No Brasil, existem cerca de 80 espécies de tubarões. Pouco se sabe, no entanto, sobre o estado de conservação destas espécies. Com o objetivo de melhorar o entendimento sobre a situação atual de ameaça dos tubarões no nordeste brasileiro, pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), em parceria com a Universidade de Windsor e a Universidade Federal do Pará (UFPA), entrevistaram 186 pescadores sobre as memórias de pesca de tubarões que capturaram ao longo dos últimos 60 anos. Os resultados estão descritos em artigo publicado na revista Biodiversity and Conservation.
Motivados pela falta de monitoramento da pesca brasileira desde 2011, os pesquisadores colheram informações com pescadores de 26 municípios pertencentes aos estados da Bahia, Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Norte. O chamado Local Ecological Knowledge (LEK) ou conhecimento ecológico local, na tradução para o português, é uma alternativa para obter dados confiáveis sobre as espécies. “Fomos aos lugares onde os pescadores trabalham – praias ou comunidades pesqueiras – e seguimos um modelo padrão de entrevista, com pergunta sobre o tamanho máximo dos tubarões pescados, local de pescaria e também dados sobre os próprios pescadores, como idade e anos de experiência”, explica o cientista Antoine Leduc, que participou do estudo.
De acordo com Leduc, os dados obtidos são frutos de acontecimentos excepcionais, de fácil lembrança e, por conta disso, podem ter confiabilidade e ser utilizados para obter resultados quantitativos e qualitativos. “Se você perguntar para alguém o que comeu em um determinado dia do mês, dificilmente a pessoa se lembrará com detalhes; porém, se questionada sobre a melhor comida que comeu na vida, certamente terá a resposta”, explica o pesquisador, que é especialista em ecologia comportamental e conservação.
Nos relatos, foram mencionados 19 espécies de tubarões, mas com apenas oito foi possível reunir dados suficientes para uma análise criteriosa. Segundo a pesquisa, quatro das oito espécies diminuíram de tamanho ao longo dos anos. “Nos peixes, o tamanho pode ser considerado como um indicador sobre a capacidade reprodutiva. A diminuição de tamanho dos tubarões ao longo dos anos é um indicativo que chama atenção”, destaca Leduc. Para duas espécies, os dados não demonstraram um padrão claro: apesar de parecer estar em diminuição nos últimos anos, uma espécie teve aumento de tamanho e uma não apresentou alterações.
Os cientistas podem comparar esses resultados a duas Listas Vermelhas de espécies ameaçadas de extinção. Criada em 1964, a Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas da União Internacional Para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (IUCN) tem como objetivo informar o estado de conservação das espécies ao redor do planeta. Além da Lista Vermelha Global, vários países produzem suas próprias listas. No Brasil, a Lista Vermelha nacional é organizada pelo Instituto Chico Mendes para a conservação da biodiversidade Brasileira (ICMBio). “Entre essas listas, foram encontradas discrepâncias no estado de conservação para várias dessas espécies de tubarões. O que é mais interessante é como o conhecimento desses pescadores pode ser usado para determinar se é necessário corrigir as discrepâncias nas Listas Vermelhas, tendo em vista o nível de ameaça mais preciso que estes tubarões enfrentam”, explica Leduc.
(Fonte: Agência Bori)