De 24 a 31 de outubro, será realizada a nova edição do festival Unfinished, evento romeno multidisciplinar de arte e criatividade considerado a melhor experiência online de 2020 pelo cientista-chefe de dados do The New York Times, Chris Wiggins. O prazo limite para inscrições é nesta quarta-feira, 20 de outubro. O festival chega à edição de 2021 com ampla programação online e gratuita de palestras, shows, performances e exibições artísticas, além de diversas sessões de interação entre os participantes e convidados. E, dessa vez, o Brasil estará presente em peso (da curadoria à lista de atrações) e já pensando em expandir a parceria em 2022.
Ao longo dos oito dias de festival serão realizadas atividades multidisciplinares, com artistas, intelectuais e profissionais de criatividade e tecnologia, abertas à participação online e gratuita do público de qualquer parte do mundo. Na grade de programação, destaca-se a forte presença brasileira. Até o momento, já há sete atrações nacionais confirmadas.
A psicanalista Maria Homem realizará uma performance inédita em memória ao também psicanalista, escritor e dramaturgo Contardo Calligaris, que era seu companheiro e faleceu em março deste ano. Também está confirmada uma performance ao vivo da jornalista, mixologista e antropóloga Néli Pereira. Entre as atrações musicais, estão os grupos Francisco El Hombre, Duo Àvuà (Bruna Black e Jota.Pê), Baby (Luê Soares e Mateo Ugarte) e Macul. O evento ainda terá a participação da quadrinista e ilustradora coreano-brasileira surda oralizada Ing Lee, que produzirá sketches traduzindo suas impressões ao longo do evento e os publicará na plataforma do festival.
Esses convidados chegam a um palco pelo qual já passaram diversos nomes internacionais de peso em edições anteriores, como a artista Marina Abramović; o diretor criativo da Louis Vuitton, Virgil Abloh; o cofundador da Pixar, Alvy Ray Smith e o fundador do Kickstarter, Perry Chen.
O festival Unfinished é realizado pela organização romena Eidos Foundation e patrocinado pelo Parlamento Europeu. Na edição de 2020, a primeira realizada totalmente online, o evento reuniu cerca de 4.000 participantes de 64 países.
De acordo com o fundador do festival, Cristian Movilă, a aproximação com os convidados e o público brasileiro vem ocorrendo com muita sinergia: “A comunidade criada em torno do Unfinished é plural, engajada e aberta ao diálogo. O Brasil é enorme em sua diversidade, suas múltiplas realidades e a versatilidade de temas e perfis de pessoas que agregam a essa comunidade”, afirma. Segundo ele, estão sendo construídas as bases para, em breve, ser possível realizar uma edição totalmente brasileira do evento.
Experiência brasileira | A expansão da presença brasileira no Unfinished não acontece por acaso. Por trás dela está a designer de experiências e curadora Isabella Nardini. A profissional – que nos últimos anos ganhou notoriedade por sua atuação como Head Global de Experiência na empresa MESA e pela criação da plataforma de relacionamentos Love is in the Cloud – atualmente assina o design de experiência e integra a curadoria do festival.
O primeiro contato de Nardini com o Unfinished ocorreu em 2019, quando participou como palestrante ainda na versão presencial. No ano seguinte, em meio à pandemia, foi nela que os fundadores pensaram para preparar o evento para o mundo digital. Foi então que Isabella se juntou de forma oficial ao time.
Não só Nardini costurou algumas das conexões brasileiras que tinham tudo a ver com o festival – abrindo portas para uma, até então, inesperada sinergia entre Romênia e Brasil –, como desenhou a experiência do festival como um todo ao lado do time romeno. “A principal característica do Unfinished é o senso de comunidade e eu cheguei com o desafio de traduzir essa interação, que antes era totalmente presencial, para uma forma remota”, diz Nardini.
Para ela, o segredo do bom resultado está em não tentar adaptar o evento físico a um novo meio. “Não se traduz o formato de evento para o online, mas sim a intenção, ou seja: quais são as trocas que eu quero gerar, por que estou reunindo essas pessoas e, aí sim, penso em como colocá-las em contato de forma remota”, explica.
Desse modo, o festival conta com algumas atividades-chave que são realizadas ao vivo para que todos participem ao mesmo tempo. Porém, tem também programações que são planejadas para se adaptarem ao fuso horário local e à rotina de cada participante. Uma aula de yoga ou qigong, por exemplo, ficará disponível de manhã cedo, sendo que isso significa que não será exibida simultaneamente em todas as partes do mundo.
Alguns dos momentos mais importantes do festival são as horas das refeições. Assim, almoço e café, por exemplo, foram pensados para que as pessoas se conectem e participem de salas de videochat. Nesses espaços, podem conversar enquanto fazem suas refeições ou intervalos e uma pergunta introdutória é proposta pela organização do festival a cada abertura de sala, facilitando a conexão. “Nesses momentos, são criadas salas de até quatro participantes; então acabamos promovendo uma interação muito próxima do que aconteceria se estivéssemos todos juntos, compartilhando refeições presencialmente”, explica Isabella.
Outra novidade do festival é o “social mood” – um modo que o participante pode ativar ou desativar no perfil que diz o quão sociável quer estar. Assim, pode ser pareado na plataforma com outra pessoa para entrar em uma ligação privativa a dois a qualquer hora durante o evento, como se estivesse conhecendo alguém pelos corredores.
São esses detalhes que garantem o engajamento. “Nas minhas experiências anteriores, aprendi o quanto pode ser poderoso criar ambientes e situações que favoreçam o comportamento e o comprometimento com um objetivo claro”, afirma. Ela lembra que o evento começa, para os participantes, no momento da inscrição. O festival é gratuito, mas, para garantir a vaga, é necessário preencher um longo questionário, cujas reflexões já são a porta de entrada para o evento.
Unfinished 2021 | A cada ano, o Unfinished, que já está em sua sexta edição, é realizado a partir de um tema principal, que dá o tom do evento. Independentemente do tema, o objetivo é sempre ser um evento plural e multidisciplinar que reúna pessoas com diferentes formações dispostas a construir conhecimento por meio da interação, despertar a curiosidade e promover a inovação. Para 2021, o tema proposto pela diretora artística Capucine Gros é Meia-noite, em uma metáfora a um período de transição que vivemos.
Segundo Capucine, uma referência utilizada para definir o tema foi o Relógio do Juízo Final, um relógio simbólico criado por um grupo de cientistas que faz a medição da vulnerabilidade do planeta quanto às catástrofes climáticas e nucleares desde 1940. “Vivemos muitas emergências atualmente, como a emergência ambiental, e a alusão ao tempo é uma forma de pensarmos quais são as esperanças de transformação que temos. Também é uma forma de olharmos para dentro, para o que acontece com cada um nessa noite metafórica”, diz.
A forma como esse tema inicial se traduz em cada atração do festival é muito variada e parte dos próprios convidados, que se apropriam a partir de diferentes pontos de vista.
Capucine exemplifica: “Alguns artistas aproveitaram o tema da meia-noite para transmitir suas participações a partir de espaços muito pessoais ou íntimos, como um quarto e uma sauna. Já a psicanalista Maria Homem saiu do lugar de escutar as dores das pessoas para colocar a sua própria dor em evidência, mostrando o que normalmente ninguém pode ver, por meio de uma performance inédita”.
Festival Unfinished 2021
Data: de 24 a 31 de outubro
Inscrição: unfinished.ro/applytoattend
Preço: gratuito. O “pagamento” é o tempo do participante, que deve preencher uma ficha de cadastro longa e pessoal.
Data limite para inscrição: 20 de outubro
Participações brasileiras
Maria Homem – psicanalista | Performance inédita em memória ao escritor, psicanalista e dramaturgo Contardo Calligaris, que também era seu companheiro e faleceu em março deste ano.
Néli Pereira – jornalista, mixologista e antropóloga | Realizará performance em que prepara drinks e lê notícias do dia.
Ing Lee – quadrinista e ilustradora | A profissional, que se define como coreano-brasileira surda oralizada, produzirá sketches ao longo do evento e os publicará na seção Galeria da plataforma.
Duo Àvuà (Bruna Black e Jota.Pê) – músicos | Apresentação musical no jardim.
Francisco El Hombre – músicos | Première de música do novo álbum, que está sendo gravado na Casa Francisco – espaço em que a banda está reunida no último mês, transmitindo diariamente sua evolução, numa espécie de reality show.
Baby (Luê Soares e Mateo Ugarte) – músicos | O casal de músicos apresenta a parceria que nasceu durante a pandemia, super sensual, gravada na intimidade do quarto.
Macul – músico | Na edição do ano passado, Macul era um dos participantes que ouvia e interagia com os convidados do festival Unfinished. Em uma pausa para o “café” – momento de intervalos e refeições em que os participantes se conectam em videochats –, ele conheceu a Sarah Roston, que era uma das artistas convidadas da edição. Desse encontro virtual, surgiram propostas de parceria e Macul, de participante, passou ao posto de convidado. Brasileiro radicado em Munique, na Alemanha, ele vai se apresentar com sua banda em uma exibição em que cada música é gravada em um cômodo de sua casa (do quarto ao terraço, cozinha, sala).
(Fonte: Blankspace Online)