A parceria da carioca Alaíde Costa e do paulista José Miguel Wisnik surge em outubro de 1968. À época, integrante do rol de intérpretes da primeira edição paulista do Festival Universitário da Canção Popular, exibido pela extinta TV Tupi, a cantora é escolhida por um jovem compositor de apenas 20 anos de idade para apresentar sua canção de estreia, Outra Viagem, escrita naquele ano. Só agora, 52 anos depois, é que os dois reatam esse elo silencioso e intacto para gravar essa e outras canções do cantor, compositor, pianista e escritor paulista.
“Eu fiquei apaixonada pela música e pela pessoa doce que ele (Wisnik) é. Dali (do festival) voltei para o Rio de Janeiro e agora a gente voltou a se reencontrar na casa de um amigo meu. Eu me emociono muito quando eu canto a música dele. Tenho paixão por ele”, destaca Alaíde.
Para José Miguel Wisnik, “Alaíde parece frágil à primeira vista, mas é firme nas suas convicções e nos seus sentimentos. É íntegra como a sua memória impressionante, que lembra tudo simplesmente porque não esquece das pessoas. É extremamente delicada, mas profundamente visceral”, afirma. “A música para ela não é um divertimento, é um transe. É uma cantora da melancolia que há em todos nós, mas não é uma pessoa triste. A emoção aflora e lava a alma. Tenho paixão por ela”, completa Wisnik.
E a conexão entre os dois é expressa na letra da faixa-título O Anel, composta em 2020 e que o autor divide o vocal com Alaíde. É uma das três inéditas do álbum O Anel – Alaíde Costa canta José Miguel Wisnik, que o Selo SESC lança no dia do aniversário da cantora de voz suave, segura e de grande domínio técnico. Um trabalho que reconstitui a força expressiva de Alaíde ao interpretar com destreza pérolas do cancioneiro popular brasileiro.
No próximo 8 de dezembro, a cantora e compositora Alaíde Costa completa 85 anos de idade no esplendor de sua arte e com o novo trabalho disponível nas plataformas digitais de streaming, incluindo no SESC Digital, que oferece o conteúdo de forma gratuita e sem necessidade de cadastro. A versão física do álbum está prevista para sair entre maio e agosto de 2021, devido à interrupção da produção de CDs causada pela pandemia.
Na companhia de Alaíde está o trio de piano, contrabaixo e bateria formado por José Miguel Wisnik, Zeca Assumpção e Sérgio Reze, respectivamente, e as participações especiais de Jessé Sadoc (flughel), Shen Ribeiro (flautas), Swami Jr. (violão) e Alexandre Fontanetti (guitarra), além de Jaques Morelenbaum (violoncelo) e Nailor Proveta (clarinete) com o seu grupo de sopros, formado por Douglas Braga (saxofone alto), Erick Ariga (fagote), Gabriela Machado (flauta em dó e flauta em sol) e José Luiz Braz (clarone alto). A direção artística é do próprio Wisnik e a produção musical de Alê Siqueira.
Nunca antes gravada, Aparecida (1996) é a música que “agora, cantada por ela, parece feita para abrir o disco”, descreve o compositor em seu texto de apresentação. Wisnik canta em outras duas faixas: Laser (1989), composta em parceria com Ricardo Breim e que ele define como “a leveza capaz de cortar diamante ao meio” e em Olhai os lírios do campo (1966/2020), outra inédita e que fecha o disco em versão pout-pourri com Onde está você (1964-65), canção escrita por Oscar Castro Neves (1940-2013) e Luvercy Fiorini (1941-2007) e que se tornaria emblemática na carreira de Alaíde após sua interpretação no programa O Fino da Bossa, realizado no Teatro Paramount, estúdio da TV Record em São Paulo.
O disco foi gravado em setembro e outubro deste ano no estúdio Space Blues, em São Paulo, e duas composições também levam o nome de Paulo Neves, como Saudade da Saudade (1997), single que chega primeiro no dia 4 de dezembro e que Wisnik define como “uma canção sobre as canções”, que vão de Tom Jobim (1927-1994) a Caetano Veloso, e Por um fio (2000). O compositor e violonista Guinga divide com Wisnik a autoria de Ilusão real (2011) que, assim como Estranho Jardim (1989), foram escolhidas por Alaíde para compor o disco, que ainda traz o cântico e o acalanto Assum branco (1997).
Show de lançamento
No dia 19 de dezembro (sábado), Alaíde Costa e José Miguel Wisnik sobem ao palco do SESC Pinheiros para uma apresentação pela série Música #EmCasaComSESC, que há sete meses transmite shows ao vivo pela internet, da casa dos artistas ou de estúdios de trabalho intercalando, desde outubro, com lives direto das unidades do SESC na capital paulista, ainda sem a presença de público e seguindo todos os protocolos de segurança.
Para o lançamento de O Anel – Alaíde Costa canta José Miguel Wisnik, o duo cantora e pianista terá a companhia dos músicos Zeca Assumpção (contrabaixo acústico), Sérgio Reze (bateria) e Nailor Proveta (clarinete). A transmissão começa às 19h, no YouTube do SESC São Paulo (@SESCsp) e no Instagram do SESC Ao Vivo (@SESCaovivo).
Repertório
1 – Aparecida (José Miguel Wisnik)
2 – O Anel (José Miguel Wisnik)
3 – Saudade da Saudade (José Miguel Wisnik/Paulo Neves)
4 – Ilusão real (Guinga/José Miguel Wisnik)
5 – Estranho jardim (José Miguel Wisnik)
6 – Assum branco (José Miguel Wisnik)
7 – Por um fio (José Miguel Wisnik/Paulo Neves)
8 – Laser (Ricardo Breim/José Miguel Wisnik)
9 – Outra viagem (José Miguel Wisnik)
10 – Olhai os lírios do campo (José Miguel Wisnik/Flávio Rezende) e Onde está você (Oscar Castro Neves/Luvercy Fiorini) – em versão pout-porri
Ficha Técnica
Direção artística: José Miguel Wisnik
Produção musical: Alê Siqueira
Gravado em setembro/outubro de 2020 no estúdio Space Blues, por Alexandre Fontanetti (São Paulo), sob supervisão de Alê Siqueira (Algarve, Portugal)
Roadie: Luisinho Silva
Pré-produção: Pedro Vinci
Editado, mixado e masterizado por Alê Siqueira
Design gráfico – Elaine Ramos
Fotos: Anita Abreu Solitrenick e Jacob Solitrenick
Imagens da capa e encarte: Erik Linton
Produção executiva: Sergia Percassi – Vinci Wisnik produções
Diretor de produção: Guto Ruocco – Circus produções
Agradecimentos: Daniel Augusto, Dra. Diana Maziero, Dra. Heloisa Ruocco, Jacob Solitrenick, Renato Coppoli, Ricardo Breim, Ricardo Santiago, Rogerio Augusto.
Alaíde Costa | Iniciou sua carreira profissional como crooner do dancing Avenida, no Rio de Janeiro. Em 1959, levada por João Gilberto (1931-2019), entrou em contato com os compositores da bossa nova e gravou seu primeiro LP, Gosto de você. No ano seguinte, lançou o LP Alaíde canta suavemente e começou a apresentar-se nos shows de bossa nova. Casou-se e foi morar em São Paulo. Entre as novas gravações e apresentações, realizou um recital de canções renascentistas no Theatro Municipal de São Paulo, intitulado Alaíde alaúde, com o maestro Diogo Pacheco. Afastou-se do cenário artístico para tratar da saúde e retomou a carreira em 1972, gravando em dueto com Milton Nascimento a faixa Me deixa em paz (Airton Amorim e Monsueto), incluída no LP Clube da Esquina. Nesta trajetória de mais de 60 anos de carreira, também gravou com Johnny Alf (1929-2010), Lúcio Alves (1927-1993), Tom Jobim, Paulinho da Viola, Ivan Lins e Egberto Gismonti, só para citar alguns de uma extensa lista. Em 2014, finalmente realizou o seu sonho de gravar um disco autoral. Canções de Alaíde foi lançado pelo selo Nova Estação e produzido por Thiago Marques Luiz.
José Miguel Wisnik | José Miguel Wisnik tem uma carreira singular: é músico, escritor e professor. Lançou os CDs José Miguel Wisnik (1993), São Paulo Rio (2000), Pérolas aos poucos (2003), Indivisível (2011) e Ná e Zé (2015). Fez música para cinema, teatro e dança, com destaque para as quatro trilhas que compôs para o Grupo Corpo: Nazareth (1993), Parabelo (1997, com Tom Zé), Onqotô (2005, com Caetano Veloso) e Sem mim (2011, em parceria com Carlos Núñez). Tem canções interpretadas por Elza Soares, Maria Bethânia, Gal Costa, Zizi Possi, Ná Ozzetti, Jussara Silveira, Monica Salmaso, Eveline Hecker e parcerias com Chico Buarque, Caetano Veloso, Tom Zé, Guinga, Luiz Tatit, Alice Ruiz e Marcelo Jeneci. Entre seus livros publicados encontram-se O som e o sentido – Uma outra história das músicas (1989, Companhia das Letras), Sem receita – Ensaios e canções (2004, Publifolha), Machado maxixe – O caso Pestana (2008, Publifolha), Veneno remédio – o futebol e o Brasil (2008, Companhia das Letras) e o recente Maquinação do mundo – Drummond e a mineração (2018, Companhia das Letras), vencedor do Prêmio Literário Biblioteca Nacional 2019. Em 2020 lançou o primeiro single/videoclipe A terra plana, do próximo disco inédito que está por vir.
Serviço:
Single Saudade da saudade
4/12, disponível nas principais plataformas de streaming e no SESC Digital
CD O anel – Alaíde Costa canta José Miguel Wisnik
8/12, disponível nas principais plataformas de streaming e no SESC Digital
Show
19/12, 19h, pela série Música #EmCasaComSESC, direto do palco do SESC Pinheiros.