O Brasil é um país megadiverso conhecido por sua biodiversidade e cultura; no entanto, ainda é surpreendente o pouco conhecimento que se tem sobre a biodiversidade nacional a respeito de plantas locais alimentícias como taioba, cumaru, pequi, bacuri, pitomba e jenipapo, entre tantas outras. O livro Local Food Plants of Brazil (Plantas alimentícias locais do Brasil, em tradução livre) busca justamente ajudar a cobrir essa lacuna de informações, trazendo novos dados sobre a composição nutricional dessas plantas, práticas culinárias e a relação entre humanos e plantas locais comestíveis, além de mostrar seu papel na diversificação da dieta do brasileiro.
A obra, publicada pela editora Springer e lançada no domingo (20), é organizada pelos professores Michelle Jacob, do departamento de Nutrição da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, e Ulysses Paulino, do departamento de Botânica da Universidade Federal de Pernambuco. Em 21 capítulos, pesquisadores brasileiros e estrangeiros de países como França, Espanha e Alemanha oferecem uma visão ampla sobre as plantas alimentícias brasileiras disponíveis nos biomas do Cerrado, Caatinga, Pampa, Amazônia e Pantanal. “Há um crescente interesse acadêmico em plantas alimentícias locais, assunto que se encontra nas fronteiras do conhecimento de várias áreas, tais como ciências ambientais, nutrição, saúde pública e humanidades”, comenta Jacob. “Até hoje, no entanto, não tínhamos um livro trazendo perspectivas multidisciplinares para este campo complexo.”
Um dos resultados principais é a compreensão de que a diversidade de plantas alimentícias locais é central na promoção de dietas sustentáveis e, portanto, da saúde planetária. “Plantas alimentícias locais estão no centro de dietas sustentáveis porque têm o potencial de tornar as dietas mais diversificadas e, logo, mais nutritivas. Além disso, o redirecionamento do nosso sistema produtivo visando abarcar as plantas locais pode fortalecer a resiliência dos sistemas alimentares frente às mudanças climáticas, contaminação química por agrotóxicos e emergência de surtos zoonóticos, como é o caso da Covid-19”, diz Jacob.
Biodiversidade no prato dos brasileiros | A dieta brasileira tem se tornado mais homogênea nos últimos anos, com baixa diversidade de plantas e consumo de ultraprocessados. Essa tendência de perda de espaço de vegetais locais é mundial, sendo que atualmente 60% das calorias consumidas pela humanidade provêm de três grãos – milho, arroz e trigo. Em alguns lugares do Brasil, os alimentos nativos chegam a ser estigmatizados, comentam os pesquisadores.
Alguns capítulos do livro também abordam como o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) e o Plano Nacional de Promoção das Cadeias de Produtos da Sociobiodiversidade (PNPSB) e outras políticas públicas podem ser portas de entrada para a valorização das plantas alimentícias locais brasileiras.
No caso da alimentação escolar brasileira, por exemplo, foi analisada a inclusão de alimentos biodiversos no cardápio dos estudantes em 221 cidades brasileiras e descobriu-se uma desigualdade regional significativa em relação à presença de alimentos orgânicos e regionais. Enquanto na região Sul 21,57% das cidades compraram alimentos orgânicos, nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste nenhuma cidade comprou tais alimentos. Além disso, todas as cidades da região Sul compraram alimentos regionais.
A obra também apresenta vários métodos de aprendizagem e ensino sobre plantas locais brasileiras por meio de oficinas, redes sociais e uso de inteligência artificial, entre outros, já que um maior conhecimento sobre a biodiversidade é um elemento fundamental para valorizar a cultura alimentar brasileira, proteger o meio ambiente e garantir segurança alimentar e nutricional para a população.
Segundo Jacob, “os autores da obra seguem engajados em suas pesquisas em suas diferentes áreas de conhecimento, ampliando a nossa compreensão sobre problemas e soluções relacionados ao sistema alimentar por meio de diferentes lentes focais”. A editora ainda diz que espera “que este livro inspire mais pessoas a se envolverem na tarefa de promover dietas mais sustentáveis para o ser humano e todas as outras formas de vida.”
(Fonte: Agência Bori)