Criada em 1991 em homenagem a Ilo Krugli, do Teatro Vento Forte, a Cia. Grande Urso Navegante dá a largada em sua temporada de apresentações pelo interior paulista no dia 12 de março, com a proposta de circular por sete cidades e fazer 24 apresentações gratuitas abertas ao público de todas as idades, além de 14 sessões exclusivas para instituições assistenciais e sete oficinas de teatro. A 2ª edição do projeto “Hoje tem teatro? Tem, sim, senhor!” é viabilizada pelo ProAC ICMS/SP da Secretaria de Estado da Cultura, com patrocínio das empresas Tigre e Urbano Alimentos. As sessões acontecem em espaços públicos e em entidades assistenciais.
A turnê segue até 24 de abril e leva na bagagem dois espetáculos – “O Passe e o Gol”, baseado no livro do jornalista esportivo Juca Kfouri; e a “A Pipa e a Flor”, adaptado por Laerte Asnis do livro do escritor, educador e psicanalista Rubem Alves. O roteiro inclui as seguintes cidades: Porto Ferreira (dias 12 e 13 de março), Guarulhos (dias 18, 19 e 20/3), Rio Claro (dias 26 e 27/3), Cordeirópolis (dias 2 e 3 de abril), Sumaré (dias 9 e 10 de abril), Brotas (dias 16 e 17/4) e Jacareí (dias 23 e 24/4).
Literatura como fonte
A primeira peça adaptada pelo ator, diretor e produtor da Cia. Grande Urso Navegante, Laerte Asnis, foi “O Barquinho”, de Ilo Krugli, logo após sua saida do grupo Vento Forte, onde permaneceu de 1985 a 1990. A partir do momento em que criou sua próprioa trupe, se especializou em adaptar para o teatro livros de nomes da literatura infantil, o que se tornou marca registrada do Urso Navegante – construir seu repertório baseado em livros de autores de destaque do cenário literário e educacional. Além de Rubem Alves (i.m.), Juca Kfouri e Regina Drummond, Laerte tem parceria com Sandra Branco, Oswaldo Cassilha, Paulo Riani, Editora Cortez. Construir seu repertório baseado em livros de autores de destaque do cenário literário e educacional é característica do Grande Urso Navegante.
“O Passe e o Gol” | Peça teatral baseada no livro homônimo de Juca Kfouri, conta a história de dois irmãos gêmeos, Joãozinho e Marinho que se dão muito bem, mas não quando o assunto é futebol. Os conflitos entre os dois se agravam quando são coinvidados para jogar no time da escola no campeonato da cidade. Muitas surpresas acontecem. Há 14 anos no repertório do grupo, aborda o relacionamento entre irmãos gêmeos e a rivalidade comum entre eles. A partida de futebol, momento em que os irmãos gêmeos jogam pelo mesmo time, introduz a questão tão presente no cotidiano de cada um de nós, que é saber ganhar e saber perder.
“A Pipa e a Flor” | O texto de Rubem Alves trata da valorização das relações humanas, fala de amor e também de seus agravantes, como a inveja e o ciúme. Discute o relacionamento entre uma pipa e uma flor e nos conduz a alguns questionamentos: como acontece uma relação? Quem tem razão? Como posso aceitar o outro? Como compartilhar experiências conjuntas? Perguntas que nos permitem refletir sobre a importância que cada um desempenha dentro de uma relação, seja no âmbito amoroso, familiar ou no ambiente de trabalho, e perguntas que nos permitem entender a necessidade de se contar com todos, com suas habilidades individuais, emocionais e criativas para que a vida seja simplesmente vivida.
O encontro com Rubem Alves
Leitor de Rubem Alves, Laerte morava em São Carlos em 1999 quando conheceu o autor na livraria de uma grande amiga que convidara o escritor para uma palestra na cidade. “Acabei levando Rubem Alves para Campinas, após a palestra, e no carro perguntei se ele me autorizava adaptar para o teatro seu livro ‘A Pipa e a Flor’. Ele respondeu: ‘Ficarei honrado’. Em 23 de dezembro de 1999, a peça estreou em Campinas, com a presença do Rubem, que no final disse para a plateia: ‘A peça ficou muito melhor que o livro’. Choradeira geral. Desde então já são 23 anos encenando esta peça em mais de 1600 apresentações pelo Brasil e Portugal. Rubem Alves,a exemplo do Ilo, é uma manifestação viva da poesia. Sempre nos prestigiou durante os 15 anos em que convivemos com ele, de 1999 a 2014, ano de sua morte. Continuaremos encenando ‘A Pipa e a Flor’, pois seu texto continua atual, mesmo sendo o livro de 1985.”
O encontro com Juca Kfouri
“Consultando o site de uma livraria, vi que o livro mais vendido era ‘O Passe e o Gol’, de Juca Kfouri. Imediatamente considerei a ideia de adaptar o livro para o teatro, mesmo sem conhecer a obra. Arrisquei enviar um email e não é que funcionou? Fiz a proposta e ele prontamente aceitou. Isso foi em 2007. Durante um ano preparei a montagem e, em fevereiro de 2008, fizemos a estreia na capital, com a presença de Juca Kfouri e seu editor. Desde então, encenamos a peça em várias cidades do Brasil. Sempre que apresentamos na capital, Juca prestigia.”
O começo no Vento Forte e a ida para o interior
Laerte Asnis tirou a ideia para o nome do grupo de um dos personagens da peça “Os Dois Irmãos ou O Pássaro de Ouro”, baseada em conto dos Irmãos Grim, escrita e dirigida por Ilo Krugli, do grupo de teatro Vento Forte, do qual pareticipou de 1985 a 1990. Influenciado pelo mestre (“tudo que sei sobre teatro, aprendi com Ilo”), Laerte criou a Cia Teatro do Grande Urso Navegante em homenagem a Krugli e ao Vento Forte “para minimamente oferecer através do teatro a poesia que tanto se faz necessária para a vida de qualquer ser humano”. Depois do Vento Forte, Laerte participou de um projeto com o grupo de dança Marzipan, sobre a vida de Oswald de Andrade para a Secretaria de estado da Cultura/SP. “Me inscrevi para participar do processo de escolha do elenco e para minha surpresa fui um dos 18 selecionados”. Durante um ano, ensaiou a peça “Fui, Vim , Voltei”, sob direção de Renata Melo, Lúcia Merlino e Luca Baldovino. Durante o processo tomou aulas com a nata da dança: Antonio Nóbrega, Marize Matias, Eduardo Marlot, Denilto Gomes e Tica Lemos.
Em seguida, foi convidado pelo então diretor do departamento de formação cultural da Secretaria de Cultura para ministrar oficinas de teatro, na recém-inaugurada Oficina Cultural Sérgio Buarque de Holanda, em São Carlos, e também em Ribeirão Preto e Bauru. A partir daí, resolveu continuar no interior, permanecendo dois anos em São Carlos. Em 1993, contratado pelo Teatro Popular do SESI, precisamente pela então Divisão Cultural do SESI, na época dirigida pelo diretor Chiquinho Medeiros e tendo à frente do projeto NAC (Núcleo de Artes Cênicas), Acácio Vallim e Sonia Azevedo, assumiu o recém-criado Núcleo de Artes Cênicas do SESI como Orientador de Artes Cênicas, na cidade de Rio Claro. “Nossa proposta é e sempre foi levar teatro para populações que nunca viram teatro na vida. Na capital atuamos pouco. Não tenho necessidade de estar na capital, na capital tem muitas cias. teatrais se apresentando; já pelo interior, nem tanto. E instituições da capital nos ignoram quase totalmente.”
Sobre a Cia. Grande Urso Navegante | Grupo criado e dirigido por Laerte Asnis, ator e diretor, com foco no público infantil. A principal característica do grupo é montar e encenar peças com recursos simples, que possam ser apresentadas em qualquer tipo de espaço e eventos. Outra característica do grupo reside em seu repertório teatral, sempre baseado em livros de grandes personalidades do cenário literário e educacional. A Cia. tem em seu repertório musical músicas do cancioneiro universal interpretadas ao vivo pela pianista e educadora musical Valéria Peres (de 1992 a 2019) e, desde 2019, pelo músico Guilherme Ambrózio. Utiliza recursos artesanais na confecção dos elementos cênicos.
(Fonte: Arteplural)