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Precursor do urban jazz, Jonathan Ferr lança álbum “Cura” e websérie afrofuturista

Rio de Janeiro, por Kleber Patricio

Capa do álbum. Foto: divulgação.

Se ao ouvir falar em jazz e piano você automaticamente pensa em músicos de figurinos clássicos e cores sóbrias, pode esquecer essa persona. E ninguém melhor para acabar com essa imagem pré-concebida do que o pianista brasileiro – e carioca – Jonathan Ferr. Ferr, aliás, é a personificação da quebra de paradigmas: estética, essencial e musicalmente falando. E é com essa proposta disruptiva que o precursor do gênero urban jazz no Brasil lançou, na sexta-feira (28), seu novo álbum Cura (ouça aqui), o primeiro a ser lançado pelo selo slap, da Som Livre.

O projeto chega ainda com uma websérie no YouTube envelopada em estética afro futurista – outra marcante assinatura do multifacetado artista, que também está sempre à frente da direção das suas produções audiovisuais e nas quais eventualmente atua. Composta por oito music visualizers – um para cada faixa inédita e com o número 8 representando o infinito, simbolizando a cura infinita de cada um –, a série chega ao canal do artista na próxima terça-feira (1/6) e retrata o encontro de um casal que se apaixona e vive um drama da vida cotidiana, em um processo contínuo de busca pela referida cura do título do disco.

Com nove faixas no total, o álbum alcança o feito de simultaneamente ser uma obra essencialmente pessoal do artista, enquanto transmite uma mensagem universal a quem escuta. A universalidade, aliás – para além da experiência sensorial intensificada pelo caráter instrumental do projeto – fica evidente também no título das canções, apresentando elementos comuns à trajetória humana: Nascimento, Choro, Sensível, Chuva, Amor, Felicidade, Caminho e Esperança – sendo essa última o único single já lançado com a participação de Serjão Loroza. A única faixa que foge a essa regra e não à toa é Sino da Igrejinha. Canção de domínio público e familiar aos cultos de matrizes africanas, ela foi a escolhida para ser a primeira da tracklist. “Dentro dos terreiros, essa é uma música cantada para a entidade responsável por abrir os caminhos para todas as coisas”, explica Ferr, evidenciando mais uma faceta de sua personalidade plural.

Jonathan Ferr. Foto: divulgação.

Além da brilhante musicalidade, Cura encanta também pela proposta democrática – sem perder o apuro técnico –, tendo como um de seus objetivos principais a desmistificação da música instrumental como um gênero erudito. O caráter contemporâneo do urban jazz – estilo assumido pelo músico para denominar a mistura de elementos do jazz, hip hop, R&B e outros estilos de música urbana, promovendo um verdadeiro mix pop – contribui para o alcance mais popular que Jonathan almeja. “Busquei um certo minimalismo para a produção de Cura, no sentido de apostar em poucos elementos e muita clareza nas informações musicais. É um disco fácil de ouvir e sentir”, diz Jonathan. O cuidado fica evidente na audição do álbum, que traz sempre o piano no centro de cada composição, acompanhado de um quinteto de cordas e alguns convidados especiais, como o violoncelista Jaques Morelenbaum, a filósofa Viviane Mosé e o cantor Serjão Loroza. “Penso nesse projeto como uma espécie de ‘Jonathan Ferr Unplugged’, porque eu me dispo muito de toda essa essa coisa de banda, cantores etc.”, completa.

Outro importante pilar de Cura é o conceito de música-medicina, com intenção clara desde o título do álbum, uma vez que Jonathan acredita na música como um elemento para acalentar a alma em busca do ‘curamento’. “O conceito (de música-medicina) normalmente está ligado à música espiritualista e eu acho muito bonito pensar nele dentro da proposta instrumental também, porque acredito que a música por si só é medicinal. O que seria de nós na pandemia se não fosse a música, por exemplo? Então eu intencionalmente quis trazer o disco pra esse lugar, onde você pode dar o play, meditar  etc., usando esse disco para um movimento de auto cura mesmo”, declara o artista. “Na última faixa, Caminho, a Vivi Mosé declama um texto lindo e poderoso no qual ela diz ‘o que cura é a vida’, que resume muito bem a proposta do disco. Ela usa ainda um mantra indígena que eu gosto muito, que é ‘a cura está acontecendo agora, nesse momento’. E é isso o que quero dizer: a cura é a vida, a água pura, é estar com quem você ama, é o bom dia para o quem acorda do seu lado, é olhar para o seu filho e se reconhecer nele, é comer uma comida gostosa, é beber uma cerveja com os amigos”, exemplifica Jonathan.

Assim como o próprio artista, Cura é um disco repleto de nuances que conversam de maneira muito orgânica e de fácil absorção ao ouvinte. Ao mesmo tempo em que o álbum apresenta uma essência sentimental, a busca pela espiritualidade e um caráter curativo – evidentes em Sino da Igrejinha e Caminho, respectivamente –, ele não deixa de apresentar também seu viés político-social alinhado com a identidade do seu criador, como na track Esperança, que traz um poema de autoria de Ferr declamado por Serjão Loroza e um clipe repleto de simbolismos. Mas há também espaço para faixas como a love song Amor, um blues sensual para dançar a dois; Choro, que imprime uma conexão com nossos sentimentos mais profundos; Felicidade e sua vibe rock’n roll’ com um solo de guitarra; o resgate a um local seguro da infância em Chuva; uma reflexão sobre a deusa egípcia Maat e a energia do feminino em Sensível, com participação do violoncelista Jaques Morelenbaum e uma homenagem ao ícone da MPB Milton Nascimento em Nascimento.

Tornar sua obra e mensagem acessíveis é tão importante para Jonathan que, segundo o artista – e ao contrário da maioria dos álbuns musicais –, a ordem de consumo das faixas proposta na tracklist não é essencial para a compreensão do disco. “Com esse trabalho, estou buscando conexão com todo mundo – desde uma senhorinha humilde que mora no interior e nem sabe o que é jazz, até um colecionador que tenha milhares de vinis em casa. Quero que todos que deem play nesse álbum sintam e estabeleçam uma conexão, porque vão entender. Não quero mostrar que consigo fazer 30 notas por segundo, porque acho que isso não conecta ninguém. Então esse é um álbum que fiz para alcançar esse lugar e que vai trazer muitas possibilidades”, conclui Jonathan.

Por fim, é possível vivenciar a experiência de um projeto cheio de frescor, ineditismo, beleza e cura.

Álbum Cura – Jonathan Ferr

Lançamento slap/Som Livre

Tracklist:

1 – Sino da Igrejinha

2 – Nascimento

3 – Choro

4 – Esperança (feat. Serjão Loroza)

5 – Felicidade

6 – Chuva

7 – Amor

8 – Sensível (Maat) – feat. Jaques Morelenbaum

9 – Caminho (feat. Vivi Mosé)

Ficha técnica da série Cura:

Criação original de Jonathan Ferr

Direção: Bárbara Fuentes

Roteiro: Jonathan Ferr e Bárbara Fuentes

Direção de produção: Tânia Artur

Elenco: Jonathan Ferr e Juliane Cruz

Assistente de set/platô: Raquel Artur

Direção de Fotografia/ Câmera: Matheus Dafi

Foquista: Renan Herison

Logger: Carlos Alexandre

Gaffer: Toni Oliveira

Assistente gaffer: Jacinto Estevam

Contrarregra: Cabelinho

Preparadora de elenco: Iane de Jesus

Direção de Arte: Giulia Maria Reis

Figurino: Taíssa Rombaldi

Maquiagem: Jessyca Teixeira

Preparação de elenco: Iane de Jesus

Still/Making of: Nathália Pires

Edição de Making of: Carlos Alexandre

Edição/Montagem: Stephany Barros

Colorização: Eric Palma

Apoio de catering: Contemporâneo Lapa

Apoio de Figurino: Acervo Bruneba e Acervo Hugo Nogueira

Comunicação: Listo

Assessoria de imprensa: InPress

Produção Executiva: Sim Produções

Lançamento: slap/Som Livre

Todas as músicas foram compostas, produzidas, arranjadas e performadas por Jonathan Ferr, exceto Sino da Igrejinha (domínio público)

Créditos da capa do álbum e shooting: Jonathan Ferr

Fotografia: Renan Oliveira

Assistente de fotografia: Felippe Costa

Assistente de fotografia: Bia Novaes

Stylist: Lucas Magno

Assistente stylist: Fabiana Pernambuco

Beleza: Laura Peres

Estúdio: Crop

Produção: Tânia Artur/Sim Produções

Look: Leandro Castro

Acervo de roupas/acessórios: Leandro Castro, Durags Brasil, Converse, SãnSe, Gil Haguenauer.

Sobre o slap | O slap faz parte da vida de quem busca novas experiências musicais e orgulha-se de, desde 2007, fomentar a cena indie e abrir as portas do mercado para novos artistas. Sua missão é potencializar e empoderar a cena musical independente do país, incentivando o midstream e fazendo com que novos sons, originais e arrojados, cheguem a cada vez mais pessoas. O slap carrega em sua história grandes lançamentos de nomes como Maria Gadú e Scalene. Seus representantes têm todos a autenticidade como característica e, entre eles, estão Céu, Jonathan Ferr, Luthuly, Marcelo Jeneci, Maria Gadú, Gustavo Bertoni e Scalene. @slapmusica