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Bienal de São Paulo lança site para a 34ª edição com conteúdo exclusivo e anuncia três novos artistas

São Paulo, por Kleber Patricio

“Campo de ação, campo de visão”, obra de Daniel de Paula. Foto: divulgação.

A 34ª Bienal de São Paulo – Faz escuro mas eu canto, que realizará sua mostra coletiva de 3 de outubro a 13 de dezembro de 2020 (datas atuais que podem sofrer alterações devido à pandemia de Covid-19), lança em 12 de maio o site bilíngue da edição. Por meio do endereço http://34.bienal.org.br/ é possível ter acesso a todos os detalhes sobre as mostras coletiva e individuais, à publicação educativa e a textos inéditos sobre os artistas participantes.

Navegando pelo site, o internauta pode acessar os detalhes das exposições (tanto da mostra coletiva quanto das individuais), conhecer mais profundamente os artistas já anunciados, visualizar o calendário completo do ano, baixar materiais educativos e publicações relacionadas, acessar vídeos e áudios produzidos pela Fundação para esta edição e entrar em contato com outros conteúdos referenciais, como imagens de obras dos artistas convidados, trocas curatoriais e assuntos complementares. O site permanecerá uma plataforma viva até o final do programa de mostras itinerantes, que acontece tradicionalmente no ano seguinte à cada edição da Bienal. Dessa forma, novos conteúdos serão publicados ao longo do próximo ano e meio, incluindo textos inéditos sobre os artistas que ainda não foram anunciados (cerca de ⅔ dos participantes), publicações, produtos audiovisuais e registros de ações.

O site faz parte de um amplo e longevo projeto da Fundação Bienal de investimento em iniciativas digitais de produção e difusão de conteúdos. A primeira Bienal a ter um site próprio foi a 23ª, em 1996, quando a internet ainda estava se popularizando no Brasil e a prática foi mantida ininterruptamente desde então. Além disso, desde a 29ª edição, além de um site próprio, as mostras passaram a contar ainda com visitas virtuais. A Fundação, que alcança expressivos números de seguidores e engajamento nas redes sociais, conta também com o Portal Bienal, uma plataforma que reúne todos os sites das exposições e conteúdos exclusivos sobre as diversas iniciativas culturais da Fundação, além do acervo digitalizado do Arquivo Histórico Wanda Svevo. “Trabalhar para que cada vez mais pessoas tenham acesso à arte contemporânea é uma das principais missões da Fundação Bienal e, num país com a escala do Brasil, os meios digitais são importantes para alcançar esse objetivo. Para nós, os sites das Bienais são ferramentas que podem complementar a experiência do visitante ao espaço expositivo: eles não a substituem, mas oferecem conteúdos adicionais e outras formas de se relacionar com as mostras. A arte é uma parte intrínseca do que significa ser humano. Agora, quando nós, enquanto sociedade, enfrentamos um desafio gigantesco, a produção cultural e simbólica é mais necessária do que nunca. E, ao menos enquanto não pudermos frequentar fisicamente as exposições, as iniciativas digitais ganham relevância como possíveis fontes de experiência estética”, afirma José Olympio da Veiga Pereira, presidente da Fundação Bienal de São Paulo.

Novos artistas

Carmela Gross – “BARRIL” (1969) – barril de ferro e plástico cristal ø 0.60m x 1.30m. Foto: Marcello Nitsche.

Além dos 28 nomes já divulgados, é anunciada agora a participação, na mostra coletiva, de três novos artistas que contribuíram com a publicação educativa da 34ª Bienal: Carmela Gross, Daniel de Paula e Gustavo Caboco. Além deles, Neo Muyanga, Noa Eshkol e Eleonora Fabião também contam com participações no livro, que já está disponível para download no site da exposição. A lista completa de participantes desta edição, que terá cerca de 90 artistas, deve ser divulgada entre maio e junho.

Carmela Gross (1946, São Paulo, SP) tem uma relação antiga com a Bienal e já participou de sete edições da mostra (1967, 1969, 1981, 1983, 1989, 1998 e 2002). A artista realiza trabalhos em grande escala que se inserem no espaço urbano e assinalam um olhar crítico sobre a arquitetura e a história. O conjunto de operações de cada trabalho enfatiza a relação dialética entre a obra e o espaço e entre a obra e o público. Gross já expôs extensivamente em instituições de todo mundo e participou de três edições do evento Arte Cidade (1994, 1997, 2002), na capital paulista; da 2ª Bienal Nacional de Artes Plásticas (1968), em Salvador; da 2ª Bienal de Arte Contemporânea de Moscou (2007), na Rússia e da 5ª Bienal do Mercosul (2015), em Porto Alegre.

Daniel de Paula (1987, Boston, EUA), artista e pesquisador brasileiro nascido nos EUA, desenvolve uma prática não se limita aos domínios da arte, deixando-se intersectar por noções dos campos da geografia, da arquitetura e da história. As obras e proposições do artista refletem acerca da produção do espaço enquanto reprodução de dinâmicas de poder, revelando assim investigações críticas sobre as estruturas sociais, políticas e econômicas que moldam lugares e relações. Já participou de exposições em instituições como MASP, Pinacoteca e Estação Pinacoteca, MAC USP e Centro Cultural São Paulo, entre outros.

Gustavo Caboco – “pedra, céu, movimento” (2020) – Série: retorno à terra – Acrílica sobre tela, 80 x 80cm. Foto: Douglas Fróis | Cortesia do artista.

Também participa da coletiva Gustavo Caboco (1989, Curitiba, PR). Nascido na capital paranaense e crescido num ambiente urbano, Caboco é Wapichana, assim como sua mãe que, aos 10 anos de idade, foi desterrada de seu povo. Em 2001, ambos retornaram pela primeira vez à sua aldeia Canuanim (Roraima), onde foi apresentado à sua avó e parentes. Desde então, viu se multiplicarem os vetores de religação de seu imaginário com a vida e a luta de seu povo na mesma medida em que crescia sua consciência da violência dos processos que artificialmente afastaram a história de sua família de sua identidade. Sua obra é parte de seu esforço em tramar redes que o conectem com suas raízes e, ao mesmo tempo, produzam chamamentos que repercutem as vozes dos povos indígenas e dos entes a quem eles sabem dedicar escuta, como as plantas, as pedras e os rios. Por isso, a dicção do artista propositalmente sobrepõe o pessoal ao político, o desejo à memória e o factual ao especulativo.

Bienal digital

Realizada no ano de 1996, a 23ª Bienal de São Paulo foi a primeira edição a ter um site próprio. Foi criada em parceria entre a Fundação Bienal de São Paulo e o UOL, provedor e portal de internet pioneiro no Brasil, que permaneceu como parceiro na 24ª Bienal. A partir da 25ª Bienal, a Fundação começou a desenvolver sites próprios para cada edição da mostra, como um reconhecimento do importante papel que a internet poderia assumir na difusão da arte contemporânea. Todos os sites da Bienal são independentes e possuem identidade visual, estrutura e tipos de conteúdo próprios. Para algumas edições, também foram desenvolvidos aplicativos e outras ações online que permitiram ao público a possibilidade de acessar informações complementares sobre a exposição durante a visita, incluindo visitas virtuais a todas as edições desde a 29ª.

Para além das mostras e exposições, desde 2002 a Fundação Bienal possui seu próprio canal de comunicação: o Portal Bienal (www.bienal.org.br), uma plataforma online que reúne todos os sites das exposições e conteúdos exclusivos sobre as diversas iniciativas culturais da Fundação. O site inclui também o Arquivo Histórico Wanda Svevo, ou Arquivo Bienal, com mais de um milhão de documentos em torno das realizações das Bienais de São Paulo e seus desdobramentos na história da arte. Além disso, para garantir a longevidade de seus aplicativos digitais, desde 2010 todos os sites da fundação são desenvolvidos com base em uma estrutura projetada e implementada pela instituição.

34ª Bienal de São Paulo

Marcada pelo encontro e potencialização mútua entre projeto curatorial e atuação institucional, a 34ª Bienal de São Paulo enfatiza a multiplicidade de leituras possíveis de uma obra e de uma exposição a partir do conceito de “relação”, abordado por pensadores como Édouard Glissant e Eduardo Viveiros de Castro. Para tanto, ela adotou uma estrutura de funcionamento inovadora, que envolveu a realização de mostras e ações apresentadas no Pavilhão da Bienal desde fevereiro de 2020 e a articulação com uma rede de instituições paulistas. Assim, foi realizada, entre fevereiro e março de 2020, a exposição da artista peruana Ximena Garrido-Lecca, cuja abertura foi concomitante à realização de uma performance inédita do sul-africano Neo Muyanga. A dinâmica de exposições individuais foi interrompida com a chegada da pandemia de Covid-19 e as futuras exposições estão sendo repensadas pela curadoria da Bienal.

Com curadoria geral de Jacopo Crivelli Visconti, a equipe curatorial da 34ª Bienal é composta por Paulo Miyada (curador adjunto), Carla Zaccagnini, Francesco Stocchi e Ruth Estévez (curadores convidados). Para as publicações, Elvira Dyangani Ose atua como editora convidada e sua participação é uma colaboração com The Showroom, London.

Faz Escuro Mas Eu Canto

Encarado mais como uma afirmação que como um tema, o título da 34ª Bienal de São Paulo, Faz escuro mas eu canto, é um verso do poeta Thiago de Mello (1926, Barreirinha, AM) publicado em livro homônimo do autor em 1965. Em sua obra, o poeta amazonense fala de maneira clara dos problemas e das esperanças de milhões de homens e mulheres ao redor do mundo: “A esperança é universal, as desigualdades sociais são universais também (…). Estamos num momento em que o apocalipse está ganhando da utopia. Faz tempo que fiz a opção: entre o apocalipse e a utopia, eu fico com a utopia”, afirma o escritor. Jacopo Crivelli Visconti completa: “por meio de seu título, a 34ª Bienal reconhece o estado de angústia do mundo contemporâneo enquanto realça a possibilidade de existência da arte como um gesto de resiliência, esperança e comunicação”.

34ª Bienal de São Paulo – Faz escuro mas eu canto

Exposição coletiva

3 de outubro a 13 de dezembro de 2020

Pavilhão Ciccillo Matarazzo, Parque Ibirapuera

Entrada gratuita

Equipe curatorial

Curador geral: Jacopo Crivelli Visconti

Curador adjunto: Paulo Miyada

Curadores convidados: Carla Zaccagnini, Francesco Stocchi e Ruth Estévez

Editora convidada: Elvira Dyangani Ose

A participação de Elvira Dyangani Ose é uma colaboração com The Showroom, London.