriero tem uma parceria de ações artísticas em espaços públicos.
Mirs Monstrengo – grafiteiro que iniciou a carreira com monstros em estilo cartoon pelos muros de Campinas e posteriormente se graduou em Arte Visuais pela Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, o artista plástico levará ao Pavão, numa parceria com Fabiano Carriero, estêncis de sua série Amores.
Clarice Dellape – a artista visual em formação na Unicamp levará um exemplar da série Incêndio, gravura em metal sob tecido. A obra foi impressa diretamente de uma tampa de bueiro de uma rua de Barão Geraldo sobre tecido fino e transparente.
Diana Lanças – a artista plástica expõe o painel Labirinto, com 83 x 98 cm, formado por 60 água-tintas, técnica de gravura indireta no metal por meio de corrosão ácida. As impressões têm 10 matrizes diferentes, de modo que as imagens se repetem.
Diego Oscar Garcia, o D!NK – artista visual formado pela PUC-Campinas, trabalha com pirografia em madeira, estamparia, xilogravura, gravação em vidro, desenho e stencil art. Fez para a exposição um grafitti aplicado sobre estêncil ocupando toda uma parede nos fundos da galeria. A obra será incorporada ao Pavão e permanecerá no local indefinidamente.
Francisco José Maringelli – arquiteto e artista plástico formado pela USP, gravador, xilógrafo e professor universitário. Participa de Reproduções com as xilogravuras Putto (mancha gráfica) e O craque do joelho de vidro, ambas com 101 x 73 cm.
Guilherme Pilarski – o artista plástico participa da mostra com a instalação 40 bilhões de Terras, composta de 936 impressões no formato de cartões de visita (55 x 55 mm) dispostas na parede em grade, formando um grande painel. A ideia é aludir à existência de outros planetas habitáveis na Via Láctea, divulgada pela comunidade científica após a descoberta, em 2014, do Kepler-186f. A teoria é de que uma a cada cinco estrelas como o Sol podem ter em sua órbita um planeta como o nosso – o que totalizaria cerca de 40 bilhões de “Terras”.
Kiddo Fujimoto – A artista plástica leva ao Pavão Tudo seu que se ficou em mim, um livro-objeto e uma instalação. O trabalho foi construído com costura em linha vermelha sobre imagens de libélulas impressas em serigrafia sobre papel. Inspirada nos processos emocionais em relações abusivas, a obra utiliza os espaços vazios e preenchidos para tratar da despersonalização e dos traumas sofridos, utilizando a libélula, um símbolo exotérico de ilusão, num jogo de espaços preenchidos nos trechos esburacados do livro.
Luciana Bertarelli – a artista, membro do Projeto Xilomóvel Ateliê Itinerante, expõe um conjunto de 26 imagens em monotipia nos formatos A4 e A5, originalmente produzidas para o encarte de um álbum de música instrumental contemporânea, ainda em produção, do músico Rael Gimenes. Inspirada pelo trabalho, ela construiu diversas camadas de textura, buscando refletir as diferentes sonoridades das faixas.
Márcio Elias – doutor em Artes pela Unicamp, desenvolve trabalhos de pintura, gravura e objetos. Atua no Projeto Xilomóvel Ateliê Itinerante ministrando oficinas de xilogravura e monotipia. Participa com o trabalho As Partes Reprodutoras, um painel de 1,00x 2,70 m formado por 10 xilogravuras em cores, que reproduz gravura homônima de Jacob C. Le Blon do início do século XVIII, representando um pênis dissecado para estudo anatômico.
Matheus Hofstatter – o artista plástico, video maker e produtor independente mostra ao público do Pavão sua série Porous, composta de três peças de 1,50 x 2,20 m com técnica mista: fotografia digital manipulada com intervenções sobre tela com spray, pigmento e tinta acrílica e impressão em tecido por sublimação. Porous foi elaborada sobre imagens originadas na pesquisa do biólogo Rafael Migotto a respeito da evolução óssea de uma família de aves que agrupa cerca de 250 espécies.
Ingrid Ospina – a artista colombiana, mestranda em Artes Visuais pela Unicamp, expõe duas obras complementares com 100 x 70 cm cada, que utilizam a técnica waterless litho e são compostas de um compilado de imagens que buscam a humanidade na desolação.
Priscila Belotti – Fotógrafa, pesquisadora e artista gráfica, desenvolve o Projeto RUA, que fotografa a paisagem urbana e a transforma em serigrafias, cianotipias, fine art, lambes e livros-objetos. Participará da mostra com o tríptico Pele, cianotipia em papel de seda sobre o verso de lambes arrancados de muros, misturados a restos de reboco e tinta.
Otávio Monteiro – o artista plástico levará uma instalação totalmente interativa, quase uma oficina: usando um mimeógrafo a álcool, o público poderá desenhar na matriz, rodar cópias e customizar suas próprias obras.
Coletivo SHN – formado por Eduardo Saretta, Haroldo Paranhos, Marcelo Fazolin, o SHN apresenta três das icônicas imagens que tem distribuídas mundo afora, o tridente, a boca e o peixe, em diferentes formatos: lambes, gravuras em serigrafia sobre papel Rives 250g e stickers (adesivos em vinil), numa instalação nas paredes da galeria. Além disso, levará para venda gravuras de outros formatos, inclusive a do símbolo do Instituto Cultural Pavão, a ave em tons de verde e rosa flúor, no tamanho 35 x 50 cm, em cópias numeradas e assinadas. O público poderá ainda sair com exemplares dos stickers, que serão vendidos numa distribuidora automática que funciona com moedas de R$1.
Vinícius Ribeiro da Cruz – o artista apresenta a instalação Transeunte, composta de uma animação cíclica projetada na parede sobre desenhos feitos com tinta diluída sobre folhas de um dicionário ilustrado. A ideia é que as imagens estáticas, que podem ser apreciadas como obras completas por si mesmas, sejam transformadas pela dimensão temporal com sua reprodução em forma animada.
Serviço:
Mostra coletiva Reproduções
Entrada gratuita
Indicação etária: Livre
Data e horários: de 25 de outubro a 21 de dezembro de 2019, de quarta a sábado, das 14h às 20h.
Local: Instituto Pavão Cultural, Rua Maria Tereza Dias da Silva, 708, Cidade Universitária, Barão Geraldo, Campinas, SP. Telefone (19) 3397-0040 (atendimento das 14h às 20h).
A mostra contará com atividades envolvendo os artistas e relativas à temática; a programação será divulgada semanalmente nas redes sociais do Pavão: @pavão cultural no Facebook e no Instagram.