O Museu de Arte Moderna de São Paulo está apresentando o 38º Panorama da Arte Brasileira: Mil graus, exposição com curadoria de Germano Dushá e Thiago de Paula Souza e curadoria-adjunta de Ariana Nuala cujo título evoca a ideia de um ‘calor-limite’ onde tudo se transforma, fazendo referência às condições climáticas e metafísicas intensas que desafiam e conduzem a processos inevitáveis de transmutação. Nesta edição, a mostra bienal do MAM apresenta 34 artistas de 16 estados brasileiros. Acesse aqui mais informações sobre a lista de artistas.
Em função da reforma da marquise do Parque Ibirapuera no trecho em que o MAM está sediado, esta edição do Panorama será apresentada no Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo, instituição parceira e que divide uma mesma origem com o MAM. A exposição vai ocupar partes do térreo e o terceiro andar do MAC USP com mais de 130 obras, sendo 79 inéditas, realizadas para o 38º Panorama. “Faz alguns anos que o MAM tem estabelecido parcerias com as instituições do eixo cultural do Parque Ibirapuera. Realizar o 38º Panorama da Arte Brasileira do MAM no MAC, além de uma aproximação histórica entre as duas instituições, é um momento de integração e soma de esforços em benefício da arte”, comentam Elizabeth Machado e Cauê Alves, respectivamente presidente e curador-chefe do MAM.
Para José Lira, diretor do MAC USP, “é com grande satisfação que o Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo abre suas portas ao 38o Panorama da Arte Brasileira, realizado pelo Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM). Parcerias institucionais para realização de exposições, eventos e acordos de cooperação sempre fizeram parte da história do MAC USP, e, desde 2018, quando da coincidência entre os 55 anos do MAC e os 70 anos do MAM, a aproximação entre os dois museus se intensificou.”Mil graus
A proposta curatorial do 38º Panorama da Arte Brasileira é elaborar criticamente a realidade atual do Brasil sob a noção de calor-limite — conceito que alude à uma temperatura em que tudo derrete, desmancha e se transforma. O projeto busca traçar um horizonte multidimensional da produção artística contemporânea brasileira estabelecendo pontos de contato e contraste entre diversas pesquisas e práticas que, em comum, compartilham uma alta intensidade energética.
A pesquisa da curadoria foi norteada a partir de cinco eixos temáticos: Ecologia geral, Territórios originários, Chumbo tropical, Corpo-aparelhagem e Transes e travessias. Os eixos não funcionam como núcleo ou segmentos da exposição, mas sim como fios condutores que instigam reflexões e leituras traçando possíveis relações entre os trabalhos a partir dessas perspectivas.
Em Ecologia geral, são destacadas noções ecológicas e práticas ambientais ampliadas que se orientam por uma visão de interconectividade total. Já em Territórios originários, estão narrativas e vivências de povos originários, quilombolas e outros modos de vida fora da matriz uniformizante do capital capazes de refletir visões alternativas sobre a invenção e a atual conjuntura do Brasil. Chumbo tropical, por sua vez, trará leituras críticas que subvertem imaginários e representações do Brasil colocando em xeque aspectos centrais da identidade nacional.Corpo-aparelhagem é a linha que busca evidenciar intervenções experimentais e reflexões sobre a contínua transmutação corpórea dos seres e das coisas, com seus hibridismos e suas inter-relações, enquanto Transes e travessias aborda conhecimentos transcendentais, práticas espirituais e experiências extáticas que canalizam os mistérios vitais.
As obras
O corpo formado por 34 artistas e coletivos apresenta obras que abordam questões ecológicas, históricas, sociopolíticas, tecnológicas e espirituais e utilizam tanto tecnologia avançada quanto materiais orgânicos, como o barro.
Advânio Lessa construiu uma série inédita de esculturas que aludem a uma rede formada por diferentes polos e conectadas em diferentes espaços: o MAC USP, o Museu Afro Brasil Emanuel Araujo, o Caserê e a UMAPAZ. Adriano Amaral criou uma instalação comissionada para o térreo do MAC USP, a obra Cabeça-d’água (2024), uma estrutura arquitetônica, espécie de cápsula octogonal que traz em suas paredes peças inéditas da série Pinturas protéticas (2022).Ana Clara Tito apresenta uma instalação comissionada que ocupa o piso do campo expositivo com uma composição de peças em diferentes escalas, como uma ecologia rizomática. Com a obra comissionada Ascendendo o silêncio (2024), Antonio Tarsis toma o centro de uma das alas do campo expositivo.
Davi Pontes apresenta um trabalho comissionado no qual segue elaborações anteriores, envolvendo a criação de um repertório em conjunto com uma dupla de performers. Um registro documental inédito do centro espiritual e das obras de Dona Romana, líder espiritual da Serra de Natividade, uma das cidades mais antigas do Tocantins, será exibido em larga escala no campo expositivo.
Com duas obras inéditas, frutos de processos anteriores, mas que culminaram em projetos comissionados para o 38º Panorama, Frederico Filippi aborda a colisão e o atrito como ferramentas conceituais para reelaborar criticamente o imaginário social do Brasil e da América do Sul sob as marcas indeléveis do capitalismo avançado. Gabriel Massan apresenta um novo desdobramento de sua obra Baile do terror (2022-2024), no qual traça um paralelo entre a escalada de tensões e violências em âmbito global e os traumas da ‘guerra às drogas’ no eixo Rio-São Paulo.Ivan Campos apresenta a obra que marcou sua trajetória como seu projeto mais desafiador: uma pintura sem título (2008 – 2010) de sete metros horizontais que levou um ano para ser concluída e traz os principais aspectos de sua obra. Em tons de verde e azul, o artista dá vida a uma selva intrincada onde tudo está em movimento.
Falecido durante a concepção do 38º Panorama, Jayme Fygura é o único artista não vivo a compor a exposição e sua participação é uma homenagem à sua trajetória e à sua obra, que combina a pintura com a tradição da escultura em metal, da poesia marginal, do rock e das denúncias de opressões cotidianas.
A colaboração entre Jonas Van e Juno B. resultou na videoinstalação imersiva Visage (2024), uma experiência ambiental envolvente que combina esculturas e mobiliários feitos com peças automobilísticas, luz, som e vídeo. José Adário dos Santos traz ao 38º Panorama um conjunto de esculturas que se referem a divindades e entidades das religiões de matriz africana, como Ogum Oniré, Oxossi Odé, Agué, Padilha e Exu, e Joseca Mokahesi Yanomami apresenta dez obras inéditas.Lais Amaral participa com duas pinturas da série Como um zumbido estrelar, um pássaro no fundo do ouvido, Sem título I e Sem título II, ambas de 2024, enquanto Labō e Rafaela Kennedy apresentam uma série de fotografias em que mergulham no entrelaçamento entre fenômenos naturais e cenários urbanos do Norte do Brasil.
Lucas Arruda exibe uma série de pinturas que sugerem um espaço entre o real e o imaginário, com paisagens que caminham entre o figurativo e o abstrato. Com uma obra comissionada, Marcus Deusdedit desdobra sua investigação sobre a edição de objetos, reformulando um equipamento de exercício físico para discutir questões sociais e políticas.
Marina Woisky apresenta uma instalação formada por uma série de peças inéditas, nas quais toma como ponto de partida as ilustrações científicas e representações idealizadas, que combinam diferentes eras e regiões para demonstrar o movimento ou a evolução da vida biológica na superfície terrestre.Maria Lira Marques leva uma série com mais de dez desenhos sobre pedras e Marlene Almeida apresenta duas obras com dinâmicas distintas: Derrame (2024), uma instalação inédita feita com recortes de algodão cru tingidos com pigmentos originários do basalto e rocha vulcânica, e Tempo voraz II (2012), obra em que a artista reflete sobre questões existenciais diante da fugacidade da vida. O grupo MEXA traz, em apresentação única, a peça inédita no Brasil A Última Ceia (2024).
Mestre Nado, como ficou conhecido Aguinaldo da Silva, apresenta três obras inéditas, esculturas de grande escala — raras na sua produção — que parecem espécies de torres de sopro remetendo a instrumentos como a gaita de foles. Melissa de Oliveira apresenta duas obras ligadas a suas vivências no universo do ‘grau’. As imagens, produzidas com conhecidos e familiares, retratam a prática de empinar moto em manobras exibicionistas e arriscadas.
Noara Quintana exibe duas obras inéditas comissionadas para o 38º Panorama. A primeira, Satélite esqueleto âmbar (2024), da série Futuro fóssil, configura uma reprodução de um objeto espacial gravitando sobre o campo expositivo. Na segunda obra, intitulada Gengiva de fogo (2024), uma grande massa rubra e disforme paira sobre nossas cabeças. Rafael RG apresenta duas obras comissionadas que se conectam e se complementam em suas naturezas: uma objetual e outra performática. Em uma delas, De quando o céu e o chão eram a mesma coisa (2024), o artista resgata grafias imemoriais inspiradas na observação do céu.Rebeca Carapiá apresenta uma grande peça comissionada para a exposição que remete tanto a uma escrita urbana quanto a códigos de outros tempos. Solange Pessoa traz à exposição uma constelação de quase uma dúzia de esculturas de pedra-sabão e um conjunto composto por três peças de cerâmica e lã (2019-2024), que remetem a fragmentos de rochas escuras, que guardam a potência de tempos imemoriais.
O povo Akroá Gamella, em colaboração com Gê Viana e Thiago Martins de Melo, participa sob o nome de Rop Cateh – Alma pintada em Terra de Encantaria dos Akroá Gamella e exibe um grande painel multimídia que expressa a identidade e espiritualidade articuladas pela comunidade. Com um conjunto de vinte esferas cerâmicas com marcações gráficas feitas com óxido de ferro, Sallisa Rosa dá vida a seu exercício contínuo de vínculos com a terra e os territórios.
Paulo Nimer Pjota apresenta uma obra inédita, em cinco telas, na qual cria um mar de chamas atravessado por raios de sol difusos em que animais e seres fantásticos se misturam a lendas e elementos da natureza-morta de diferentes culturas. Paulo Pires participa com quatro obras que denotam seu estilo e, simultaneamente, a versatilidade de suas composições. Entre os trabalhos, estão a escultura de grande formato Os desejos da pedra (2023 -2024) e O namoro da pedra (2021).A Tropa do Gurilouko, uma turma de ‘bate-bolas’ criada em 2023 no bairro carioca de Campo Grande, marca sua presença no 38º Panorama por meio da indumentária criada para o Carnaval de 2024 e de uma saída do grupo por São Paulo, nas imediações do MAC USP e do Parque Ibirapuera.
Zahỳ Tentehar apresenta sua pesquisa mais recente por meio da videoperformance Ureipy (Máquina Ancestral) (2023) e Zimar, como é chamado Eusimar Meireles Gomes, apresenta uma série de máscaras oriundas de sua ligação com a Bumba meu boi — manifestação cultural de maior importância na região onde vive, a Baixada Maranhense.
Projeto expográfico
Nesta edição em que, pela primeira vez, o Panorama da Arte Brasileira acontece fora da sede do MAM, o projeto expográfico assinado pelo arquiteto Alberto Rheingantz foi repensado e adaptado para os espaços do MAC USP. O objetivo foi assimilar tanto os conceitos curatoriais quanto as questões visuais e formais das obras em exposição. A adaptação envolveu o desafio de conectar os pavimentos do MAC que recebem o 38º Panorama – parte do térreo e todo o terceiro andar – espaços não contíguos, o que levou à adoção de três partidos expográficos principais.
O primeiro partido é a ocupação espelhada entre as alas A e B do edifício com elementos que se complementam em cada uma. O segundo é o uso de painéis metálicos como base estrutural, permitindo variações de combinações e materiais em suas superfícies. Por fim, o terceiro partido envolve a instalação de obras comissionadas em locais estratégicos, incluindo sob a marquise de entrada e em áreas específicas do museu.Para ampliar suas formas de uso e flexionar as possibilidades de exibição das obras bidimensionais, foi definida uma cartela de materiais para as superfícies expositivas e foram consideradas opções para estruturas complementares aos painéis principais, desempenhando a função de ‘próteses’ que transformam sua configuração original. Há, também, dispositivos expográficos e mobiliários feitos com metal e madeira desenhados para atender diversas demandas específicas.
Programação pública | Tradicionalmente, o Panorama da Arte Brasileira promove uma série de atividades abertas ao público. São ativações de obras e apresentações de performances, conversas com curadores, visitas mediadas com educadores do MAM e outras ações educativas. A agenda é divulgada mensalmente no site e redes sociais do MAM.
Projetos especiais
A proposta do 38º Panorama da Arte Brasileira envolve uma série de projetos especiais, são desdobramentos da conceituação de Mil graus em diferentes plataformas e linguagens.
O ambiente 3D, que estará acessível de forma gratuita a partir de 18 de novembro, visa ampliar o alcance da mostra e criar um espaço de experimentação curatorial. A ideia não é reproduzir no digital os espaços da exposição física, mas sim trazer um espaço imaginado pelos curadores e proporcionar uma experiência imersiva, que desafia a percepção da materialidade e reflete criticamente sobre a integração das infraestruturas digitais no que entendemos como ‘mundo real’. Composta por obras digitais e representações tridimensionais de criações físicas de alguns dos artistas participantes, reúne vídeos, objetos 3D e sons que formam um espaço de interação. Os visitantes podem navegar livremente, explorando novos imaginários e conexões que questionam as convenções tradicionais de produção e interpretação de imagens no campo artístico. A proposta também reflete o dinamismo e a criatividade cibernética do Brasil contemporâneo.
Disponível nos principais tocadores, o podcast Mil graus apresenta, em seis episódios, os temas abordados no 38º Panorama da Arte Brasileira e contar a história de alguns dos coletivos e artistas que integram esta edição da mostra bienal do MAM. O objetivo é apresentar histórias e discussões sobre arte com temas atuais, mostrando como elas refletem questões sociais, políticas e culturais da contemporaneidade.
Em uma série de cinco episódios disponível nas redes sociais do MAM, o público pode conhecer mais a prática artística e o ateliê de Advânio Lessa, Adriano Amaral, Marina Woisky, Marlene Almeida e Zimar. A série revela conexões singulares entre os processos e os territórios em que cada um dos artistas vive e trabalha.
Em uma colaboração inédita com a Hang Loose, o MAM lança uma linha de produtos do 38º Panorama. Saiba mais aqui. Mais detalhes sobre cada projeto serão divulgados em breve.
Artistas
Adriano Amaral (SP) Marlene Almeida (PB)
Advânio Lessa (MG) Melissa de Oliveira (RJ)
Ana Clara Tito (RJ) Mestre Nado (PE)
Antonio Tarsis (BA) MEXA (SP)
Davi Pontes (RJ) Noara Quintana (SC)
Dona Romana (TO) Paulo Nimer Pjota (SP)
Frederico Filippi (SP) Paulo Pires (MT)
Gabriel Massan (RJ) Rafael RG (SP)
Ivan Campos (AC) Rebeca Carapiá (BA)
Jayme Fygura (BA) Rop Cateh – Alma pintada em
Jonas Van & Juno B. (CE) Terra de Encantaria dos
José Adário dos Santos (BA) Akroá Gamella (em
Joseca Mokahesi Yanomami (RR) colaboração com Gê Viana
Labō (PA) & Rafaela Kennedy (AM) e Thiago Martins de Melo) (MA)
Laís Amaral (RJ) Sallisa Rosa (GO)
Lucas Arruda (SP) Solange Pessoa (MG)
Marcus Deusdedit (MG) Tropa do Gurilouko (RJ)
Maria Lira Marques (MG) Zahỳ Tentehar (MA)
Marina Woisky (SP) Zimar (MA)
Sobre o Panorama da Arte Brasileira do MAM São Paulo | A série de mostras Panorama da Arte Brasileira foi iniciada em 1969 e coincidiu com a instalação do MAM São Paulo em sua sede na marquise do Parque do Ibirapuera. As primeiras edições do Panorama marcaram a história do museu por terem contribuído direta e efetivamente na formação de seu acervo de arte contemporânea. Ao longo das 37 mostras já realizadas, o Panorama do MAM buscou estabelecer diálogos produtivos com diferentes noções sobre a produção artística brasileira, nossa história, cultura e sociedade. Realizado a cada dois anos, sempre produz novas reflexões acerca dos debates mais urgentes da contemporaneidade brasileira.
Sobre o MAM São Paulo
Fundado em 1948, o Museu de Arte Moderna de São Paulo é uma sociedade civil de interesse público, sem fins lucrativos. Sua coleção conta com mais de cinco mil obras produzidas pelos mais representativos nomes da arte moderna e contemporânea, principalmente brasileira. Tanto o acervo quanto as exposições privilegiam o experimentalismo, abrindo-se para a pluralidade da produção artística mundial e a diversidade de interesses das sociedades contemporâneas. O MAM tem uma ampla grade de atividades que inclui cursos, seminários, palestras, performances, espetáculos musicais, sessões de vídeo e práticas artísticas. O conteúdo das exposições e das atividades é acessível a todos os públicos por meio de visitas mediadas em libras, audiodescrição das obras e videoguias em Libras. O acervo de livros, periódicos, documentos e material audiovisual é formado por 65 mil títulos. O intercâmbio com bibliotecas de museus de vários países mantém o acervo vivo.
Localizado no Parque Ibirapuera, a mais importante área verde de São Paulo, o edifício do MAM foi adaptado por Lina Bo Bardi e conta, além das salas de exposição, com ateliê, biblioteca, auditório, restaurante e uma loja onde os visitantes encontram produtos de design, livros de arte e uma linha de objetos com a marca MAM. Os espaços do museu se integram visualmente ao Jardim de Esculturas, projetado por Roberto Burle Marx e Haruyoshi Ono para abriga obras da coleção. Todas as dependências são acessíveis a visitantes com necessidades especiais.
Serviço:
38º Panorama da Arte Brasileira: Mil graus
Curadoria: Germano Dushá, Thiago de Paula Souza
Curadoria-adjunta: Ariana Nuala
Período expositivo: 5 de outubro de 2024 a 26 de janeiro de 2025
Realização: Museu de Arte Moderna de São Paulo
Exibição em: Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo, MAC USP
Locais: térreo e terceiro andar
Funcionamento: terça a domingo, das 10h às 21h
Gratuito
Mais informações em mam.org.br/38panorama | comunicacao@mam.org.br.
(Com Anne Tavares/MAM São Paulo)