Os consumidores estão cada vez mais conscientes e têm optado por comprar ou contratar serviços de empresas que tenham o chamado “selo verde”, ou seja, uma certificação que destaca a responsabilidade social. De acordo com uma pesquisa realizada pela Nielsen, 42% dos consumidores brasileiros estão mudando seus hábitos de consumo para reduzir seu impacto no meio ambiente. Além disso, 58% não compram produtos de empresas que realizam testes em animais e 65% não compram de empresas associadas ao trabalho escravo. Pensando na sociedade e no meio ambiente, surgem as chamadas fintechs verdes no ecossistema bancário. As fintechs são startups que atuam para inovar e otimizar serviços do sistema financeiro, através de soluções tecnológicas.
O mercado, de maneira geral, já está presenciando uma virada de chave nesta vertente de atuação, com cada vez mais ações voltadas para a preservação. Entidades e organizações também estão engajadas com a pauta e se mostram dispostas a mudar a mentalidade corporativa, além das próprias empresas que estão dando maior atenção à causa ambiental nos últimos anos.
Na Ásia, por exemplo, o investimento em empresas sustentáveis ultrapassou a marca de US$28 bilhões em 2019. Os chamados títulos verdes são investimentos de impacto e um dos grandes responsáveis por mudar a mentalidade de grandes empresários ao redor do mundo, dando atenção a empresas sustentáveis na hora de escolher onde aportar seus investimentos.
Embaladas por esse movimento, as fintechs com engajamento sustentável se multiplicaram nos últimos anos. Além da Ásia, esse universo de fintechs verdes também é muito presente na Europa, com os exemplos se multiplicando ano após ano.
No continente europeu, o termo ‘investimento de impacto’ já é bastante familiar aos empresários e tem trazido retorno positivo, tanto financeiramente quanto em práticas adotadas para preservação ambiental, programas sociais, educação e saúde, por exemplo. Há, exemplos de fintechs, como a holandesa Bunq, que permite aos usuários compensar sua emissão de CO₂ plantando uma árvore a cada €100 de transação.
Existem também algumas plataformas de investimento de impacto, como a francesa Helios, uma conta de poupança que permite aos usuários investir seus depósitos bancários em projetos climáticos, como energia renovável ou remoção de carbono. Algumas fintechs implantaram alternativas sustentáveis práticas aos clientes; por exemplo, substituindo os cartões de débito e crédito tradicionais, de plástico, por cartões produzidos com madeira reflorestada. Ações tangíveis como essas ajudam a entender a força e importância desse ecossistema de atuação.
O Brasil ainda está iniciando uma caminhada para consolidar esse formato de negócio, mas os cases já são visíveis. “É uma realidade cada vez mais latente, no futuro veremos muito mais instituições financeiras e de outros segmentos com engajamento social e sustentável. São sementes plantadas hoje que irão florescer em breve”. Quem faz a afirmação é Isabelle Kwintner, diretora sênior de estratégia da UzziPay, uma fintech com engajamento no desenvolvimento sustentável da Amazônia. E essa “semente” pode não ser apenas metafórica. No caso da Uzzipay, a proposta é preservar uma árvore na Amazônia para cada nova conta aberta através do banco digital. Ações como essa saem do campo teórico e dos discursos e se tornam atitudes palpáveis que, de fato, têm um impacto relevante para a natureza.
A Uzzipay financia uma área de reserva legal da Amazônia em Rondônia. Com a abertura da conta digital e a utilização dos recursos, como transferências, pagamentos e recargas, quanto mais movimentação o correntista tiver, mais recursos serão destinados à reserva de preservação. A área escolhida tem 700 hectares de floresta em uma reserva legal de manejo florestal em Porto Velho e o monitoramento do local é feito por solo, por drones ou voos tripulados sobre a região e por imagens de satélite. A ideia é criar reservas em outros biomas, conforme o desenvolvimento da fintech e o aumento no número de correntistas.
Sustentabilidade e lucro | As bolsas de valores mundiais estão mensurando na prática o valor das companhias sustentáveis que possuem capital aberto. Ao mesmo tempo em que as empresas criam projetos de efeito ao meio ambiente, as ações delas costumam se valorizar nas bolsas.
De fato, essa valorização se concretizou, estabelecendo uma tendência que se firma cada vez mais no mercado. O Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) da B3 (bolsa de valores de São Paulo) — estabelecido para analisar o desempenho das empresas em aspectos sustentáveis — apresentou rentabilidade de 203,8%, entre 2005 e 2018. “Com as redes sociais, aumentou a cobrança e também a preocupação das pessoas em saber o que as empresas fazem pelo meio ambiente. Apenas evitar a degradação ambiental já não é mais suficiente, é preciso fazer algo mais”, analisa Kwintner.
Outros aspectos são igualmente positivos para o desenvolvimento desse formato de companhias: os clientes se mostram mais fiéis, por se identificarem com a causa, os funcionários também são engajados e a marca ganha mais valor agregado pela responsabilidade social.