Quatro pesquisadores fizeram um trabalho inédito de cartografia para mapear cerca de 120 iniciativas populares que agem em defesa de três bacias importantes para a sustentação do sistema hidrelétrico do país. Marcela Bertelli, Damiana Campos, Bianca Lemes e Yuri Hunas foram os responsáveis pelo trabalho que sinalizou as comunidades ribeirinhas “guardiãs das águas” das bacias do São Francisco, do Rio Doce e do Jequitinhonha. O mapa interativo poderá ser acessado na plataforma digital do Festival Seres-Rios, do BDMG Cultural, que acontece de 2 a 10 de agosto.
“A cartografia expõe iniciativas e experiências da sociedade para enfrentar os problemas, como o da crise ambiental e hídrica e que estamos vivendo, da luta em defesa de territórios e da desigualdade social. É uma espécie de fotografia não estática do agora, do que está acontecendo, porque as comunidades são dinâmicas, respondem gerando movimentos a todo instante”, explica a antropóloga e curadora do festival Marcela Bertelli. “Muita gente pensa que as pessoas que vivem nessas regiões são marcadas apenas pela pobreza. Mas o que elas nos mostram é que existem formas de abundância, de produção aliada à proteção ambiental, de generosidade, de organização, de luta. São elas que estão protegendo nossos rios, nossas sementes, nossas florestas, nossa biodiversidade, nossa alimentação, ensinando algo que perdemos ou que destruímos”, acrescenta.
Marcela conta que cada um dos outros três pesquisadores ficou responsável por uma bacia em que já atuam em pesquisa e junto a movimentos populares. Os dados foram lançados em um mapa digital das bacias dos três rios que permite acesso às iniciativas das comunidades ribeirinhas marcadas por pontos que, quando clicados, abrem as informações. “Tem registro de movimentos de turismo comunitário e cultural, produção artística, cultura agrícola e alimentar. Não temos pretensão de abarcar todas as iniciativas, mas a cartografia ficará aberta para que outros registros sejam feitos. As pessoas podem enviar informações que iremos inserindo, assim que validadas”, diz.
Apolo Heringer Lisboa, um dos autores da Carta de Morrinhos, que conta com o movimento popular de quilombolas ribeirinhos e que foi mapeada na cartografia do Seres-Rios, afirma que é importante que todos saibam da existência dessas iniciativas para que apoiem, invistam e ajudem a manter. O movimento da Carta de Morrinhos, inclusive, precisa de financiamento, já que atua com lagoas imensas que precisam de fiscalização e monitoramento constante. A preservação delas é vital para o Rio São Francisco. Elas são local de desova dos peixes na piracema e funcionam como viveiros para os alevinos antes que voltem ao rio com as cheias.
(Fonte: Press Voice)