Um álbum que “refina a tradição de música instrumental e traz a canção para dentro dela como ninguém” — é assim que Caetano Veloso classifica o primeiro trabalho autoral do músico, compositor e arranjador nascido em Fortaleza e radicado no Rio de Janeiro há 34 anos. Foi na capital fluminense que Jorge Helder passou a ser requisitado pelos mais célebres cantores da música popular brasileira para fazer parte de seus conjuntos musicais, seja para entrar em estúdio ou cair na estrada em turnê. A ele, que já participou de mais de 350 discos tocando ao lado de Chico Buarque, Caetano Veloso, Ney Matogrosso, João Bosco, Miúcha (1937-2018), Maria Bethânia, Gal Costa, Elza Soares, Roberto Carlos, Rosa Passos, Joyce Moreno e Adriana Calcanhoto — e por aí vai, a lista é extensa—, faltava em sua discografia um trabalho para chamar de seu. Agora, isso está completo. Neste mês, o Selo SESC, a gravadora do SESC São Paulo, lança Samba Doce, um repertório samba-jazz inteiramente autoral com a assinatura do contrabaixista. O álbum chega com exclusividade ao SESC Digital no dia 18 e, nos demais players de streaming, em 23 de setembro .
Samba Doce reúne mais de 40 artistas em dez faixas, todas compostas por Jorge Helder, sendo metade delas em parceria com Chico Buarque, Aldir Blanc (1946-2020) e Rosa Passos. “Eu quis convidar vários músicos com os quais trabalhei e aprendi ao longo da carreira. Cada faixa tem uma formação diferente pensando no estilo musical de cada um, abarcando diferentes sensibilidades”, destaca Helder.
De família musical, com passagem por um grupo de chorinho e uma banda de rock na infância e adolescência, em Samba Doce ele intercala o contrabaixo com o baixo elétrico, ficando de fora apenas da faixa Vagaroso, que traz Paulo Aragão (arranjo de cordas), Nailor Proveta (sax alto), Marcos Nimrichter (piano) e a Orquestra de Cordas de São Petersburgo.
Abrindo o disco, tem a sofisticação instrumental da faixa-título composta em 2017 e interpretada com a maestria do trio formado por Jorge Helder (contrabaixo), Lula Galvão (violão) e Erivelton Silva (bateria). Na sequência, uma lembrança à obra do grande compositor Aldir Blanc com a canção Dorivá, cuja letra, de sua autoria, é uma homenagem a Dorival Caymmi (1914-2008) e que em Samba Doce é cantada por Dori Caymmi.
A parceria com Chico Buarque é de longa data. Desde 1993, o mestre do contrabaixo participa da gravação de discos e de shows do cantor e compositor carioca, pelo Brasil e exterior. O ponto de partida desta combinação musical se deu com uma turnê na Europa seguida pelo disco Paratodos. A primeira parceria, Bolero Blues, foi feita em 2006 e gravada no álbum Carioca. O momento no qual Chico contou-lhe que havia feito uma letra para a sua música tem um registro audiovisual — conhecido pela reação emotiva de Helder — no documentário Desconstrução, DVD sobre os bastidores da gravação do disco.
Em Samba Doce eles dividem a autoria de Bolero Blues, com Chico no vocal; de Rubato, que traz a participação do cantor Renato Braz e do bolero Casualmente, faixa que encerra o álbum e cantada pelo grupo Boca Livre, formado por Zé Renato, David Tygel, Lourenço Baeta e Mauricio Maestro.
A cantora Rosa Passos interpreta a parceria Inocente Blues, um blues abrasileirado. Das dez composições selecionadas para o disco, a mais antiga é Tema Novo, escrita em 1983 quando Helder ainda morava em Brasília, antes de se mudar em definitivo para o Rio de Janeiro.
Sem muitas pretensões e feito de forma muito espontânea, o disco começou a ser gravado em 2013 e ao longo do tempo o projeto foi ganhando consistência. Com ilustração assinada pelo arquiteto, compositor e poeta Fausto Nilo, parceiro de trabalho de Geraldo Azevedo, Moraes Moreira (1947-2020) e de tantos outros artistas, a capa de Samba Doce foi inspirada em uma fotografia cujo instante é de crianças saltando em uma dança, dando a impressão de que flutuam.
REPERTÓRIO DO ÁLBUM
Samba Doce – Jorge Helder
Jorge Helder (contrabaixo), Lula Galvão (violão) e Erivelton Silva (bateria)
Dorivá – Jorge Helder e Aldir Blanc
Mario Adnet (arranjo de cordas), Dori Caymmi (voz), João Carlos Coutinho (piano), Pedro Franco (violão), Jorge Helder (baixo elétrico), Marcelo Costa (percussão) e a Orquestra de Cordas de São Petersburgo
Passo o Ponto – Jorge Helder
Jessé Sadoc (arranjo), Stefano Bollani (piano) e Orquestra Atlântica formada por Marcelo Martins (sax tenor), Danilo Sina (sax alto), Levi Chaves (sax barítono), Jessé Sadoc e Gesiel Nascimento (trompetes), Bebeto Germano e Elias Correa (trombones), Jorge Helder (baixo elétrico), Williams Mello (bateria) e Dadá Costa (percussão)
Inocente Blues – Jorge Helder e Rosa Passos
Jessé Sadoc (arranjo de sopros), Rosa Passos (voz), Antonio Adolfo (piano), Lula Galvão (guitarra) e Orquestra Atlântica formada por Marcelo Martins (sax tenor), Danilo Sina (sax alto), Levi Chaves (sax barítono), Jessé Sadoc e Gesiel Nascimento (trompetes), Bebeto Germano e Elias Correa (trombones), Jorge Helder (contrabaixo) e Williams Mello (bateria)
Vagaroso – Jorge Helder
Paulo Aragão (arranjo de cordas), Nailor Proveta (sax alto), Marcos Nimrichter (piano) e a Orquestra de Cordas de São Petersburgo
Bolero Blues – Jorge Helder e Chico Buarque
Luiz Cláudio Ramos (arranjo de cordas), Chico Buarque (voz), João Rebouças (piano), Jorge Helder (contrabaixo), Jurim Moreira (bateria) e a Orquestra de Cordas de São Petersburgo
Outubro 86 – Jorge Helder
Marcelo Martins (sax tenor), Nelson Faria (guitarra), Rafael Vernet (piano), Jorge Helder (contrabaixo) e Kiko Freitas (bateria)
Rubato – Jorge Helder e Chico Buarque
Renato Braz (voz), Bruno Cardozo (piano), Marcus Teixeira (violão), Jorge Helder (baixo elétrico) e Edu Ribeiro (bateria)
Tema Novo – Jorge Helder
Ricardo Silveira (guitarra), Renato Neto (piano), Jorge Helder (contrabaixo) e Jurim Moreira (bateria)
Casualmente – Jorge Helder e Chico Buarque
Mauricio Maestro (arranjo vocal), João Carlos Coutinho (piano), Jorge Helder (contrabaixo), Pantico Rocha (bateria), Chico Batera (percussão) e o grupo Boca Livre formado por Zé Renato, David Tygel, Lourenço Baeta e Mauricio Maestro (vozes)
Ficha Técnica
Produção artística: Jorge Helder
Produção executiva: Maria Carolina Rodrigues
Ilustração da capa: Fausto Nilo
Técnico de mixagem do álbum: Roberto Lioli
Técnicos de edição: Jeronimo Orselli e Edu Costa
Mixado no Cia. dos Técnicos Studios
Agradecimentos especiais: Caetano Veloso, Paula Lavigne, João Pedro Campos, Lucas Campos, Mario Adnet, Mariza Adnet, Fausto Nilo, Kleber Augusto, todos os amigos que participaram e toda equipe do Selo SESC.
Sobre o artista
Nas tardes com a tia em Fortaleza, no Ceará, Jorge Helder aprendeu a tocar violão e, com o pai, bandolim. Ainda na adolescência, teve contato com o baixo elétrico e depois, ao mudar-se para Brasília, estudou baixo acústico na Escola de Música de Brasília. Jorge Helder levou essa formação afetuosa e formal, popular e erudita para o Rio de Janeiro, onde vive desde 1986 tocando com artistas de variados gêneros musicais.
Ao longo de 40 anos de carreira, atuou em shows e participou de mais de 350 discos de inúmeros artistas da música brasileira e internacional. A lista é grande — dos consagrados Chico Buarque, Caetano Veloso, Ney Matogrosso, João Bosco, Ivan Lins, Emílio Santiago, Maria Bethânia, Gal Costa, Elza Soares, Roberto Carlos, Adriana Calcanhoto, Miúcha e Zélia Duncan, passando por tantos outros importantes nomes como Sandra de Sá, Cássia Eller, Rosa Passos, Leila Pinheiro, Marcos Valle, Edu Lobo, Guinga e os irmãos Nana, Dori e Danilo Caymmi. Com Tom Jobim e Dorival Caymmi, gravou o DVD Meu Caro Amigo sobre a obra de Chico Buarque.
Nesta trajetória artística, Jorge Helder também dividiu estúdio e palco com Joyce Moreno, Francis Hime, Leny Andrade, Zeca Pagodinho, Martinho da Vila, Roberta Sá, Moacyr Luz, Alexandre Pires, Ivete Sangalo, Angela Maria, Bebel Gilberto, Rita Lee, Jards Macalé, Roberto Menescal, Carlos Lyra, João Donato, Elba Ramalho, Fernanda Abreu, Fausto Nilo e Luiz Melodia. Entre os internacionais, Jorge gravou com o francês Henri Salvador, a cubana Omara Portuondo, o italiano Stefano Bollani, as portuguesas Mariza e Carminho e a japonesa Lisa Ono, só para citar esses.
Produtor musical em diversos projetos, como compositor Helder tem uma obra pequena, mas consistente. Considera-se um músico que ainda tateia no gesto de compor e que está em constante desenvolvimento através de muito estudo, da gama de referências e experiências que adquire com o contato de músicos de todos os cantos do Brasil e do mundo. Seus parceiros são Chico Buarque, Aldir Blanc, Rosa Passos, Joyce Moreno e Celso Viáfora.
Serviço:
Lançamento do álbum Samba Doce, de Jorge Helder
A partir de 18/9 no SESC Digital
A partir de 23/9 nas plataformas de streaming
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