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‘Overcoming Gravity’: Techne Sphere Leipzig apresenta desenhos originais da arquiteta Lina Bo Bardi e objetos de vidro de Veronika Kellndorfer

Leipzig, Alemanha, por Kleber Patricio

Esfera de concreto e vidro projetada por Oscar Niemeyer em 2011 no complexo industrial Techne Sphere Leipzig, na Alemanha. Foto: Margret Hoppe/Sebastian Stumpf.

Com o título Overcoming Gravity, a Techne Sphere Leipzig expõe, a partir de 9 de novembro de 2024, desenhos originais da arquiteta ítalo-brasileira Lina Bo Bardi, além de objetos de vidro e fotografias da artista alemã Veronika Kellndorfer que dialogam com a obra de Bo Bardi. A mostra acontece sob o patrocínio da Embaixada do Brasil em Berlim e em parceria com o Instituto Lina Bo e P. M. Bardi de São Paulo e a Fundação Tchoban, Museu de Desenho de Arquitetura em Berlim.

Quarenta desenhos originais de Lina Bo Bardi são apresentados destacando sua abordagem única e seu processo criativo. A exibição inclui esboços de seis de suas obras mais icônicas no Brasil: Casa de Vidro, Solar do Unhão, MASP, Museu de Arte de São Paulo, Teatro Oficina, SESC Pompeia e Casa do Benin. As obras de Bo Bardi, que revelam sua preferência por materiais como vidro e concreto, fazem parte do modernismo arquitetônico brasileiro. Os desenhos, principalmente coloridos, demonstram sua visão poética e livre na criação de arquiteturas como obras de arte total. No mezanino do espaço de exposição, Veronika Kellndorfer apresenta serigrafias em vidro reflexivo, frutos de sua pesquisa fotográfica sobre Lina Bo Bardi. As peças de grande formato são exibidas de forma independente no espaço criando sobreposições entre formas orgânicas e arquitetônicas, entre obra e ambiente, bem como entre reflexão e transparência.

Casa de Vidro. Foto: @veronikakellndorfer.

A exposição reflete o efeito de leveza presente na arquitetura de Lina Bo Bardi e nos trabalhos de Veronika Kellndorfer, com um diálogo ideal com a Sphere de Oscar Niemeyer, incitando o público a explorar a leveza de formas no espaço, na arquitetura e nas artes visuais.

A visão inovadora de Lina Bo Bardi também se reflete nas peças de mobiliário que ela projetou, caracterizadas por elegância e funcionalidade. Três de suas icônicas cadeiras — Bolas de Latão, Tripé e a cadeira de balanço — foram reeditadas com autorização do Instituto Bardi e são produzidos pela empresa brasileira ETEL design complementando a exposição.

Esfera de concreto e vidro projetada por Oscar Niemeyer em 2011 no complexo industrial Techne Sphere Leipzig, na Alemanha. Foto: @tillmann_franzen.

Lina Bo Bardi (1914–1992), nascida Achillina di Enrico Bo em Roma, emigrou para o Brasil em 1946 com seu marido, Pietro Maria Bardi. O auge de seu reconhecimento veio em 2021, quando foi homenageada postumamente com o Leão de Ouro pela Bienal de Arquitetura de Veneza em celebração à sua obra. Em 2024, na 60ª Bienal Internacional de Veneza, suas obras também foram expostas. Lina Bo Bardi via a arquitetura como uma obra de arte completa, expressão que aparece em seus desenhos de forma poética, lúdica e natural. Em sua arquitetura, ela criou uma fusão entre estrutura e leveza; suas construções icônicas, como a Casa de Vidro, o Museu de Arte de São Paulo (MASP) e o SESC Pompeia, parecem flutuar no espaço apesar de suas estruturas imponentes. Com o uso de espaços abertos, elementos de vidro e estruturas de concreto, ela criou lugares que, apesar de sua presença física, aparentam leveza visual.

Assim, Bo Bardi construiu um diálogo entre o edifício e seu entorno, criando uma relação contínua entre natureza, pessoas e espaço. Suas obras são espaços de socialização projetados para promover o potencial social e cultural da arquitetura na sociedade. Um exemplo de sua abordagem radical e inovadora à arquitetura de museus e apresentação de arte são os suportes de concreto, os cavaletes de cristal que ela projetou para o MASP que possibilitam uma apresentação livre das pinturas. Como se estivessem flutuando no espaço, as obras parecem suspensas — um efeito que redefine tanto a importância das obras de arte quanto o papel do espectador.

MASP – Museu de Arte de São Paulo. Foto: Divulgação.

Veronika Kellndorfer (*1962) explora, como artista visual, há mais de dez anos, a memória cultural da sociedade brasileira por meio de suas arquiteturas. Na sua exposição individual de 2015 na Casa de Vidro, Kellndorfer posicionou suas obras em vidro sobre os suportes de concreto de Lina Bo Bardi criando um efeito flutuante das peças no espaço. Essa apresentação se reflete nos vidros interagindo com a luz e refletindo o ambiente, dissolvendo a linha entre realidade e reflexão. A publicação Wild Windows é dedicada aos projetos brasileiros de Veronika Kellndorfer. Foi lançada em 2023 pela Spector Books. www.spectorbooks.com/book/veronika-kellndorfer-wild-windows.

Veronika estudou pintura e história da arte, em 1982, na Universidade de Artes Aplicadas de Viena e, de 1983 a 1990, na Universidade de Artes de Berlim. Atualmente, ela vive e trabalha em Berlim. www.kellndorfer.com

Lina Bo Bardi, Casa de Vidro, vista e perspectiva, caneta esferográfica sem data. Instituto Lina Bo e P. M. Bardi, Morumbi, Sao Paulo, BR.

Tereza de Arruda é historiadora de arte e curadora, vivendo desde 1989 entre São Paulo, Brasil, e Berlim, Alemanha. Como curadora, atua na Europa, América do Sul, Estados Unidos e Ásia, tendo organizado exposições monográficas para artistas como Lina Bo Bardi, Veronika Kellndorfer, Ilya e Emilia Kabakov, Chiharu Shiota, Sigmar Polke, Yang Shaobin e Clemens Krauss, além de exposições internacionais em torno de temas socioculturais. Como curadora convidada ou cocuradora, colabora com eventos como a Bienal de Havana, Cuba; a Bienal Internacional de Curitiba, Brasil; a Bienal Internacional de Arte Cerâmica em Jingdezhen, China; e a Kunsthalle Rostock. www.p-arte.com

A Techne Sphere Leipzig inclui a Niemeyer Sphere, concebida pelo arquiteto brasileiro Oscar Niemeyer (1907–2012). A ideia surgiu a partir de uma carta enviada por Ludwig Koehne, fundador da Techne Sphere Leipzig, que propôs Leipzig como local para o projeto. Pouco tempo depois, nasceu a ideia de um edifício em forma de torre com uma esfera no topo. Em estreita colaboração com Jair Valera, diretor do escritório de Oscar Niemeyer, a construção da esfera foi concluída em 2020.

Lina Bo Bardi, MASP – Museu de Arte de São Paulo, perspectiva do edifício com explicação dos pórticos e da subestrutura (ca.1957-1968). Instituto Lina Bo e P. M. Bardi, Morumbi, Sao Paulo, BR.

A transparência da cúpula de vidro confere à esfera uma qualidade imaterial, criando um sentido de atemporalidade e leveza ao interagir com o céu e a arquitetura ao redor. A galeria de arte ao lado e o histórico Halle 9 no terreno industrial oferecem espaço para exposições de artistas internacionais, cujas obras exploram as relações entre arte, espaço e arquitetura. www.technesphere.de

O Instituto Lina Bo e P. M. Bardi, conhecido como Instituto Bardi/Casa de Vidro, foi fundado pelo casal Pietro e Lina em 1990 para promover o estudo e a pesquisa nas áreas de arquitetura, design, urbanismo e arte no Brasil. A Casa de Vidro, a primeira construção da arquiteta ítalo-brasileira Lina Bo Bardi e residência dos Bardi por mais de 40 anos, tornou-se ícone da arquitetura moderna, representando de forma atemporal o pensamento inovador e o estilo de vida do casal: simples, engajado, diversificado e cheio de beleza. Projetada por Lina Bo Bardi em 1950 e tombada como patrimônio histórico em 1987, a Casa de Vidro abriga atualmente a sede do Instituto, além da coleção do casal. www.institutobardi.org.br/en/

Serviço:

Data: De 9 de novembro de 2024 a 26 de janeiro de 2025

Horários de visitação: Sábados e domingos, das 15h às 18h

Curadora: Tereza de Arruda

Arquitetura da exposição: Ludwig Koehne.

(Com Uiara Andrade/Agência Catu)