Por meio de pinturas, esculturas, instalações, trabalhos em suportes diversos, a artista Gabriella Garcia reflete sobre relações que evidenciam o jogo de duplas opostas: o sólido e o etéreo, o volume e o plano bidimensional, o condensado e o volátil, o passado e o presente. Uma síntese inédita desta pesquisa será apresentada em sua primeira individual na Galeria Lume: a mostra Esse Sonho Pode Nunca Acontecer, em cartaz a partir de 17 de julho. A artista traz ao público 29 obras, pinturas, instalações e esculturas, carregadas de símbolos da história da arte clássica, e nas quais divide seus questionamentos e reflexões em torno do pensamento hegemônico que pairava nos séculos anteriores.
No início de sua trajetória, seu processo artístico trazia o uso da colagem como força-motriz e hoje carrega suas influências, assim como das artes cênicas. Não ao acaso, a exposição é organizada em dois atos e, aberta a múltiplas leituras, conta com olhares distintos e complementares em textos críticos assinados por quatro curadores: Carollina Lauriano, Guilherme Teixeira, Ode e Paulo Kassab Jr.
No primeiro espaço da mostra, a representação do drapeamento – movimento dos tecidos e suas dobras – nos vãos entre as pinturas e esculturas criam abstrações e novas perspectivas. No segundo, situado na sala central da Lume, tudo se conecta e cada trabalho existe a partir do outro, em uma sala cujas paredes são pintadas por pigmento mineral. A relação com a representação e seus entornos permanece e a artista materializa a pintura e pinta a matéria por meio de suportes diversos como minerais, reproduções de imagens clássicas em gesso, telas, sedas e mármores.
“Através do elo de gesso e mármore, estudos de equilíbrio de pedras e objetos e pintura, matérias profanas e outras com condigno brio representativo, bem como do mimetismo e do processo de tornar estático o movimento, Garcia objetiva demonstrar como a utilização negacionista de modelos taxonômicos como arquétipos, catálogos, listas e índices, simultaneamente à propriedades líquidas como astronomia, astrologia, sonhos e memória, podem se realizar de modo rítmico e, ainda assim, irônico”, reflete a escritora e curadora independente Ode em seu texto.
Gabriella Garcia elabora um conjunto de pinturas e esculturas que lidam, a princípio, com a ideia da gestualidade e do fazer do objeto de arte. Para Carollina Lauriano, pesquisadora e curadora independente, a artista recorre ao que há de mais acadêmico e clássico na arte – seja em materialidade ou suporte – para justificar uma história oficial que já foi dada. “Ao observarmos a teatralidade empregada em seus trabalhos começamos a perceber que ali todo gesto pode estar sendo encenado e que as camadas podem esconder nuances que os olhos não veem. Assim como no ideal renascentista, a artista cria objetos que guardam ‘arrependimentos’ em si”, afirma Lauriano. Ideia complementada em trecho do texto assinado pelo curador Guilherme Teixeira: “Há aqui um lugar onde a imagem se permite falha e é da sua insuficiência em relação a vontade da espécie que algo vaza”.
A partir de sua obra, Gabriella Garcia proclama que não existe uma única narrativa, mas sim, que a história da arte deve ser constantemente ressignificada. “Aberta a múltiplas releituras, a exposição nos permite libertar o espírito crítico à luz da imaginação e despertar para uma leitura de mundo multiforme”, finaliza Paulo Kassab Jr., curador e sócio da Lume.
Sobre a artista | Gabriella Garcia (Rio de Janeiro 1992) é uma artista autodidata cuja prática transita entre escultura, pintura e instalação. Com um processo que tomou, em seu início, a colagem como força-motriz, o trabalho de Gabriella compreende não apenas o lugar onde está, como também aquilo de onde deriva. Figuras recortadas tomam o espaço a partir de trabalhos onde tecido, óleo, gesso, suportes e minerais, entre outros, dialogam na construção de peças que possuem em suas composições relações com o cênico, arquitetura e com a história. As imagens nas construções da artista, sejam elas bi ou tridimensionais, trabalham como que em um contínuo esforço de fusão: uma incessante busca de assimilação de materiais que, em suas essências, trazem na sua materialidade a presença e a representação. Os trabalhos colocam à prova um exercício vívido de confronto entre gesto e natureza, manipulação e relação, criando um jogo onde o que se entende como terreno é a possibilidade singular que o gesto artístico possui de tornar brutalidade, leveza. Ilusão, realidade.
Gabriella participou de exposições coletivas no Brasil como A Imensa Preguiça, na Galeria Sancovisky, em 2019, Da Lama Ao Caos, na Galeria Lume em 2020, participou da residência Pivô Pesquisa, em 2018, e internacionais, como You know you can buy it, no B32 ArtSpace (Maastricht, Holanda), em 2015, Collagism: a survey of contemporary collage, no Museu Strathroy Caradoc (Ontário, Canadá), em 2016, e Like me as you do, no Scandinavian Collage Museum (Rennebu, Noruega)e também apresentou sua primeira exposição individual internacional #FFFFFF em Berlim, na Galeria Aesthetik 01, com curadoria de Kristina Nagel. A artista vive e trabalha em São Paulo.
Serviço:
Esse Sonho Pode Nunca Acontecer, de Gabriella Garcia
Local: Galeria Lume
Abertura: 17 de julho, sábado, das 11h às 18h
Período expositivo: 17 de julho a 25 de setembro de 2021
Endereço: Rua Gumercindo Saraiva, 54 – Jardim Europa, São Paulo/SP
Horário: segunda a sexta-feira, das 10 às 19h e sábado, das 11 às 15h
Informações: (55) 11 4883-0351 e contato@galerialume.com
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