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Festival Imersivo das Favelas abre espaço para trabalhos tecnológicos de jovens negros e indígenas

Rio de Janeiro, por Kleber Patricio

Fotos: divulgação.

Em 12 de agosto é celebrado o Dia Internacional da Juventude e, por isso, durante todo o mês surgem iniciativas para dar oportunidades e atender interesses desse público. Uma delas é o Festival Imersivo das Favelas, que terá sua primeira edição em formato online e gratuita, com o objetivo de amplificar vozes de artistas e VR filmmakers negros e indígenas de periferias e zonas rurais de todo o Brasil.

A chamada para submissão dos projetos que remixam artes visuais e tecnologias imersivas vai até o dia 18 de agosto e deve ser feita pelo Google Formulário. Para participar, os jovens devem ter de 17 a 30 anos e estar desenvolvendo trabalhos contemporâneos como projeção mapeada, 360º, 3D, programação, animação ou games, levando em consideração a estética afrofuturista. Podem se inscrever artistas de todas as regiões do país, desde que sejam indígenas ou negros e moradores de periferias e zonas rurais.

Durante todo o mega evento, a proposta é potencializar a atuação revolucionária de jovens inovadores que trabalham com tecnologias sociais, ancestrais, low tech e high tech. Com produção e estética afrofuturista da produtora Sete Léguas em parceria com a escola GatoMÍDIA e Coletivo Papo Reto, os participantes poderão acompanhar talk shows e workshops ao vivo para aprender sobre as diferentes vertentes da realidade virtual, cinema e arte contemporânea por meio de uma plataforma digital em 360° que simula o contato presencial. O evento será aberto ao público em geral, sem necessidade de inscrição prévia e submissão de trabalhos.

“Queremos a participação de jovens artistas que trabalham com cinema, música ou tecnologia. Eles podem ter feito faculdade, curso técnico ou aprendido a mexer com tecnologia e artes por serem curiosos. Também são bem-vindos aqueles que já tentaram participar ou participaram de algum projeto da Lei Aldir Blanc e queiram mostrar seu trabalho para o mund”, complementa João Inada, criador do documentário Na Pele VR‘ e fundador do coletivo Sete Léguas.

Em sua edição de estreia, que acontece nos dias 27, 28 e 29 de agosto, o FIF terá como obra principal a experiência Na Pele VR, primeiro documentário em realidade virtual interativo produzido no Complexo do Alemão, que foi estreado no IDFA – Doc lab Competition for Digital Storytelling 2020 e teve apresentação ilustre no festival South by Southwest, em Austin, no Texas. “A ideia após a criação do Na Pele VR era fazer uma grande aparição no Brasil para chamar outros jovens negros e indígenas de periferias do Brasil a apresentarem suas produções visuais imersivas. Nós queremos ser um canal para abrir portas para esses artistas, que são capazes de transformar a sociedade a partir de suas vivências e projetos”, explica a fundadora da GatoMÍDIA, Thamyra Thâmara.

O evento tem apoio da Fundação Heinrich Böll Brasil e da FordFoudation, que desde o desenvolvimento do documentário no Morro do Alemão ajudam a financiar projetos que saem das periferias. Para complementar a experiência dos participantes, grandes personalidades engajadas em causas sociais confirmaram presença; entre eles, o DJ Rennan da Penha e o criador da Batekoo Brasil, Mauricio Sacramento. Além disso, também integram o FIF Nina da Hora, referência do afrofuturismo, a ativista e comunicadora indígena Alice Pataxó, curadores de arte e designers da África do Sul e Senegal, como Dan Minkar e Thokozani Madonsela, entre outros convidados.

Em uma das mesas do festival, intitulada Favela AGORA, Rennan da Penha, Alice Pataxó, Raull Santiago, junto à multiartista e fundadora do Afrofunk Rio,Taisa Machado e à comunicadora e ativista Tiê, vão debater as possibilidades de desenvolvimento da arte, a partir das novas tecnologias e os alcances globais que elas têm. Confira a programação na íntegra.

“O time de apoiadores tem o propósito de inspirar, neste período de pandemia, jovens artistas e ajudá-los a realizar sonhos. Nadando contra as perspectivas de vida que apontam aos favelados, queremos dar oportunidades a adolescentes e adultos que têm medo da violência policial, de não conseguirem ajudar a família e de não poderem se sentir realizados com as coisas que gostam de fazer”, aponta Raull Santiago, fundador do Coletivo Papo Reto, que atua no Complexo do Alemão, e um dos idealizadores do FIF.

Assista ao trailer de Na Pele VR aqui.

Sobre os idealizadores do FIF

João Inada é diretor, produtor e criador de conteúdo imersivo. Diretor do Na Pele e Mestre pela Universidade de Columbia em jornalismo, Inada é fundador da Sete Léguas Filmes, uma produtora especializada em criar conteúdo e campanhas de impacto social e ambiental. Atualmente é integrante do Gabinete dos Bichos, um coletivo de jornalistas, ambientalistas e indígenas que produz conteúdo com foco político-ambiental.

Raull Santiago é comunicador, fundador do Coletivo Papo Reto, um dos 50 profissionais mais criativos do Brasil pela revista WIRED (2020). Gestor de projetos sociais do terceiro setor, produtor cultural e audiovisual, consultor de marketing, ativista pelos direitos humanos, mudanças climáticas, negritudes, vida na favela e empresário – CEO da Agência Brecha – Hub de Favela.

Thamyra Thâmara é jornalista, roteirista, produtora de narrativas 360º e doutoranda em Comunicação Social pela Universidade Federal Fluminense (UFF), onde desenvolve pesquisa sobre afrofuturismo, blackness e produção de visualidades anticoloniais. Thamyra é fundadora do GatoMÍDIA, rede e metodologia de aprendizado em mídia e tecnologia para jovens negres e moradores de favelas e periferias de todo o Brasil. Além disso, dirigiu e roteirizou os curtas Mulheres Negrias na Política e Descolonize o Olhar, exibido na Assembleia Geral da ONU em 2019. E fez parte da sala de roteiro do primeiro documentário em realidade virtual em favela Na Pele VR, selecionado para o IDFA – International Documentary Filmfestival Amsterdam e SXSW Film Festival.

Convidados do Continente Africano

Jumoke Sanwo (Nigéria) – é uma contadora de histórias, interlocutora cultural e diretora criativa da Incubadora de Arte Rotativa, um espaço de arte alternativa em Lagos, Nigéria. Como contadora de histórias, trabalha com o meio de Fotografia, Vídeo, Arte, Cinema e Realidade Virtual. Ela envolve as realidades e complexidades da espacialidade/temporalidade nas sociedades pós-coloniais, refletindo sobre auto percepção e separação, experimentada através tempo e espaço. As suas obras têm sido expostas em galerias, museus e festivais em muitas regiões de todo o mundo.

Thokozani Madonsela (África do Sul) – é um artista de mural, pintor e tipógrafo. Madonsela é especializada em diferentes meios, como desenhos a carvão, pintura e arte em mosaico. Participou de várias exposições coletivas, como a SA Taxi Foundation Art Awards e Absa L’Atelier, para citar alguns; ele também esteve envolvido em projetos especiais e comissões.

Mohammed Blakk (Gana) – é artista criativo e empresário de Gana que fundou a marca de roupas de rua Afronative, em 2014, patrocinada por nomes como King Promise e Adjoa Aboah. Em 2019, ele foi selecionado como uma das várias pessoas de cor pela BET para o projeto Artist in Residency (Air) específico do Instagram da rede. Ele é creditado como o artista corporal para o episódio Black is King de Beyoncé, filmado em Gana.

Bibi Seck (Senegal) – é co-fundador do premiado estúdio de design e inovação Birsel+Seck e fundador do Dakar Next, um estúdio-laboratório de design em Dakar, Senegal. Bibi nasceu em Paris e passou os seus anos formativos em Londres, Paris e Dakar. Recebeu o seu mestrado em design industrial em 1990 da ESDI, Paris. Antes de se mudar para Nova Iorque em 2003, Bibi foi designer líder na Renault durante 12 anos e tem uma vasta experiência em materiais e fabrico e orientação de grandes equipes de design por meio de problemas complexos. Bibi Seck liderou as equipas de design de interiores para vários veículos de produção, incluindo os Scenic I, Twingo II, Trafic, e Scenic II. Scenic I (1996) e Trafic (2002) ganharam os prémios Carro do Ano da imprensa comercial europeia. Enquanto esteve na Renault, Bibi desenhou o relógio Micrográfico F1 para Tag Heuer, ganhando o prestigioso Prix d’Horlogerie de Genève 2002.

Kombo Chapfika (Zimbábue) – artista visual multidisciplinar, nascido e criado em Harare, Zimbabué. Artista maioritariamente autodidata, tem trabalhado em animação, publicidade, radiodifusão, web desenvolvimento e belas artes. O seu trabalho explora a mutação da cultura africana contemporânea, à medida em que esta se adapta à modernidade e à interconectividade tecnológica. Cria arte que exprime o imenso potencial e a realidade do Zimbabué e da África em geral.

Brian Afande (Quênia) – é co-fundador e diretor executivo BlackRhino VR. Como um dos primeiros africanos a adotar a experiência XR, acredita que democratizar o acesso a estas tecnologias é a chave para construir a consciência em torno do potencial que os jovens em África podem alcançar. É seu desejo sincero que, por meio da criação de sinergias, parcerias e colaborações, possam-se equipar os jovens africanos para serem os inovadores e inventores da XR do futuro.

Serviço:

Dia do evento: 27, 28 e 29 de agosto de 2021

Início da submissão de projetos: até 18 de agosto de 2021

Link para submissão de projetos: aqui

Preço: gratuito para jovens artistas e para a população em geral, que poderá acompanhar a programação através do site do FIF. Aqueles que não forem submeter projetos, não necessitam de inscrição prévia no evento.