A presença dos nacionalismos para a compreensão das disputas que marcam o nosso tempo – é este o cenário sobre o qual se debruça a 21ª Bienal de Arte Contemporânea Sesc_Videobrasil | Comunidades Imaginadas, que ocorre até 2 de fevereiro de 2020 no Sesc 24 de Maio, em São Paulo, reunindo mais de 60 obras e duas coleções, 55 artistas de 28 países, entre vídeos, pinturas, fotografias e instalações.
Juntos, a diretora artística Solange Farkas, o trio de curadores Gabriel Bogossian, Luisa Duarte e Miguel A. López e os membros do júri de seleção Alejandra Hernández Muñoz, Juliana Gontijo e Raphael Fonseca analisaram 2.280 inscrições de 105 nacionalidades para selecionar obras advindas do Brasil, América Latina, África, Ásia, Oriente Médio e Oceania. Pela primeira vez, o tema norteador foi anunciado já na convocatória.
A BIENAL
A 21ª Bienal de Arte Contemporânea Sesc_Videobrasil | Comunidades imaginadas toma de empréstimo o título do clássico estudo de Benedict Anderson para pensar nos tipos de organização social e comunitária que existem para além, às margens ou nas brechas dos Estados-nação: comunidades religiosas ou místicas, grupos refugiados de seus territórios originais, comunidades clandestinas, fictícias, utópicas ou aquelas constituídas nos universos subterrâneos de vivências corporais, sexuais.
É esse horizonte que se faz presente nas obras de autoria de artistas indígenas ou de povos originários do Brasil, Estados Unidos, Canadá, México, Peru e Nova Zelândia, com trabalhos que tencionam as questões presentes no fazer e na representação dessas culturas na arte e no mundo (obras de Alberto Guarani, Jim Denomie, Alto Amazonas Audiovisual, Claudia Martínez Garay e outros), nas obras que abordam o universo cuir/LGBT (como Aykan Safoĝlu, Megan-Leigh Heilig, Nilbar Güreș, Paulo Mendel & Vitor Grunvald), questões raciais (Emo de Medeiros, Nelson Makengo, Thierry Oussou, Jonathas de Andrade) e conflitos fronteiriços. A essas e tantas obras vêm somar-se projetos de cinco artistas convidados – Andrea Tonacci, Hrair Sarkissian, Teresa Margolles, Rosana Paulino e Thierry Oussou.
UMA CURADORIA, TRÊS PLATAFORMAS
A Bienal divide-se em três plataformas: exposição, programas públicos e publicações.
Exposição
Obras dos 50 artistas selecionados e cinco convidados estão distribuídas no térreo, terceiro, quinto e sexto andares. Ao longo do percurso de mais de 60 obras e duas coleções, o visitante vai se deparar com uma videoinstalação inédita de Rosana Paulino, bandeiras feitas por Mônica Nador e pelo coletivo JAMAC, uma coleção de joias africanas adquirida pelo MAE-USP nos anos 1970 e nunca exibida ao público, um totem memorial desenvolvido pelo artista neozelandês Brett Graham e uma instalação de mosaicos islâmicos feita de areia que será varrida na abertura da exposição pela artista saudita Dana Awartani. Os visitantes poderão participar e ativar a obra RESISTA, do coletivo Chameckilerner, ações com o público programadas pelo coletivo #VOTELGBT, obras de povos originários e indígenas, como o trabalho de Alberto Guarani, além de vídeos, fotografias, pinturas e instalações em diferentes formatos, capazes de propiciar ao visitante contato íntimo e imersivo com o tema da Bienal.
Publicações
A Bienal traz consigo o lançamento de duas publicações impressas bilingues: o catálogo ganha contornos de um Livro de Artista, com ensaios de três autores convidados — Gladys Tzul, Bonaventure Ndikung e Erica Moiah. Resultante do seminário internacional “Comunidades Imaginadas”, o Livro de Leituras, a ser lançado após a realização dos seminários, derivará de uma seleção das falas desenvolvidas nas mesas de debate. Vale destacar ainda a produção de um audioguia e projetos de conteúdo desenvolvidos especialmente para o site e ambiente digital.
NOVO NOME, NOVO ESPAÇO
Com mais de 35 anos de história, o até então Festival de Arte Contemporânea Sesc_Videobrasil passa a adotar o nome Bienal, integrando-se ao calendário internacional de Bienais e fortalecendo o seu posicionamento no cenário global de artes visuais. Para a diretora do Videobrasil, Solange Farkas, mais do que sacramentar uma periodicidade, “o termo Bienal reflete a percepção de que nossa prática investigativa nos aproxima de bienais internacionais como as de Sharjah, Cuenca, Havana e Dakar – instituições que, como o Videobrasil, trabalham para desenhar um panorama mais diverso da produção global e constituir um circuito paralelo àquele centrado no eixo Europa-Estados Unidos”.
Com boa parte de suas três décadas de história ligada ao Sesc Pompeia, a Bienal este ano ocupa o Sesc 24 de Maio. Valendo-se da polifonia de vozes, sotaques e sentidos presentes no Centro da cidade e das propostas arquitetônicas de Paulo Mendes da Rocha para o antigo edifício da Mesbla, a Bienal aposta na consonância entre a diversidade e o pluralismo do espaço e as propostas de sua curadoria.
Para o diretor do Sesc São Paulo, Danilo Santos de Miranda “ao Sesc compete repercutir e mediar perspectivas plurais por meio de uma ação cultural afeita a experiências dedicadas a desfazer as amarras herdadas do passado colonial e contraídas de uma condição geopolítica periférica. O recorte curatorial da 21ª Bienal de Arte Contemporânea Sesc_Videobrasil reúne experiências artísticas dispostas a conceber o comum e seus respectivos laços a partir de aspectos e compromissos não hegemônicos”. Miranda complementa: “Pela primeira vez, a Bienal ocupa o Sesc 24 de Maio, que, além de possuir uma arquitetura emblemática, está localizado no centro da cidade de São Paulo e representa, assim, a pluralidade da comunidade do seu entorno, incluindo um contingente grande de refugiados”.
LISTA DE PARTICIPANTES
Adrián Balseca (Equador), Ahmad Ghossein (Líbano), Alberto Guarani (Brasil), Alto Amazonas Audiovisual (Brasil), Ana Carvalho, Ariel Kuaray Ortega, Fernando Ancil, Patrícia Para Yxapy (Brasil), André Griffo (Brasil), Andrea Tonacci (Itália / Brasil), Aykan Safoĝlu (Turquia / Alemanha), Brett Graham (Nova Zelândia), Chameckilerner (Brasil / Estados Unidos), Clara Ianni (Brasil), Claudia Martínez Garay (Peru / Países Baixos), Dana Awartani (Arábia Saudita), Ellie Kyungran Heo (Coreia do Sul / Reino Unido), Emo de Medeiros (França / Benin), Erin Coates (Austrália), Ezra Wube (Etiópia / Estados Unidos), Federico Lamas (Argentina), Gabriela Golder (Argentina), George Drivas (Grécia), Georges Senga (República Democrática Do Congo), Hiwa K (Iraque / Alemanha), Hrair Sarkissian (Síria / Reino Unido), Jim Denomie (Estados Unidos), Jonathas de Andrade (Brasil), Julia Mensch (Argentina), Köken Ergun (Turquia), Luiz de Abreu (Brasil), Marilá Dardot (Brasil), Marton Robinson (Costa Rica), Maya Shurbaji (Síria), Megan-Leigh Heilig (África do Sul / Bélgica), Mohau Modisakeng (África do Sul), Mônica Nador (Brasil), Movimento De Luta Nos Bairros, Vilas E Favelas (Brasil), Natalia Skobeeva (Rússia / Reino Unido), Nelson Makengo (República Democrática do Congo), Nidhal Chamekh (Tunísia / França), Nilbar Güreș (Turquia / Estados Unidos), No Martins (Brasil), Noe Martínez (México), Omar Mismar (Líbano), Paul Rosero Contreras (Equador), Paulo Mendel & Vitor Grunvald (Brasil), Roney Freitas & Isael Maxakali (Brasil), Rosana Paulino (Brasil), Sadik Alfraji (Iraque / Países Baixos), Tang Kwok-Hin (China), Teresa Margolles (México), Thanh Hoang (Vietnã), Thierry Oussou (Benin / Países Baixos), Tiécoura N’Daou, (Mali), Tomaz Klotzel (Brasil), #VoteLGBT (Brasil), Ximena Garrido-Lecca (Peru).
BIOGRAFIA DOS CURADORES
Direção artística: Solange Farkas (Feira de Santana-BA, 1955)
Criadora e diretora da Associação Cultural Videobrasil, atua como diretora artística do festival e bienal Sesc_Videobrasil desde sua primeira edição, em 1983, investindo na criação de seu acervo e na criação de uma ampla rede de parceiros institucionais nos cinco continentes. Foi curadora-chefe do Museu de Arte Moderna da Bahia, participou como curadora convidada do FUSO (Portugal), da Dak’Art – Bienal de Arte Africana Contemporânea (Senegal), do 6º Festival Internacional de Vídeo de Jacarta (Indonésia), da 10ª Bienal de Sharjah (Emirados Árabes Unidos), da 16ª Bienal de Cerveira (Portugal) e da 5ª Videozone – Bienal Internacional de Videoarte (Israel). Nos últimos anos, integrou o Júri de Premiação da 14ª Bienal de Sharjah (2019), o Comitê de Premiação do Prince Claus Fund Award (2017-2018), o júri da 10˚ Rencontres de Bamako – Bienal Africana de Fotografia (Mali, 2015) e o Comitê de Seleção dos curadores para a 11˚ Bienal de Berlin (2020) e ajudou a organizar a mostra Anthropocene Project no Ilmin Museum of Art (Coréia, 2019).
Curadores convidados
Gabriel Bogossian (Rio de Janeiro, 1983) é curador adjunto da Associação Cultural Videobrasil, além de editor e tradutor independente. Desde 2007, desenvolve pesquisa sobre a representação dos povos indígenas no Brasil, articulando a produção de imagens da arte contemporânea, do jornalismo e dos movimentos sociais. Como curador, realizou as exposições Nada levarei quando morrer, aqueles que me devem cobrarei no inferno (Galpão VB, São Paulo, 2017), O museu inexistente (Funarte, São Paulo, 2017), em parceria com o artista Victor Leguy, Amanhã vai ficar tudo bem (Galpão VB, São Paulo, 2016), individual de Akram Zaatari, Cruzeiro do Sul (Paço das Artes, São Paulo, 2015) e Transperformance 3: Corpo estranho (Oi Futuro, Rio de Janeiro, 2014).
Luisa Duarte (Rio de Janeiro, 1979) é crítica de arte, curadora independente e professora. Mestre em filosofia pela Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP), é doutoranda em teoria da arte pela UERJ. Foi crítica de arte do jornal O Globo, entre 2009 e 2017 e membro do Conselho Consultivo do MAM-SP (2009-2012). Integrou a equipe curatorial do programa Rumos Artes Visuais / Itaú Cultural (2005-2006) e coordenou o ciclo de conferências A Bienal de São Paulo e o meio artístico brasileiro – Memória e projeção (28ª Bienal de São Paulo, 2008). Organizadora, com Adriano Pedrosa, do livro ABC – Arte brasileira contemporânea, foi também curadora das exposições Quarta-feira de cinzas (Escola de Artes Visuais do Parque Lage, 2015) e Tunga – O rigor da distração (MAR, 2018), entre outras.
Miguel A. López (Lima, 1983) é escritor, pesquisador e curador-chefe do TEOR/éTica, em San José, Costa Rica, e cofundador do Bisagra, espaço independente ativo desde 2014 em Lima. Seu trabalho investiga dinâmicas colaborativas e rearticulações feministas da arte e da cultura nas últimas décadas. Foi curador de exposições como Energías sociales / fuerzas vitales, Natalia Iguiñiz: arte, activismo, feminismo 1993-2018 (ICPNA, Lima, 2018) e The Words of Others: León Ferrari and Rhetoric in Times of War (REDCAT, Los Angeles, e Perez Art Museum, Miami, 2017-2018). Organizou o livro Robar la historia. Contrarrelatos y prácticas artísticas de oposición (Metales Pesados, 2017). Em 2016, recebeu o Independent Vision Curatorial Award da Independent Curators International (ICI, Nova York).
SOBRE O VIDEOBRASIL
O Videobrasil é uma plataforma de arte e uma associação cultural que pesquisa e difunde a produção artística das regiões do Sul geopolítico do mundo – América Latina, África, Leste Europeu, Ásia e Oriente Médio. Criado e dirigido por Solange Farkas, integra uma rede de ações que inclui exposições, mostras, publicações, documentários, encontros e residências artísticas. Com mais de mil obras em vídeo e quatro mil itens, seu acervo é referência para conservação de vídeos, videoinstalações e registros de performance no continente.
21ª BIENAL DE ARTE CONTEMPORÂNEA SESC _VIDEOBRASIL – COMUNIDADES IMAGINADAS
Até 2 de fevereiro de 2020
De terça a sábado, das 9h às 21h; domingos e feriados, das 9h às 18h
Sesc 24 de Maio
www.bienalsescvideobrasil.org.br
SESC 24 DE MAIO
Rua 24 de Maio, 109, Centro, São Paulo/SP, a 300 m do metrô República
Fone: (11) 3350-6300
Horário de funcionamento da unidade
Terça a sábado, das 9h às 21h; domingos e feriados, das 9h às 18h.
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