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Profissionais da saúde veem alimentação em contextos de pobreza como “problema sem solução” na periferia de SP

São Paulo, por Kleber Patricio

Foto: Giorgia Prates/Fotos públicas.

Profissionais da Atenção Primária à Saúde (APS) veem a alimentação adequada e saudável para todos como um problema sem solução, especialmente quando o cenário é a periferia e seus moradores. Esta é a conclusão de um estudo da Universidade de São Paulo (USP) publicado na revista “Cadernos de Saúde Pública” na quarta (25). As pesquisadoras Lúcia Guerra, Fernanda Botelho e Ana Cervato-Mancuso realizaram entrevistas com profissionais de saúde que conduzem, por meio do Sistema Único de Saúde (SUS), grupos educativos sobre alimentação e nutrição na APS na cidade de São Paulo, com foco em bairros da periferia. A maior parte dos agentes tinha formação em áreas como enfermagem, medicina e fonoaudiologia. A APS é uma das áreas-chave para a atuação profissional que vise à efetivação do Direito Humano à Alimentação Adequada.

Com o objetivo de entender de que forma os profissionais de saúde atuavam para promover o direito humano à alimentação adequada, o estudo identificou três perfis de atuação. O primeiro tem foco apenas na dimensão biomédica da alimentação, com recomendações como a redução do consumo de alimentos que, muitas vezes, são os únicos acessíveis à população atendida.

O segundo perfil reconhece as complexidades do acesso e disponibilidade de alimentos nestas regiões, mas se mostra resignado com as violações ao DHAA (com pensamentos como “melhor comer por um ou dois dias do que não comer nada”, sem preocupações, por exemplo, com a regularidade da alimentação da população).

Por fim, o terceiro tipo de atuação dos profissionais da saúde é mais coerente com a promoção do direito humano à alimentação adequada. São agentes que se envolvem em ações de responsabilidade coletiva, integrando profissionais de diversas formações, e levam em consideração os modos de vida das regiões periféricas para orientar a população. Ainda assim, não se veem como agentes de transformação: buscam problematizar o Estado e os usuários para garantir alimentação adequada e saudável a todos.

Para Guerra, compreender o que é alimentação e nutrição adequadas é um dos principais pontos para que os profissionais de saúde consigam ajudar a promover o direito humano à alimentação. “É a partir desta tomada de consciência política que poderemos melhor elaborar e realizar as ações de alimentação e nutrição na atenção primária à saúde por meio da nossa prática profissional cotidiana”, completa.

A pesquisa evidencia a necessidade de ampliar as noções que os agentes de saúde têm sobre os problemas relacionados à alimentação, podendo ter impactos até mesmo em políticas públicas. “Abordagens que proponham um olhar mais abrangente para os sistemas alimentares, nesta pesquisa e em estudos futuros, devem construir caminhos transformadores para a sociedade”, finaliza a cientista.

(Fonte: Agência Bori)