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Brasil apresenta piores indicadores no investimento em câncer se comparado a pares da América Latina, revela pesquisa

Brasil, por Kleber Patricio

Dra. Clarissa Mathias, presidente da SBOC. Crédito da foto: divulgação.

O câncer está entre as principais preocupações na área da saúde no mundo todo. Apenas no Brasil, são estimados 600 mil novos casos e 200 mil mortes a cada ano. Por conta da sua complexidade, abrangência e diversidade, a doença é considerada um grande desafio pelos profissionais da saúde e pelo poder público. Para quem enfrenta o câncer, o cenário também não é nada fácil, por causa do impacto negativo da notícia, o estigma que envolve a doença, a falta de conhecimento e as dificuldades de acesso ao tratamento, entre outras coisas.

Diante disso, o levantamento Câncer no Brasil: a jornada do paciente no Sistema de Saúde e seus impactos sociais e financeiros foi feito para investigar o panorama de tratamento oncológico no país, tanto no sistema público como na saúde suplementar (planos de saúde). O estudo, que contou com a avaliação técnica da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC), teve o propósito de identificar os principais desafios encontrados ao longo da jornada do paciente com câncer.

Quando considerado o investimento no combate ao câncer feito em 2017, o Brasil apresentou os piores indicadores se comparado aos seus principais pares da América Latina. Além disso, o paciente oncológico brasileiro perde quase o dobro de anos de “vida saudável” (2,4 vezes), quando comparado a alguns países da Europa e praticamente o triplo de anos de vida, em comparação a um paciente com câncer nos Estados Unidos. “O Brasil possui grandes deficiências no diagnóstico e tratamento de câncer que afetam diretamente a possibilidade de cura quanto à qualidade de vida dos pacientes”, lamenta Dra. Clarissa Mathias, presidente da SBOC.

A pesquisa revela ainda que os maiores gargalos do tratamento no país estão na desigualdade entre os recursos terapêuticos de cada região e, ainda mais grave, nas significativas diferenças entre os atendimentos nos sistemas público e privado. O maior obstáculo do paciente que depende do SUS (cerca de 70% dos brasileiros) está na etapa anterior ao tratamento, ou seja, antes de chegar aos centros de referência especializados. “Quanto maior o atraso do diagnóstico e encaminhamento, mais avançado é o câncer e maiores são os impactos sociais e financeiros relacionados a ele. A falta de recursos e o desequilíbrio no acesso à rede assistencial também agravam o problema”, aponta a médica.

Além de todos os problemas sistêmicos, o estudo também analisou o impacto global da doença em aspectos sociais e financeiros. A pesquisa listou os gastos diretos com o câncer, como medicamentos, hospitalizações e cirurgias, além dos custos indiretos, como morte prematura, absenteísmo e aposentadoria por invalidez. O custo direto foi estimado em R$4,5 bilhões no SUS; já na saúde suplementar, as despesas chegaram a R$14,5 bilhões em 2017.

No SUS, o paciente encontra problemas como falta de padronização no rastreamento para alguns tipos de câncer, dificuldade de acesso a exames preventivos e agenda de consultas, demora para obter os resultados dos exames de estadiamento, restrição de acesso a medicamentos e a exames complementares. Enquanto isso, no sistema privado os pacientes até têm agilidade no encaminhamento, mas podem se deparar com a negativa ou acesso dificultado aos testes que estão no Rol da ANS – o Rol garante o direito de cobertura assistencial dos beneficiários dos planos de saúde – além da demora para atualização de terapias e incorporação de tratamentos mais modernos.

Em relação aos custos sociais, os pacientes enfrentam incertezas e receios desde o diagnóstico e, até mesmo depois do fim do tratamento, sofrem para reorganizar a vida e se reinserir no mercado de trabalho. “Para melhorar essa realidade, é necessário um aperfeiçoamento do sistema de saúde que depende da atuação abrangente de todos os agentes envolvidos: governo, profissionais de saúde, pacientes, gestores, pesquisadores e indústria. Os esforços devem abranger pilares como agilizar o diagnóstico, oferecer acesso integral ao tratamento e disseminar informações corretas sobre prevenção para empoderar a sociedade civil”, pontua Dra. Clarissa.

A América Latina pode vivenciar um aumento de mais de 90% em novos casos de câncer até 2035, devido a fatores como o envelhecimento e o crescimento da população, segundo a Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (IARC). Por isso, o levantamento é muito valioso, pois permite enxergar a importância da discussão sobre a atenção oncológica no Brasil, a fim de nos preparamos para os próximos anos. A Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica defende que melhorar a gestão dos recursos, destinar verbas para o tratamento e modernizar infraestrutura é um movimento essencial para reduzir também custos sociais, além de promover qualidade de vida digna aos pacientes com câncer.

Sobre a SBOC – Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica

A Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) é a entidade nacional que representa mais de 2 mil especialistas em oncologia clínica distribuídos pelos 26 Estados brasileiros e o Distrito Federal. Fundada em 1981, tem como objetivo fortalecer a prática médica da Oncologia Clínica no Brasil de modo a contribuir afirmativamente para a saúde da população brasileira. É presidida pela médica oncologista Clarissa Mathias, eleita para a gestão do biênio 2019/2021.