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Galeria BASE anuncia mostra de Guilherme Almeida

São Paulo, por Kleber Patricio

“Família Guilherme Almeida”. Fotos: divulgação.

“Poeta, por que choras?

Que triste melancolia.

É que minh’alma ignora

O esplendor da alegria.

Este sorriso que em mim emana,

A minha própria alma engana.”

Carolina Maria de Jesus

A BASE abre sua agenda com a primeira individual, em circuito cultural, do artista plástico Guilherme Almeida  “Este sorriso que em mim emana”, com 35 trabalhos que incluem um recorte da série ‘Destruição dos Mercados I’, com pinturas sobre jornal, e ‘Destruição dos Mercados II e III’, com pinturas sobre tela, todos criados no período entre 2021 e 2022. A exceção fica por conta de ‘Calouros’, pintura de 2018 que abre a exposição. A curadoria é de Paulo Azeco e a coordenação artística de Daniel Maranhão.

“Basquiat”.

“Este sorriso que em mim emana”, trecho de um poema de Carolina Maria de Jesus que nomeia a exposição, não surge de forma aleatória, uma vez que o ‘sorriso’ ao qual se refere a autora sempre inspirou o artista: “Carolina é tudo que é meu trabalho. Ele é sobre isso, é o sorriso da vitória, aquele reflete e inspira as pessoas, aquele que tenta apagar mas um dia ele volta a ascender”. Suas pesquisas, que possuem como foco central sua experiência pessoal, oferecem o sorriso negro como uma arma contra os preconceitos pré-existentes arraigados na vivência diária dos povos. “Este Sorriso que Em Mim Emana é uma luz, é algo para falar sobre nós, nossa geração, a geração passada, conquistas e aprendizados”, explica o artista.

Segundo Paulo Azeco, “a exposição apresenta um paralelo interessante entre o caráter biográfico dos trabalhos e a representação de pessoas negras bastante conhecidas, vencedoras. A primeira obra da mostra –  e única anterior a série –, ajuda a compreender a prática do artista ao se valer da sua vivência para a criação do vocabulário estético. Apresenta jovens, assim como ele, transbordando alegria por entrarem na universidade pública.”

A série ‘Destruição de Mercados’, cuja pesquisa teve início em 2019, retrata diversas personalidades – Maju Coutinho, Emicida, Elza Soares, Mano Brown, Baco Exu do Blues, Basquiat, Dona Onete, Nath Finanças, Carolina Maria de Jesus, Daiane dos Santos e Viola Davis, dentre outros – que atingiram o sucesso em suas áreas de atuação e, com a sensibilidade de Guilherme Almeida, são retratados com ‘sorrisos’ preenchidos com ouro e prata. Em ‘Destruição de Mercados I’, “a série de retratos sobre jornal, a maior e principal pintura é um retrato orgulhoso de sua família, ecoando gratidão. Todos os outros são figuras que o artista considera como inspiração, os que representam que é possível sim um negro ser vitorioso e bem-sucedido em todas as áreas”, aponta o curador.

“Carolina Maria de Jesus”.

Sobre o processo de criação da série, em uma primeira etapa, as pinturas são executadas sobre jornal e nas subsequentes o artista retorna às telas, suporte utilizado anteriormente quando seu tema ainda era ligado ao abstracionismo. Quando abstrato, Guilherme era ligado às formas e cores. A pintura nunca é única. As tintas lançadas sobre o suporte escolhido são em várias camadas, tinta sobreposta a tinta, cor sobreposta a cor. O artista trabalha com contrastes tanto na escolha das cores como nos materiais escolhidos: “a cor mais clara brigando com a mais escura; do suporte barato com a tinta mais valorizada e assim vou construindo”, explica.

Guilherme Almeida é um artista que se sustenta de apontamentos advindos de sua própria visualidade do mundo e das pessoas que o habitam. Suas lembranças pessoais e alguns registros fotográficos como apoio são a base de suas criações. Não há rascunho. Algumas palavras são colocadas no papel para conduzir o tema e ele começa a pintar. O processo é ágil, rápido, com mais frescor, onde o tema é lapidado através da repetição onde nascem as séries. A pintura nunca é única.

O fazer arte para Guilherme Almeida possui metas e direcionamentos. Posicionar-se antecipadamente em relação à mensagem que seu trabalho vai transmitir é de suma importância. Ele tem plena consciência de que, mesmo não sendo um posicionamento novo, é diferente do que é esperado de um artista negro nas artes visuais: “eu quero falar das nossas vidas, coisas boas e ruins, mas de uma forma que traga o meu igual para revigorar, que levante a cabeça, que destrua as amarras”.

“D. Onete”.

“A Arte Contemporânea muda conforme seu tempo. Hoje o que está em voga (e as vezes fazem parecer que é até moda) é falar sobre as minorias, questões raciais, de gênero e sociais, como diria no melhor dialeto, ‘tá na boca do povo’. O que eu estou fazendo, simplesmente, é falar sobre mim, falar do que faço parte. Meu trabalho é verdade. Não sei se servirá para sempre para a Arte…” (Guilherme Almeida)

“Guilherme entendeu desde sempre, na sua família, que apesar da forma modesta que eles viviam, é possível sonhar e é possível ser feliz. E essa exposição transborda sorrisos e vitórias mesmo quando se chocam com feridas escravocratas ainda abertas. O conjunto aqui apresentado é de força criativa e estética únicas, mas acima de tudo é um ato revolucionário.” (Paulo Azeco)

O artista – Guilherme Almeida (Salvador, BA 2000) | Vive e trabalha em Salvador, BA. Graduado em Artes Plásticas pela Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia (UFBA), conduz sua produção em narrativas que evidenciam a composição do corpo negro no contexto contemporâneo. Morador do bairro Uruguay, periferia de Salvador (BA), sua produção recente é influenciada pela vida urbana e pela cultura pop, em especial o hip-hop. Desenvolve pinturas e trabalhos tridimensionais em suportes não convencionais como jornal, Eucatex e outros refugos. Seu discurso urgente e firmado, no cotidiano, produz imagens nas quais o corpo está repleto de poder e autonomia. Desde 2017 já participou de várias mostras coletivas e intervenções artísticas no Brasil e no exterior.

Exposição “Este sorriso que em mim emana”

Artista: Guilherme Almeida

Curadoria: Paulo Azeco

Coordenação Artística: Daniel Maranhão

Coordenação Administrativa: Leonardo Servolo e Cássia Saad

Montagem e expografia: Harpia Design e Produções

Abertura: 12 de março – sábado – das 12 às 17h

Período: de 15 de março a 23 de abril de 2022

Horário: de terça a sexta-feira, das 11hs às 19h; sábado, das 11h às 15h

Local: Galeria BASE

Endereço: Al Franca 1030, Jardim Paulista | São Paulo, SP

Telefone: (11) 3062-6230 | WhatsApp (11) 98327-9775/(11) 98116-6261

E-mail: contato@galeriabase.com.br.

(Fonte: Balady Comunicação)