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Com performances em vídeo, Grupo Meio promove diálogo entre a cidade, dança e artes visuais

São Paulo, por Kleber Patricio

Fotos: divulgação.

A partir do dia 20 de maio, o Grupo Meio apresenta ao público a série de vídeos Matérias movediças – ação acoplamento, que faz parte do projeto Corpos-paisagens: corpos que atravessam os fluxos da cidade. Composta por quatro episódios, a ação parte de quatro marcos históricos da cidade de São Paulo (Parque da Independência, Estação da Luz, Pátio do Colégio e Biblioteca Mário de Andrade) e questiona os limites do corpo numa ação de dança e como esses locais impactam e reverberam nos corpos e memórias dos quatro artistas do grupo.

Formado pelos artistas Carolina Canteli, Everton Ferreira, Iolanda Sinatra, Lucas Reitano e Maria Basulto, todos oriundos da Unicamp, o Grupo Meio tem uma pesquisa que questiona muito o limite do movimento na dança. O que pode ser considerado corpo? Quem é o protagonista numa ação coreográfica? Eles buscam o movimento não só no artista presente em cena, mas também no ambiente e seu entorno. “Tudo é corpo. Prédios, objetos, pessoas que passam… nosso objetivo é investigar essa relação entre diversos corpos e expandir isso para uma noção coreográfica”, explica Carolina Canteli.

A ideia é questionar a hierarquização do corpo humano em cena. Por que ele sempre precisa ser o protagonista? E por que quando falamos de paisagem, excluímos o sujeito? A pesquisa do grupo trabalha na fricção desses dois conceitos, expandindo o fazer cênico. No caso de Matérias Movediças, edição e câmera, além de outros limites que eles já exploraram, também são movimento.

Pensado originalmente para ser uma performance ao vivo, assim como muitos trabalhos nesses últimos 14 meses, o projeto teve que ser adaptado para o vídeo. Os quatro artistas se dividiram e cada um pesquisou sobre um dos quatro marcos históricos abordados no projeto, escolhendo o que mais se relacionava com as suas memórias, repertório ou história. Com base nessa relação, cada um levou o conceito de corpo-paisagem para a sua composição e explorou isso de uma maneira diferente, trazendo essa confluência de temas.

Isso rendeu aos quatro vídeos da série estilos bem diferentes. Em alguns, o marco histórico aparece por meio de imagens inseridas numa fenda. Em outro, ele surge por meio de objetos, no estudo literal do seu significado ou na memória de um corpo negro e toda a representação que ele traz. O grupo traduz a intervenção urbana em corpos-paisagens virtuais, movendo a fronteira do espaço público e os encontrando dentro de casa.

Para Everton Ferreira, o Parque da Independência é retratado a partir da controversa história ali colocada em forma de monumento, seja pela ausência de homenagens aos corpos negros que navegaram por mares incertos e ainda assim edificaram cidades, mas que não têm seus nomes e seus bustos ali representados. Já na Estação da Luz, Maria Basulto questiona se o local não poderia ir além da função de servir ao transporte às multidões, mas ser também uma estação para viajar pela luz diante da escuridão. O Pátio do Colégio vem em cena por meio de suas manifestações coletivas, seja pelos corpos ocupando aquele espaço em carnavais passados ou pelos corpos que ali estão, atualmente, sem moradia no vídeo que traz Iolanda Sinatra. E quanto à Biblioteca Mário de Andrade, Carolina Canteli encontra o espaço em cada empilhamento de prédio e de livros da cidade, a cada janela de vidro que deixa entrar a luz e a cada palavra num livro. Entre a paisagem de sua janela e o próprio entorno da Biblioteca, move-se por ideias, cores e palavras.

Grupo Meio | Meio é um grupo de jovens criadores dirigido e performado por Carolina Canteli, Everton Ferreira e Iolanda Sinatra e conta com a participação dos artistas Lucas Reitano e Maria Basulto. Tem como foco atual pensar a dança enquanto campo ampliado, explorando sua intersecção com a linguagem audiovisual, a arquitetura e o urbanismo. É essencial para o grupo o exercício de habitar a urbe, as ruas, os palcos e espaços cênicos com o mesmo comprometimento ético e estético, desejando revelar, em atos coreográficos, possíveis modos de existir na cidade, com o intuito de reformular a compreensão da subjetividade imposta pelo senso de “normalidade” e criando outras ficções ou mesmo questionando as várias coreografias do dia a dia. Em maio de 2018, estrearam a intervenção urbana de dança 180 pela programação Cartografia do Possível do Centro de Referência da Dança da Cidade de São Paulo. Ainda em 2018, foram selecionados no Circuito Vozes do Corpo 2018 e no Festival do Instituto de Artes 2018 com a mesma intervenção. Em novembro de 2019, realizaram a residência Corpos-paisagens: corpos que atravessam os fluxos da cidade no SESC Pinheiros, convidando os artistas da residência a performarem o trabalho 180 no Largo da Batata, em Pinheiros. No final de 2020, foram contemplados pelo 28º Fomento à Dança com o projeto Corpos-paisagens: corpos que atravessam os fluxos da cidade, que está em execução de modo virtual por meio de ações de formação e criação artística.

Serviço:

Matérias movediças – ação acoplamento

De 20 a 23 de maio, às 20h no YouTube do Grupo Meio

20/5 – Corpo-paisagem de Carolina Canteli para Biblioteca Mário de Andrade

21/5 – Corpo-paisagem de Maria Basulto para Estação da Luz

22/5 – Corpo-paisagem de Everton Ferreira para Parque da Independência

23/5 – Corpo-paisagem de Iolanda Sinatra para Pátio do Colégio.

Ficha técnica

Direção Artística: Carolina Canteli, Everton Ferreira e Iolanda Sinatra

Direção Audiovisual: Lucas Reitano

Pesquisa e Criação: Carolina Canteli, Everton Ferreira, Iolanda Sinatra, Lucas Reitano e Maria Basulto

Edição de som: Olívia Fiusa

Produção: Tetembua Dandara

Artistas Colaboradores: Gustavo Ciríaco, Maitê Lacerda e Nina Giovelli

Designer Gráfico: João Brito

Duração: aprox. 10 minutos.