Na Terra Indígena Ñande Ru Marangatu, na violenta e devastada fronteira do Mato Grosso do Sul com o Paraguai, vive a professora indígena Alenir Aquino Ximendes, que luta pelo direito de sua comunidade a terras ancestrais. No outro lado dessa disputa está Luana Ruiz Silva, herdeira da propriedade em litígio, que se tornou advogada para lutar pelas terras compradas por seu avô na segunda metade do século XX. A partir das visões dessas duas mulheres antagônicas, as diretoras brasileiras Laura Faerman e Marina Weis explicitam o processo histórico de expulsão e a violência contra os Guarani-Kaiowá no Centro Oeste. De quebra, acompanharam por cinco anos a subida da extrema-direita ao poder no Brasil.
O documentário “Vento na Fronteira” é um dos três filmes brasileiros qualificados para disputar a categoria no Oscar 2023. O resultado dessa etapa do Oscar sai na terceira semana de dezembro. Esta é a primeira fase de filmes que tiveram reconhecimento internacional em 2022. O filme concorre à próxima etapa, chamada “short list”, em que serão selecionados 15 filmes, de onde sairão os cinco nomeados à disputa final do Oscar.
O documentário teve sua estreia estadunidense no maior festival de documentários do país, o DOC NYC, em Nova York. Recebeu em 2022 as seguintes premiações: Prêmio Especial do Júri no Hot Docs Film Festival (um dos festivais de documentários mais importantes e concorridos do mundo, no Canadá), o de Melhor Documentário Internacional no Durban International Film Festival (o maior e mais longevo festival do continente africano, na África do Sul), o Prêmio Benedetto Senni no Terra di Tutti Film Festival (Itália) e o de Melhor Direção no Festival Filmambiente (Brasil).
No dia 27 de novembro, recebeu a Menção Especial do Júri no Festival Del Cinema Dei Diritti Umani Di Napoli: “Pela coragem com que o filme opta por representar a oposição entre fazendeiros e o povo Guarani-Kaiowá em um território disputado. Por meio de escolhas estilísticas precisas, consegue apresentar pontos de vista distantes e opostos: o excludente e exclusivista dos proprietários e o dos indígenas, que vivem a terra de forma simbiótica e cuja narração atemporal sublinha os vínculos e não as fronteiras e exclusões. Dessa oposição emerge também a importância de combinar a mera proteção dos direitos privados com uma maior atenção à dimensão comunitária e social da existência e dos direitos humanos”.
A partir da Comissão da Verdade
Em 2014, as diretoras Laura Faerman e Marina Weis acompanharam a Comissão Nacional da Verdade Indígena, que, pela primeira vez, investigou os abusos contra os povos originários pela ditadura, que resultaram em mais de oito mil indígenas mortos.
A partir dessa pesquisa, as diretoras criaram a série audiovisual “A Memória Perigosa”, com seis episódios de 26 minutos cada. O material reúne arquivos inéditos e testemunhos de antropólogos, indigenistas, jornalistas, líderes indígenas e anciãos que sobreviveram aos anos de chumbo. Após essa parceria, as cineastas continuaram o trabalho a partir da realidade atual do Mato Grosso do Sul.
Laura desenvolve, no Brasil, projetos cinematográficos como diretora e produtora, em defesa dos direitos humanos e do meio ambiente. Trabalha com projetos audiovisuais no “De Olho nos Ruralistas”, veículo de mídia independente que monitora o agronegócio brasileiro e seus impactos sociais e ambientais. Marina vive em Berlim, na Alemanha, onde entrelaça seu ofício cinematográfico com trabalhos sócio comunitários, eco feminismo e permacultura.
(Fonte: Avocar Comunicação)