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Galeria Nara Roesler apresenta individual de Karin Lambrecht

São Paulo, por Kleber Patricio

A Nara Roesler acaba de anunciar a abertura de “Seasons of the Soul”, individual de Karin Lambrecht, com texto de David Anfam. A mostra, que inaugura o programa anual de exposições da galeria em São Paulo, apresenta uma seleção de cerca de vinte trabalhos da artista, entre pinturas e desenhos desenvolvidos ao longo de 2021 e fica em exibição de 18 de fevereiro a 26 de março de 2022 na sede paulistana da galeria.

A produção recente de Karin Lambrecht é reveladora das transformações ocorridas em sua prática desde sua mudança de Porto Alegre para Broadstairs, na ilha de Thanet, no Reino Unido. As amplas superfícies de cor com as quais a artista reveste suas telas são reminiscências das impressões e sensações causadas pela paisagem local e suas especificidades de luz.

Além da cor, outro elemento recorrente na prática da artista é a palavra. Em português, inglês, e, às vezes, em alemão, as palavras inscritas na tela, em muitos casos, dão título às obras. Esses, por sua vez, tanto podem evocar uma paisagem, como Lua Nova, Cliff [Penhasco], Cloud [Nuvem] e Céu, quanto uma esfera metafísica, como Ether, Cosmos e Pleasure [Prazer]. Nesse sentido, o nome da mostra, “Seasons of the Soul”, ou estações do espírito, é indicativo desse entrelaçamento entre o mundo subjetivo e o natural do qual emergem os trabalhos de Lambrecht.

As tonalidades terrosas e azuladas, típicas de sua pintura, são revisitadas em novos arranjos cromáticos e formais. Com uma luminosidade intensa, suas pinturas apresentam composições entre cores quentes e frias em um encontro harmônico de sutis gradações. Ao invés de contrastes marcados, nos deparamos com uma pintura matizada, menos matérica. Lambrecht ressalta, inclusive, que, agora, as tonalidades vermelhas têm menos relação com a terra, como em trabalhos anteriores, e muito mais a ver com o céu, já que uma das características que mais lhe chamou a atenção em Broadstairs é, justamente, a qualidade avermelhada que ele é capaz de adquirir ao fim do dia.

Já em papéis tão delicados quanto tecidos de seda, a artista desenha com a linha de costura, criando formas, rasuras e palavras, enquanto, com um pincel, realiza delicadas manchas que maculam a brancura do suporte. Para a artista, esses trabalhos, de natureza mais meditativa, são um contraponto às pinturas, que permitem uma gestualidade mais expansiva e uma feitura mais rápida.

“Seasons of the Soul” apresenta uma oportunidade de entrar em contato com a obra de  Karin Lambrecht, por meio da qual a artista reafirma, em sua pintura, a constituição de uma linguagem singular e poética voltada para as sublimes manifestações dos entrelaçamentos entre o espírito e a natureza. O texto de Anfam, por sua vez, escritor e curador especialista em pintura abstrata, em especial o expressionismo abstrato norte-americano, amplia as leituras críticas do trabalho da artista de modo a compreender as especificidades de sua produção.

Karin Lambrecht | Toda a produção de Karin Lambrecht em pintura, desenho, gravura e escultura demonstra uma multifacetada preocupação com as relações entre arte e vida, compreendida em sentido abrangente: trata-se de vida natural, vida cultural e vida interior. Para o pesquisador Miguel Chaia, os processos técnico e intelectual de Lambrecht se inter-relacionam e se mantêm evidentes nas obras para criar uma “visualidade espalhada na superfície e direcionada para a exterioridade”. Seu trabalho é ação que funde corpo e pensamento, vida e finitude.

Karin Lambrecht nasceu em 1957, em Porto Alegre, Brasil. Atualmente ela vive e trabalha em Broadstairs, Reino Unido. Algumas de suas exposições individuais incluem: “Karin Lambrecht – Entre nós uma passagem”, no Instituto Tomie Ohtake (ITO) (2018), em São Paulo, Brasil; “Karin Lambrecht – Assim assim”, no Oi Futuro (2017), no Rio de Janeiro, Brasil; “Nem eu, nem tu: Nós”, no Espaço Cultural Santander (2017), em Porto Alegre, Brasil e “Pintura e desenho”, no Instituto Ling (2015), em Porto Alegre, Brasil. Participou das 18ª, 19ª e 25ª edições da Bienal de São Paulo (1985, 1987 e 2002) e da 5ª Bienal do Mercosul, Porto Alegre (2005), todas no Brasil. Exposições coletivas de que participou nos últimos anos incluem: “Alegria – A natureza-morta” nas coleções MAM Rio, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM Rio) (2019), no Rio de Janeiro, Brasil; “Tempos sensíveis” – Acervo MAC/PR, no Museu Oscar Niemeyer (MON) (2018), em Curitiba, Brazil; “Clube da gravura: 30 anos”, no Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM-SP) (2016), em São Paulo, Brasil e “O espirito de cada época”, no Instituto Figueiredo Ferraz (IFF) (2015), em Ribeirão Preto, Brasil.  Sua obra está presente em importantes coleções institucionais, como Fundação Patrícia Phelps de Cisneros, Nova York, Estados Unidos; Ludwig Forum fur Internationale Kunst, Aachen, Alemanha; Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM Rio), Rio de Janeiro, Brasil e Pinacoteca do Estado de São Paulo, São Paulo, Brasil.

David Anfam | David Anfam é escritor, curador e especialista em arte moderna norte-americana. É curador e consultor sênior do Museu Clyfford Still, em Denver, Estados Unidos, onde é também diretor do Centro de Pesquisa. Suas publicações incluem: “Abstract Expressionism” (1990), o catálogo raisonné “Mark Rothko: Works on Canvas” (1998), que ganhou o prémio Mitchell em 2000, bem como seus estudos sobre Anish Kapoor, Edward Kienholz e Wayne Thiebaud.

Nara Roesler | Nara Roesler é uma das principais galerias brasileiras de arte contemporânea, representando artistas brasileiros e internacionais fundamentais que iniciaram suas carreiras na década de 1950, bem como artistas consolidados e emergentes cujas produções dialogam com as correntes apresentadas por essas figuras históricas. Fundada por Nara Roesler em 1989, a galeria tem consistentemente fomentado a prática curatorial, sem deixar de lado a mais elevada qualidade da produção artística apresentada. Isso tem sido ativamente colocado em prática por meio de um programa de exposições criterioso, criado em estreita colaboração com seus artistas; a implantação e estímulo do Roesler Curatorial Project, plataforma de iniciativas curatoriais, assim como o contínuo apoio aos artistas em mostras para além dos espaços da galeria, trabalhando com instituições e curadores. Em 2012, a galeria ampliou sua sede em São Paulo; em 2014, expandiu para o Rio de Janeiro e, em 2015, inaugurou um espaço em Nova York, dando continuidade à sua missão de oferecer a melhor plataforma para seus artistas apresentarem seus trabalhos.

Karin Lambrecht – “Seasons of the soul”

Nara Roesler São Paulo

Abertura: 17 de fevereiro

Exposição: 18 fev – 26 mar, 2022.

(Fonte: Ju Vilela Press)