No Brasil, estima-se que a polinização realizada por animais como abelhas, moscas e morcegos gere um valor econômico de 43 bilhões de reais por ano na agricultura. Pesquisadores do Centro de Síntese em Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (SinBiose) foram além e mapearam a importância dos polinizadores para a agricultura em cada um dos municípios brasileiros. Em artigo publicado na revista “Environmental Science & Technology” na segunda (23), eles mostram que a polinização resulta em um aumento de até 100% da produção agrícola, dependendo da cultura, trazendo maior retorno financeiro.
Os pesquisadores analisaram o papel dos polinizadores nas principais culturas agrícolas brasileiras para cada município brasileiro, focando no aumento da produção agrícola e retorno monetário. Esse conjunto envolve 90 cultivos diferentes que vão desde a abóbora e o cacau, cuja produção aumenta até 100% com a presença desses animais, até a uva (aumento de até 10%), passando pela soja, laranja e café, cuja produção pode aumentar entre 10 e 40%.
A partir de dados de produção agrícola e áreas de cultivo, os municípios foram classificados em quatro faixas de demanda por polinização. Os pesquisadores verificaram a importância dos cultivos para cada município, incluindo a diversidade agrícola – dos locais caracterizados pela monocultura e grandes propriedades àqueles com maior diversidade de cultivos característicos de pequenas propriedades rurais. O estudo também identificou a demanda de restauração de áreas naturais para garantir a presença de polinizadores nos cultivos agrícolas.
A presença de vegetação nativa próxima às áreas cultivadas maximiza a polinização e melhora a produtividade e a manutenção da cultura agrícola. “Dadas as projeções de aumento da demanda global por alimentos, há uma necessidade urgente de reverter a tendência atual de expansão agrícola, promovendo práticas agrícolas sustentáveis”, explicam os autores. Nesse contexto, é importante desenhar políticas ambientais que integrem a conservação da biodiversidade e a polinização das culturas considerando as especificidades de cada localidade, como, por exemplo, na escala de municipalidades.
“Procuramos desenvolver alguns indicadores integrando polinização, usos da terra e o cumprimento da legislação ambiental e, neste contexto, os municípios são unidades administrativas importantes e devem ser considerados de acordo com suas especificidades”, destaca Pedro Bergamo, pesquisador do Jardim Botânico do Rio de Janeiro e um dos autores do estudo que envolve vinte e um colaboradores do Programa SinBiose/CNPq.
Déficit de vegetação natural | Outra informação analisada diz respeito ao déficit de vegetação natural de cada município; isto é, a diferença entre a quantidade de vegetação natural existente e as áreas exigidas por lei. Os municípios foram classificados de acordo com esse déficit. De um lado, aqueles que têm poucas áreas de vegetação natural e precisam de um maior esforço de restauração. Do outro, os que já contam com áreas de vegetação natural e, portanto, precisam conservá-las para garantir o excedente da produção agrícola resultante da presença de polinizadores.
A partir da correlação entre essas métricas, foi possível elaborar um ranking de prioridades para restauração e conservação da vegetação natural que tenham como foco a importância da polinização para cada localidade.
Cidades como Anápolis (GO) e Alta Floresta (MT), que estão na zona de expansão da soja, Ilhéus (BA), na zona cacaueira, ou Itapeva (MG), na zona produtora de café, são municípios com recomendação de alta prioridade para restauração de suas áreas de vegetação natural tendo como foco o aumento da polinização e, portanto, de suas produções agrícolas. Já Apuí (AM), Xique-xique (BA) e São Félix de Balsas (MA) são municípios cuja recomendação é a prioridade da conservação de suas áreas de vegetação para garantir, assim, a produção agrícola local. “Esperamos que o estudo ajude a auxiliar no planejamento das iniciativas de restauração ecológica em sintonia com a agricultura e a polinização, reconciliando a conservação da biodiversidade e a produção agrícola”, finaliza Pedro Bergamo.
(Fonte: Agência Bori)