Por que com todos os avanços que a ciência nos proporcionou, ainda precisamos de doadores de sangue? Esta pergunta vem sendo feita há muitos anos e infelizmente a resposta é ainda a mesma. Não existe substituto para o sangue que possa ser fabricado, produzido em laboratório, que proporcione ao nosso organismo as mesmas funções que o sangue realiza. Muito se têm estudado, milhões de dólares investidos, tentando produzir moléculas que carreguem oxigênio em nosso organismo, mas pouco sucesso efetivo foi obtido até o momento. Sendo assim, muitas pessoas estão passando por momentos de dificuldade, seja em virtude de um câncer, um acidente de automóvel, uma vítima de violência, um parto que não correu como esperado, ainda necessitam realizar transfusões para se manterem vivos.
Atualmente no Brasil, a cada 10 segundos, uma unidade de sangue é transfundida. Para que todos os pacientes necessitados sejam atendidos, a Organização Mundial da Saúde preconiza que cerca de 4% da população faça doações regulares de sangue. Em um primeiro olhar, este número parece algo fácil de ser atingido – mas a realidade não é bem esta. Atualmente, no Brasil, somente 1,6% da população faz doações de sangue regular. Este descompasso nos coloca em uma situação perigosa, na qual podem existir pessoas precisando de sangue, sem sangue para atendê-las.
Esta preocupação é ainda maior quando pensamos no momento atual em que vivemos, em que o isolamento social e diminuição de contato físico ocasionaram uma queda drástica do número de doações de sangue por todo o mundo. Assim como enfrentamos a letalidade do vírus e a escassez de leitos de terapia intensiva, temos que entender que, se não houver uma mobilização social promovendo a doação de sangue, teremos um grande adversário pela frente.
Tanto no contexto da doação de sangue como na pandemia, temos que pensar menos no “eu” em virtude do “nós”.
Os bancos de sangue se adaptaram a este novo cenário. Medidas como doações de sangue por agendamento, espaçamento entre as pessoas, coletas em locais espaçosos como estádios de futebol, utilização de máscaras e álcool em gel – estas atitudes foram tomadas para garantir que o risco de contaminação dos doadores pelo Novo Coronavírus seja minimizado. Deste modo, podemos dizer que é seguro doar sangue, mesmo em tempos de pandemia.
No dia 14 de junho, celebramos o Dia Mundial do Doador de Sangue. Este é um momento importante, quando devemos agradecer e homenagear as pessoas que realizam este ato de altruísmo. São estas pessoas que, de maneira generosa, abrem mão de seu tempo, seu sangue, para dar esperanças a tantos desconhecidos. Em última análise, trata-se de um ato de cidadania.
Obrigado, doador de sangue; você é o exemplo que devemos seguir.
Gustavo de Carvalho Duarte é doador de sangue, médico hematologista com graduação e especialização na Unicamp – título de Especialista pela Associação Brasileira de Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular –, com Proficiência pela Associação Europeia de Hematologia, diretor médico da HHemo/Brasil e presidente do Comitê Transfusional do Vera Cruz Hospital.