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Mostra de Haegue Yang abre novo edifício da Pinacoteca de São Paulo

São Paulo, por Kleber Patricio

Haegue Yang, “Alien Colloquial” [Estrangeiro Coloquial], 2022 (detalhe do estudo).

A Pinacoteca de São Paulo inaugura seu novo edifício, a Pinacoteca Contemporânea, com a primeira grande mostra da artista sul-coreana Haegue Yang (1971) na América Latina. Destaque no cenário internacional de arte contemporânea, Yang estará na Galeria Praça com a exposição ‘Quase Coloquial’ a partir de 4 de março. Com curadoria de Jochen Volz, diretor geral da Pinacoteca de São Paulo, a mostra consiste em cinco grupos de trabalhos distintos, em suportes diversos, com base em larga pesquisa conceitual da artista reconhecida pela prática que passa por esculturas, instalações, obras em papel, fotografia, vídeo e escrita.

Haegue Yang combina e faz referência a elementos diversos, especialmente objetos fabricados industrialmente com itens cotidianos. De varais de roupas a sinos, venezianas a luzes, colagens a textos, a artista, em uma linguagem própria, busca libertar os objetos de sua rigidez e limitação. Desde o início da sua carreira, em meados dos anos 90, trabalha trazendo peças do espaço privado e doméstico para a esfera pública, não motivada pelo ato de deslocamento, mas interessada sobretudo no efeito estético.

O termo “quase”, no título da exposição, ‘Quase Coloquial’, poderia ser interpretado como algo que é parecido com o original, ainda que não seja igual. Inserido no título de diversos trabalhos da artista, o termo “quase” tem o poder de se opor a uma confiança absoluta ou dependência em categorizações como original, central, importante ou dominante. Ainda que o termo “coloquial” tenha uma definição aparentemente conhecida, ele pode adquirir um significado diferente dependendo do contexto. A artista se entende como alguém operando como parte de uma diáspora, em um processo contínuo. Para ela, a mostra é uma oportunidade para aprender mais sobre o espaço expositivo e para reconhecer de forma sincera e potente o seu lugar de fora. Ela pode nunca falar um idioma de uma maneira coloquial, mas a noção de coloquial adquiriu um novo sentido em sua vida artística, em sua incansável investigação sobre um entendimento coletivo sobre forma, funcionalidade e racionalidade.

A exposição reúne peças de destaque, como as cinco esculturas geométricas feitas de venezianas, um material recorrente na produção de Yang desde 2006. As obras na Pinacoteca são intituladas “Stacked Corners” [Cantos Empilhados] e fazem referência à obra “Espaços Virtuais: Cantos”, do artista brasileiro Cildo Meireles (1948). As esculturas expostas na Galeria Praça são suspensas, sendo três motorizadas, que giram em cima do espectador, e duas estáticas. A noção de movimento tem sido um dos interesses centrais no trabalho de Yang, seja um movimento real ou potencial; seja sugerindo uma dimensão política ou social. Todas as esculturas de ‘Stacked Corners’ apresentam cores como o violeta, verde, azul e o laranja, prestando homenagem à arquitetura modernista popular do Brasil. As obras complementam a parede pintada com pó xadrez vermelho que remete à construção vernacular brasileira.

Cada vez mais, seu trabalho assume uma dimensão performativa, com objetos móveis dispostos em certas coreografias. Yang é conhecida por incorporar características esculturais antropomórficas em suas obras, como nas peças de “Sonic Clotheshorses” [Varais sónicos]. Esculturas sobre rodas, compostas por varais de roupa cobertos por sinos, são imbuídas de energia potencial que é ativada quando são colocadas em movimento por performers. As peças escultóricas traduzem a fronteira entre a natureza inanimada do objeto e o vigor do corpo humano, com uma potencialidade de performatividade em inúmeras variações de formas visuais.

A artista Haegue Yang.

O processo artístico de Yang passa por uma pesquisa meticulosa, como fica evidente no papel de parede imersivo de “Alien Colloquial” [Estrangeiro Coloquial], obra desenvolvida especialmente para esta exposição, composta por grandes colagens abstratas. Cada colagem se debruça sobre um tema diferente, porém, seguindo uma estratégia recorrente na obra da artista de se preservar um certo hibridismo, há uma fragmentação dos motivos incorporados. Expandindo para temas como a arte e arquitetura, a natureza, a imigração, o crime, a música e a dança, a artista faz uso do conceito de “Estrangeiro Coloquial” como uma oportunidade para mergulhar em um estudo eclético e subjetivo sobre o Brasil, a partir da perspectiva de uma estrangeira.

Pensando sobre o que a artista chamou de “um território indomesticável”, ela convida o espectador a pensar sobre como os artistas viajam pelo tempo e pela geografia sem conquistar nada, em um ato de travessia muito distinto. Nas peças, Yang faz colagens em que reúne imagens de olhos, orelhas e mãos de personalidades como Tomie Ohtake, Mira Schendel, Lygia Clark, Cildo Meireles, Lina Bo Bardi, Oscar Niemeyer, Caetano Veloso e Maria Bethânia, formando um mosaico em que também observamos a Hello Kitty, paisagens, animais e frutas tropicais, instrumentos e máquinas, entre outros.

“Existem potentes diálogos entre a produção de Haegue Yang e a história da arte brasileira, que por sua vez conta com uma longa tradição de explorar a relação do objeto de arte com o cotidiano. A prática de Yang, porém, utiliza outras estratégias de transformação. Sua arte consegue apontar para estruturas sociais, culturais e econômicas, propondo linguísticas alternativas, bem como novas possibilidades de transposição, tradução e apropriação”, explica Jochen Volz, diretor geral da Pinacoteca.

A mostra conta também com a obra “Mesmerizing Mesh” [Malha hipnotizante] (2021), que tem sua ideia central construída a partir de orientações espirituais contra autoritárias, como o xamanismo. Embora sua pesquisa seja extensa, a produção de Yang gira em torno da materialidade do papel. O hanji, papel feito artesanalmente a partir da casca da amoreira, pode ser encontrado em diversas tradições artísticas ou ritualísticas em lugares como Japão e China. Para a produção inicial de ‘Mesmerizing Mesh’, a artista se concentrou em motivos e objetos do xamanismo, xintoísmo e rituais folclóricos usados para criar objetos reservados para ritos de purificação, cura ou exorcização. Ultimamente, as colagens foram exibidas em cenários multicoloridos tingidos à mão e gradualmente combinadas com motivos vegetais ou animais extraídos da tradição Eslava de wycinanki. Ao dobrar, cortar e perfurar hanji, Yang examina uma metodologia compartilhada entre artistas e xamãs de dar “saltos místicos” da matéria terrena para algo além.

Duas obras textuais de Yang completam a mostra: Uma cronologia de dispersão fundida – “Duras e Yun” (2018) e Uma cronologia de dispersão fundida – “Duras e Orwell” (2021). Os textos reúnem três personalidades históricas: a autora francesa Marguerite Duras (1914-1996), o compositor Isang Yun (1917-1995) e o autor inglês George Orwell (1903-1950). Yang faz um exame cronológico de incidentes na vida de três pessoas envolvidas/entrelaçadas com a colonização de países asiáticos e a Guerra Fria, entre outros eventos históricos. As duas obras oferecem uma oportunidade de conexão com as vidas complexas e atraentes dessas personalidades históricas que, ao mesmo tempo, refletem sobre a artista e seus complexos laços com a Ásia e a Europa. Os textos estão disponíveis via QR code e servem de material secundário para a exposição.

A exposição “Quase Coloquial” tem patrocínio de B3 – A bolsa do Brasil, na cota Platinum, e da Verde Asset Management, na cota Prata.

Sobre a artista

Haegue Yang é uma das artistas mais celebrados do nosso tempo, com uma larga pesquisa conceitual e trabalhos que incluem instalações, fotografia, esculturas, vídeo e texto. Respondendo ao espaço de exibição, a artista cria site-specifics que incorporam tanto a arquitetura do espaço expositivo como o material coletado no contexto. Seu refinado e particular tratamento da materialidade, combinado com o elegante senso de espaço e atmosfera, contribuem para suas instalações envolventes e ressonantes.

A artista participou da Bienal de São Paulo em 2006, apresentando peças como “Series of Vulnerable Arrangements – Blind Room” (2006), “Video Trilogy” (2004-2006) e “Storage Piece” (2004), agora consideradas entre seus trabalhos formativos mais significativos.

Yang foi a vencedora do prêmio Wolfgang Hahn Prize da Gesellschaft für Moderne Kunst, Museu Ludwig, Colônia em 2018 e o 13º Prêmio Benesse na Bienal de Singapura, em 2022. Seu trabalho foi apresentado em exposições solo nas seguintes instituições: MoMA, Nova York (2019); The Bass, Miami Beach (2019); South London Gallery (2019); Museum Ludwig, Colônia (2018); KINDL – Centro de Arte Contemporânea, Berlim (2017); Museu Nacional de Arte Moderna, Centro Georges Pompidou, Paris (2016); Leeum Museum of Art, Seul (2015); Museu Solomon R. Guggenheim, Nova York (2015); Tate Modern, Londres (2012) e Pavilhão Coreia do Sul, 53ª Bienal de Veneza (2009), entre outros.

Serviço:

Quase Coloquial

4.3.2023 a 28.5.2023

Pinacoteca Contemporânea – Galeria Praça

Funcionamento: de quarta a segunda, das 10h às 18h

Ingresso: inteira, R$20,00 – meia: R$10,00

Nos primeiros 30 dias, a entrada para visitação das exposições não será cobrada.

(Fonte: Pinacoteca de São Paulo)