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Proporção de brasileiros com demência mais que dobra em 30 anos

Brasil, por Kleber Patricio

Foto: Cristian Newman/Unsplash.

Um estudo epidemiológico revela cenário preocupante de crescimento no número de casos e taxas de mortalidade atribuídas às demências no Brasil. Em três décadas, a proporção de pessoas com demência e a taxa de mortalidade associada a essa condição aumentaram em mais de duas vezes no país. Até 2050, a doença de Alzheimer, responsável por sete em dez casos de demência, pode quadruplicar na população brasileira, se medidas efetivas de prevenção não forem adotadas. As observações são de pesquisadores da Universidade Federal de Pelotas, Universidade Federal do Rio Grande do Sul e Universidade de Queensland, na Austrália, em artigo publicado na Revista Brasileira de Epidemiologia.

Os dados são de pesquisa domiciliar do Estudo Longitudinal da Saúde dos Idosos Brasileiros (ELSI-Brasil) realizada em 2015 e 2016 com aplicação de questionário a 9.412 adultos a partir de 50 anos. O questionário contemplou questões sociodemográficas como sexo, etnia, renda e nível de educação, questões clínicas, relacionadas a acesso aos serviços de saúde e comportamentais, como percepção geral de saúde, qualidade de sono e grau de interação social. A análise dos dados mostra que a proporção de pessoas com Alzheimer no Brasil aumentou 127% em três décadas.

Pioneiro em descrever o perfil socioeconômico, comportamental e clínico de pessoas com doença de Alzheimer no país, o trabalho mostra que é menor a chance de pessoas negras serem diagnosticadas com a doença e é mais comum a amostra de pacientes ser representada por aposentados ou desempregados. Os pacientes com essa doença são mais propensos a ter mais consultas com clínico geral e sofrem mais quedas. Também são maiores a frequência e a duração de hospitalizações, quando comparadas aos participantes sem a doença. Por sua vez, eles são menos propensos a fazer exames oftalmológicos regulares e a visitar um dentista.

Mais tristes, deprimidos e com outras morbidades | Os pacientes com Alzheimer ouvidos na pesquisa relatam ter pior qualidade de vida no âmbito físico e emocional, sofrendo mais com quadros de solidão, depressão e tristeza. “Dois em cada três idosos relataram que se sentiam deprimidos ou tristes na maior parte do tempo”, destaca Natan Feter, um dos autores do estudo, pesquisador da Universidade de Queensland e da UFPel.

O trabalho revela também que os pacientes com Alzheimer têm maior probabilidade de serem diagnosticados com diabetes, depressão, doença de Parkinson e acidente vascular cerebral, em comparação com adultos mais velhos sem diagnóstico da doença. “No geral, eles apresentam uma pior saúde física e mental e, como consequência, uma deterioração da qualidade de vida. Há também maior iniquidade no acesso a medicamentos e diagnóstico precoce de doenças. Esperamos que os gestores, políticos e profissionais da saúde possam usar essas informações para ajudar a melhorar a qualidade de vida de pessoas com doença de Alzheimer no Brasil”, deseja Feter.

O envelhecimento é um fato de risco importante para a doença de Alzheimer. No estudo, a probabilidade de diagnóstico médico da doença na amostra estudada aumenta 11% para cada ano aumentado com o envelhecimento. O desafio coletivo de enfrentamento da doença é ainda maior, visto que a população brasileira com 60 anos ou mais aumentará em 284,2% de 2000 a 2050, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Para enfrentar o cenário, segundo os pesquisadores, será preciso investir no cuidado interdisciplinar para atenuar a frequência e intensidade dos sintomas dos pacientes, reduzir a necessidade de hospitalização e melhorar a qualidade de vida do paciente e dos cuidadores.

(Fonte: Agência Bori)