A Fundação Bienal de São Paulo realiza esta semana o lançamento virtual da publicação educativa da 34ª Bienal de São Paulo Faz escuro mas eu canto, Primeiros ensaios. Serão três eventos on-line, nos dias 10, 11 e 12 de junho, sempre às 19h, com transmissão ao vivo pelo Webinar Center. Com cerca de 1h de duração, cada transmissão é dedicada a conteúdos que estruturam Primeiros ensaios e conta com a participação gravada de autores e artistas que colaboraram com a publicação. As lives terão mediação e serão abertas para comentários e perguntas.
Inspirado no pensamento do filósofo e poeta martinicano Édouard Glissant, o livro aposta na diversidade de percepções como estrutura potente para a construção de relações de aprendizagem com a 34ª Bienal – Faz escuro mas eu canto. A publicação assume, portanto, que a complexidade dos conhecimentos e das realidades que nos cercam no mundo contemporâneo exige o esforço por não se relacionar apenas com um único ponto de vista. De acordo com o curador geral da 34ª Bienal, Jacopo Crivelli Visconti, “nunca temos a ambição de explicar as coisas do começo ao fim, porque nossa visão é a mesma do Glissant, de que sempre há uma parte do outro, uma parte grande ou pequena, que você não vai entender. E o esforço que se faz é para que você tenha uma relação com esse outro, mesmo não entendendo”.
No dia 10 de junho, o tema será Em torno do Bendegó e contará com a participação gravada da professora universitária (UFRJ) e curadora da meteorítica do Museu Nacional Maria Elizabeth Zucolotto e do artista indígena Gustavo Caboco. O meteorito do Bendegó foi encontrado no sertão brasileiro do estado da Bahia, em 1784. Com 5.360 quilos, é o maior siderito já achado em solo brasileiro. A rocha resistiu ao fogo do Museu Nacional no Rio de Janeiro em 2018. Na publicação, o Bendegó funciona como um enunciado para abordar noções de resistência, perenidade e resiliência.
O evento do dia 11, por sua vez, será Em torno do Sino de Ouro Preto, com entrevistas da professora universitária (PUC SP) Christine Greiner e da artista Eleonora Fabião. O sino da capela do Padre Faria, datado de 1750 e localizado na cidade mineira de Ouro Preto, foi tocado em duas ocasiões marcantes na história do Brasil: o dia da morte de Tiradentes e na inauguração de Brasília. Esse símbolo mobilizou pesquisas em torno da repetição e da diferença, de memória(s) e futuro e da relação entre corpo e conhecimento.
No último encontro, no dia 12, serão abordadas temáticas Em torno dos Retratos de Frederick Douglass. O jornalista especializado em cultura, fundador e diretor da revista O Menelick: 2º Ato, Nabor Jr. e o artista Daniel de Paula contribuirão para o debate, que irá abordar também o Teatro Experimental do Negro. Frederick Douglass (1818-1895) foi um abolicionista negro norte-americano hoje reconhecido por sua capacidade como orador antirracista e por ter sido um pioneiro na compreensão da circulação da imagem fotográfica como instrumento político capaz de reiterar ou contrapor estereótipos de raça. Na publicação, sua figura mobiliza pesquisas sobre autorrepresentação, circulação e visibilidade.
Quem participar dos três eventos online ganhará um exemplar da versão impressa (a ser retirado no Pavilhão Ciccillo Matarazzo após retomada das atividades presenciais). A versão on-line da publicação já está disponível para download (http://34.bienal.org.br/educacao) na aba Educação do site da 34ª Bienal, onde também se encontra uma série de conteúdos complementares.
Link para inscrição dos encontros de lançamento: https://bit.ly/primeirosensaios.
Deana Lawson inaugura exposição na Suíça
Como parte das múltiplas ações expandidas da 34ª Bienal de São Paulo – Faz escuro mas eu canto, a fotógrafa norte-americana Deana Lawson inaugura no próximo dia 9 de junho a exposição individual Centropy no Kunsthalle Basel, na Basileia (Suíça). A exposição parte da pesquisa da fotógrafa sobre as diásporas africanas em vários lugares do mundo e inclui uma série inédita realizada em Salvador (BA), comissionada pela Fundação Bienal para esta edição da mostra.
Para realizar a série de fotografias comissionadas pela Bienal, Lawson viajou para o nordeste da Bahia, um dos lugares que há tempo ela queria visitar como parte da sua pesquisa sobre o imaginário e a visualidade de pessoas e lugares marcados pela forte presença de culturas de raiz africana. Sensível aos estereótipos nos retratos ocidentais de africanos e afrodescendentes, Lawson explora predominantemente tópicos como fisicalidade, identidade, gênero e família em uma prática que se baseia em longas pesquisas sobre negritude e representatividade. Embora revelem um profundo grau de intimidade com seus sujeitos, as fotografias de Lawson são meticulosamente encenadas e muitas vezes baseadas em desenhos e esboços que ela faz antes da sessão, além de incluir objetos de cena escolhidos pela artista. Produzidas em sua maioria em espaços domésticos, essas fotografias são carregadas de uma atmosfera ambígua entre o voyeurismo, o teatral, o etnográfico e o militante, sem encaixar-se plenamente em nenhuma dessas possíveis leituras da obra.
34ª Bienal de São Paulo
Marcada pelo encontro e potencialização mútua entre projeto curatorial e atuação institucional, a 34ª Bienal de São Paulo enfatiza a multiplicidade de leituras possíveis de uma obra e de uma exposição a partir do conceito de “relação”, abordado por pensadores como Édouard Glissant e Eduardo Viveiros de Castro. Para tanto, ela adotou uma estrutura de funcionamento inovadora, que envolveu a realização de mostras e ações apresentadas no Pavilhão da Bienal desde fevereiro de 2020 e a articulação com uma rede de instituições paulistas. Assim, foi realizada, entre fevereiro e março de 2020, a exposição da artista peruana Ximena Garrido-Lecca, cuja abertura foi concomitante à realização de uma performance inédita do sul-africano Neo Muyanga.
Com curadoria geral de Jacopo Crivelli Visconti, a equipe curatorial da 34ª Bienal é composta por Paulo Miyada (curador adjunto), Carla Zaccagnini, Francesco Stocchi e Ruth Estévez (curadores convidados). Para as publicações, Elvira Dyangani Ose atua como editora convidada e sua participação é uma colaboração com The Showroom, London.
Faz Escuro Mas Eu Canto
Encarado mais como uma afirmação que como um tema, o título da 34ª Bienal de São Paulo, Faz escuro mas eu canto, é um verso do poeta Thiago de Mello (1926, Barreirinha, AM) publicado em livro homônimo do autor em 1965. Em sua obra, o poeta amazonense fala de maneira clara dos problemas e das esperanças de milhões de homens e mulheres ao redor do mundo: “A esperança é universal, as desigualdades sociais são universais também (…). Estamos num momento em que o apocalipse está ganhando da utopia. Faz tempo que fiz a opção: entre o apocalipse e a utopia, eu fico com a utopia”, afirma o escritor. Jacopo Crivelli Visconti completa: “por meio de seu título, a 34ª Bienal reconhece o estado de angústia do mundo contemporâneo enquanto realça a possibilidade de existência da arte como um gesto de resiliência, esperança e comunicação”.
Deana Lawson: Centropy
Exposição individual
Parte da 34ª Bienal de São Paulo – Embora esteja escuro, ainda canto
9 de junho a 11 de outubro de 2020
Kunsthalle Basel, Suíça
34ª Bienal de São Paulo – Faz escuro mas eu canto
Equipe curatorial
Curador geral: Jacopo Crivelli Visconti
Curador adjunto: Paulo Miyada
Curadores convidados: Carla Zaccagnini, Francesco Stocchi e Ruth Estévez
Editora convidada: Elvira Dyangani Ose
A participação de Elvira Dyangani Ose é uma colaboração com The Showroom, London.