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Vida é movimento: conheça a cinesiofobia, o medo de se movimentar – por Laís Mori Sério

Indaiatuba, por Kleber Patricio

Crédito da foto: divulgação.

Nosso cérebro funciona como um HD de computador – a cada experiência que vivenciamos, um novo registro é realizado. Todos os sentidos envolvidos (olfato, paladar, audição, tato, visão) e a emoção sentida durante cada experiência também ficam registrados.

Vamos comparar nosso cérebro ao nascermos a uma imensa área cheia de mata. A cada experiência, um registro é realizado e, a cada registro, uma parte dessa área é ‘desmatada’, depois nivelada e depois pavimentada, criando conexões com outras áreas que serão niveladas e pavimentadas também. Cada experiência promove a pavimentação de uma parte de uma longa estrada. Sim, criam-se caminhos.

De um ponto a outro, tenho um caminho que, ao percorrer, tive diferentes sensações – aromas podem estar associados, sabores, músicas ou barulhos; enfim, tudo o que estava acontecendo durante aquela experiência fica registrado no HD e fica associado àquela estrada que foi pavimentada.

E o que o medo de se movimentar – ou cinesiofobia – tem a ver com isso?

Com o medo não é diferente. Ele também cria um caminho. Em algum episódio, como ao abaixar-se para recolher um objeto que você deixou cair, por exemplo, você sentiu uma fisgada tão forte na coluna que mal conseguiu voltar para posição ereta. Você, pela primeira vez, “travou” a coluna.

Foram longos dias para se recuperar, para voltar a ter total autonomia em suas atividades. Toda essa experiência vivida criou uma nova pavimentação em seu cérebro – seu grande HD registrou cada detalhe da experiência: o objeto caindo, seu esforço, a fisgada, a intensidade da dor, o tempo em que você ficou limitado, sua ansiedade em relação ao voltar à sua rotina e produtividade, entre outras coisas.

Está lá, tudo registrado e aí, quando você se vê em uma nova situação em que precisa abaixar-se para pegar um objeto novamente, seu cérebro já acessa aquela estrada, aquele trajeto vivido e um monte de informações bombardeiam sua cabeça. Se o registro foi de medo, de dor, automaticamente essas sensações ficam mais afloradas ao perceber que você terá que repetir o movimento que uma vez te “travou”. E aí se dá início a um padrão de evitação. A pessoa deixa de se movimentar, de realizar determinadas tarefas, por medo de sentir novamente aquela dor, por não querer estar novamente em uma situação limitante e angustiante. Algumas pessoas passam a culpar inclusive o movimento. Outras simplesmente seguem em frente e abaixam, pegam o objeto, completam a tarefa e produzem uma nova sensação para ser registrada. Estas ressignificam o movimento para o cérebro. E este é o tratamento para quem tem medo do movimento: movimentar-se.

Após tratada a lesão, ao amenizar a inflamação e dar maior equilíbrio às estruturas, as funções voltam a acontecer de maneira mais harmoniosa, com menos sobrecargas e menos chances de um novo episódio ruim como o vivido anteriormente. Então, é hora de continuar a movimentar-se. O movimento faz parte do processo de cura. É preciso movimentar-se para seu cérebro entender que não há mais perigo.

Confie sempre em seu corpo. Equilibre sua saúde e mexa-se.

Laís Mori Sério é fisioterapeuta formada pela PUC-Campinas (Crefito nº 124205-F), especialista em Osteopatia pela Escuela de Osteopatia de Madrid com experiência clínica e cursos de extensão nos Estados Unidos e colabora periodicamente com o site.