Um criativo seminal, autor de uma obra marcada por grande liberdade artística, Leo Laniado transita entre a arte e o universo criativo da arquitetura e do paisagismo, experimentando cores, pigmentos, texturas e outras formas. Desenha e colore desde a década de 1960 e, agora, divide com o público o resultado de uma busca da vida inteira na exposição “Impertinência Permanente”, individual em cartaz a partir da terça-feira, 22 de março de 2022, n’A Estufa.
Com curadoria da arquiteta Silvia Prado Segall e texto da crítica de arte Silvia Meira, a exposição reúne 80 obras inéditas, frutos de cinco anos intensos de produção, nos quais Leo deu vida a mais de cinco mil desenhos gerados por ferramentas digitais. Todas as obras desta exposição também estarão disponíveis em NFT. “É relevante notar que, apesar de incorporar uma transformação nos meios que emprega em sua criação artística, Leo Laniado mantém aparente sua investigação da matéria crua da cor dos pigmentos, assim como o traço de seus desenhos”, reflete Meira.
Laniado questiona as semânticas da cor e evoca a memória de cenas por meio de paisagens, retratos e ilustrações eróticas que compõem o enredo da exposição. São desenhos em tons ocres, carregados de muita história e permeados por “coisas que estavam lá atrás e estão ressurgindo, voltando agora”, como explica o artista.
“Marcadas pela herança do desenho, pelo arranjo de elementos que compõe a imagem no âmbito da apresentação formal, suas práticas artísticas valem-se de modos variados de expressão, baseadas nas relações convencionais do decoro, na elegância e no requinte do belo, estendendo-se ao domínio do sensível”, completa a crítica Silvia Meira.
Ele esperou cerca de 50 anos para trazer suas criações ao público e hoje, aos 77 anos, acha que é uma impertinência permanente ser um artista – brincadeira que originou o título da mostra. Deu diversas voltas até, enfim, enveredar-se pelo território onde acredita realmente se encontrar: o da arte.
De inquietações a impertinências
Nascido no Cairo, Egito, e de origem judaica, Laniado migrou com a família para o Brasil em 1953, aos oito anos de idade, devido ao movimento nacionalista no país natal. Dentro desse contexto histórico, conta que jamais imaginaria que um judeu pudesse ser artista.
No Brasil, estudou em uma escola inglesa até 1958. Ganhou uma bolsa universitária na Universidade Columbia, nos Estados Unidos, para cursar economia, mas acabou, nesse período, entrando cada vez mais em contato com a arte. Por lá, participou de protestos contra a guerra do Vietnã e ficou imerso no movimento de contracultura dos artistas da década de 1970, experiência que mudaria de vez sua forma de ver o mundo.
Ao voltar de Nova York, Laniado atuou no mercado financeiro e, posteriormente, foi sócio de uma empresa de saneamento. Mas a vida novamente o levaria para o caminho da arte. Recém-chegado ao Brasil e animado pela esperança do fim da repressão, Laniado acha um galpão fabril vazio no Brooklin, em São Paulo, disponível para locação. Era 1978, o país atravessava as represálias da ditadura militar e entrava em ebulição com pautas relacionadas à liberdade cultural. Foi o bastante para florescer em Leo a ideia de criar um espaço para exposições, estúdios e residências artísticas.
Nascia ali o Galpão, um projeto para além da estrutura tradicional de galeria e da relação entre artista e marchand, uma proposta arrojada que visava a fomentar o cenário artístico brasileiro. Efervescente e assíduo no circuito artístico e social paulistano, Leo Laniado criava, então, um espaço interdisciplinar, ponto de encontro de artistas, músicos, criativos, que também ganharia, logo depois, um bar e um restaurante.
A convite de Leo, a curadoria das exposições ficou a cargo do artista e escultor carioca Ivald Granato e trazia exibições com performances, desenhos, pinturas, obras conceituais e happenings. Para marcar a inauguração do espaço, uma coletiva com nomes que, à época, já eram emblemáticos: Amilcar de Castro, Carlos Vergara, Hélio Oiticica, Leon Ferrari, Lina Bo Bardi, Lygia Pape, Tomie Ohtake e o próprio Granato.
O Galpão funcionou como um agente catalisador de cultura e, após Leo sentir que havia cumprido seu objetivo, seguiu para um novo projeto. Sua alma inquieta e vivaz o levava, desta vez, à criação d’A Estufa, proposta que funde arquitetura e paisagismo e exerce a função de incubadora de ideias com inovação de produtos e disseminação da cultura. Fundada inicialmente no Brooklin, tempo depois prosseguiria para o bairro dos Jardins, na Rua Oscar Freire e, posteriormente, para a Rua Wisard, 53, na Vila Madalena, onde funciona até os dias atuais.
Embrenhou-se, ainda, na arquitetura, tornou-se paisagista e, também, um dos nomes mais reconhecidos de sua geração. Assinou projetos emblemáticos como o Txai Resort, em Itacaré, Bahia, além de jardins que complementavam obras de arquitetos renomados, a exemplo de Aurelio Martinez Flores, Germano Mariutti, Felippe Crescenti e Isay Weinfeld.
Também na década de 1990, fundou a Terracor, marca singular de tintas e revestimentos que surgiu pela necessidade de ter um revestimento perene, que se integrasse às suas obras e jardins. O experimento com terra, ovo, cola e outros componentes naturais lhe rendeu a alcunha de artista alquimista das tintas. A marca, que no início contava com sete cores na cartela, tem hoje grande renome e vários prêmios no circuito de arquitetura e design.
Serviço:
“Impertinências Permanentes”, de Leo Laniado
Local: A Estufa
Curadoria: Silvia Prado Segall
Abertura: 22 de março, às 19h
Período expositivo: de 22 de março a 22 de abril
Horário de visitação: de segunda a sexta, das 10h às 18h. Sábados, das 10h às 12h
Endereço: Rua Wisard, 53, Vila Madalena, São Paulo (SP)
Gratuito.
(Fonte: A4&Holofote)