Na última quinta-feira, dia 11, ocorreu o lançamento do livro Contrariando a Estatística: Genocídio, Juventude Negra e Participação Política, de Paulo César Ramos, na CONI – Comunidade Negra de Indaiatuba. O livro é derivado da dissertação de mestrado do autor defendida na UFSCar. Trata-se de um trabalho de reconstituição da formação da bandeira de luta em torno do genocídio da juventude negra, de seus primórdios à formação de um movimento nacional e de agenda de pressão por políticas públicas.
O livro já havia sido lançado na sede da editora Alameda em São Paulo no dia 5/11 e o evento contou com diversas personalidades militantes do Movimento Negro, além de acadêmicos e intelectuais interessados na temática. O convite da CONI foi resultante do fato de que o autor tem família e domicílio em Indaiatuba, ainda que esteja temporariamente morando na Filadélfia para um período de pós-doutoramento na Universidade da Pensilvânia, onde ministrará um curso sobre memória negra no próximo semestre.
O evento em Indaiatuba contou com a presença de estudantes, jornalistas, empresários e personalidades políticas locais. O coquetel de lançamento foi um oferecimento do Movimento Flor e Ser, que trabalha pela segurança alimentar de pessoas em situação de rua. Durante o lançamento, o livro foi vendido a R$40,00. Atualmente a obra pode ser adquirida através do site da Editora Alameda por R$58,00 (https://www.alamedaeditorial.com.br/sociologia/contrariando-a-estatistica-de-paulo-cesar-ramos).
Trecho da contracapa do livro, assinada pelo Prof. Valter Silvério, do Depto. de Sociologia da UFSCar:
“O livro que chega a um público para além dos universitários e acadêmicos é resultado de uma pesquisa de mestrado que acompanhou, a partir da criação do Movimento Negro Unificado, 1978, a violência socialmente exercida pelas instituições brasileiras contra a juventude. O trabalho, ao distinguir adolescência – o indivíduo como ser psíquico – de juventude – a leitura da experiência coletiva de um segmento e/ou grupo –, tem o mérito de descongelar a própria concepção vigente de juventude ao expandi-la para juventudes.
A juventude negra aparece, portanto, como sujeito na sua articulação com os processos sociais mais gerais e como resultado das relações sociais produzidas ao longo da história mediada pela experiência, individual e coletiva, de um grupo racializado em uma sociedade racialmente estruturada em dominância.
Assim, ao considerar o próprio descompasso da discussão brasileira que enfatizava a existência de juventude no singular, quando muito recortada pela origem social na chave da classe, o texto, por um lado, desafia a homogeneidade e, por outro lado, demonstra que aquele descompasso estimulou os próprios jovens negros/negras a encontrarem caminhos para canalizarem suas reivindicações e demandas em uma sociedade que se nega a reconhecer tanto a sua existência enquanto grupo quanto suas demandas especificas, em especial aquela denunciada internacionalmente, primeiro, por Abdias Nascimento (1978- 2002), em seu livro O Brasil na Mira do Pan-Africanismo contra o genocídio da população negra“.
Paulo César Ramos é doutor em sociologia pela USP, mestre e bacharel em sociologia pela UFSCar. Atualmente é pesquisador de pós-doutorado na Universidade da Pensilvânia. Também é pesquisador do Núcleo Afro do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento, coordenador do Projeto Reconexão Periferias da Fundação Perseu Abramo e pesquisador do Núcleo de Justiça Racial e Direito da Fundação Getúlio Vargas. Tem por temas prioritários relações raciais, violência, movimentos sociais e políticas públicas.
Recentemente, o livro De Bala em Prosa, para o qual o autor escreve um capítulo (Quantas Vidas Contam para um Genocídio), foi indicado para o Prêmio Jabuti na categoria crônicas/obras coletivas e figura entre os 10 finalistas ao Prêmio.
(Fonte: Ana Maura Tomesani)