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Grupo Magiluth comemora 20 anos com estreia de Édipo REC no Sesc Pompeia

São Paulo, por Kleber Patricio

Fotos: Estúdio Orra.

Para celebrar duas décadas de uma pesquisa continuada, o grupo recifense Magiluth propõe uma reflexão sobre o mundo de hoje a partir de um grande clássico da literatura. O espetáculo ‘Édipo REC’, uma releitura do texto de Sófocles, faz sua temporada de estreia entre 27 de setembro e 26 de outubro no Teatro do Sesc Pompeia, em São Paulo. As sessões acontecem de quinta a sábado, às 20h, e, aos domingos, às 17h. Além disso, no dia 12 de outubro, sábado, a apresentação é às 17h, e há sessões extras nos dias 9 e 23 de outubro, às quartas-feiras, às 20h. Atenção: nos dias de eleição, 6 e 27 de outubro, não haverá apresentações.

A peça, a 15ª da companhia, reforça a parceria do grupo com o encenador paulista Luiz Fernando Marques. “É o nosso quarto trabalho dirigido por ele. Brincamos que, na verdade, ele é um integrante de honra do Magiluth”, conta Giordano Castro, que assina a dramaturgia de Édipo REC.

No elenco estão Bruno Parmera, Erivaldo Oliveira, Giordano Castro, Lucas Torres, Mário Sergio Cabral e Pedro Wagner. Há também a presença da atriz Nash Laila, parceira do Magiluth em trabalhos audiovisuais, como a série Chão de estrelas e o filme Tatuagem. “Para esta nova montagem, queríamos fazer algum trabalho diferente do que vínhamos fazendo. Então, revisitamos a nossa trajetória e, tendo em mente a experiência com o Dinamarca, quisemos nos aproximar de outro clássico. Como nunca flertamos diretamente com uma tragédia grega, o Édipo foi a nossa escolha”, acrescenta Castro.

O REC do título faz uma referência direta ao Recife e à nomenclatura do audiovisual que significa ‘gravando’. Isso porque a peça explora um certo imaginário do Recife de 2024 e a logística de gravação presente desde o cinema da Era de Ouro. “E um dos aspectos que nos atrai nas pesquisas do Luiz Fernando Marques é justamente essa ponte com a Sétima Arte”, complementa.

Sobre a encenação

Édipo REC brinca com a cronologia, ou seja, os acontecimentos não seguem uma ordem linear. O grupo também optou por este caminho para questionar a noção de tempo no teatro: como dimensionar algo que não é palpável?

Tudo começa com a alegria de um reino que vive seu momento de renascimento, marcado aqui pelo exagero, em um paralelo com a contemporaneidade, em que existe a produção excessiva de imagens, tanto as de câmeras de segurança quanto às capturadas pelos celulares para o compartilhamento nas redes sociais. Por isso o Coro é a câmera. Durante esse momento de descontração, muitas pequenas situações trágicas podem acontecer. E, em 2024 alguém, em algum lugar, pode estar gravando. Nesse contexto, talvez seja melhor não investigar o passado e seguir vivendo. Por que, afinal, quanto tempo dura uma tragédia? 20 anos? Uma vida inteira? Por toda a eternidade?

Em meio a uma tensão sutil, mas crescente, apresentam-se aqueles personagens que estão no imaginário literário há séculos: Édipo, Jocasta, Creonte, Tirésias, Corifeu, Coro e Mensageiro. Mas eles não estão sós. Na verdade, estão todos na convivência com outros corpos, de outros tempos, com suas pestes, seus enigmas, suas sinas.

Assim, o espectador acompanha um jogo cruzado de tempo e espaço. Tebas transforma-se em uma Recife-Pompéia fantasmagórica e presentificada. “O público vivencia duas experiências: a primeira é essa grande celebração, quando Édipo tem esperança de fugir do próprio destino. Depois, as pessoas passam a acompanhar a tragédia em si, junto com o protagonista”, afirma Giordano.

Édipo e o cinema 

Como a linguagem audiovisual era fundamental para a construção do espetáculo, o grupo logo foi buscar referências no cinema. E uma das primeiras e mais importantes inspirações foi o longa-metragem Édipo Rex (1967), do italiano Pier Paolo Pasolini (1922–1975). O filme também atualiza o mito de Sófocles, transferindo a história para a agitação urbana da Bolonha dos anos 1960, além de estruturar a narrativa na forma de flashbacks, mesma estratégia utilizada na peça.

O experimentalismo era outra questão importante para o Magiluth. Por isso, as pesquisas evoluíram para o cinema underground japonês. Assim, Funeral das Rosas (1969), de Toshio Matsumoto (1932–2017), serviu como uma referência poética para Édipo REC. A obra faz um mergulho no deslumbrante mundo noturno das drags e divas de Tóquio na década de 60.

Outros filmes que serviram de base para o trabalho foram Hiroshima, meu amor (1959), de Alain Resnais (1922–2014); Cinema Paradiso (1990), de Giuseppe Tornatore (1956-) e Cabaret (1972), de Bob Fosse (1927–1987).

“Quando fizemos essa intersecção com a Sétima Arte, pudemos pensar sobre o poder da imagem. O Édipo acredita tanto nessa projeção que criou para si mesmo, de que é um tirano, que não consegue mais enxergar a sua verdadeira essência”, fala Luiz Fernando Marques. “O mesmo acontece hoje, já que as pessoas montam as suas vidas para as redes sociais, independente daquilo que elas estejam de fato vivendo. E quanto mais elas editam o seu cotidiano, mais acreditam nessas imagens, deixando também de perceberem a si próprias”, reflete.

Édipo REC questiona o papel do teatro e do cinema nos dias de hoje. “Nos perguntamos se essas artes são capazes de dar conta de tantas dores e tragédias. E ao mesmo tempo, queríamos entender por que as pessoas sairiam das suas casas para assistir a uma história tão antiga. Acreditamos que isso tenha a ver com uma necessidade humana de reproduzir e até de reviver grandes traumas”, completa o diretor.

Parceria com o FETEAG

Além das parcerias artísticas, o Magiluth contou com o apoio do FETEAG, festival internacional de teatro realizado anualmente na cidade de Caruaru, Pernambuco, desde 1981. O idealizador do evento, Fábio Pascoal, possibilitou uma residência do grupo, garantindo não só um local de ensaio como um pagamento para os artistas durante o período.

O grupo aproveitou a oportunidade para desenvolver um processo pedagógico durante os ensaios. “Passávamos o dia todo criando e, à noite, recebíamos pessoas interessadas que acompanhavam nossa evolução”, diz Giordano.

Sinopse | “Um determinado momento da vida em que surgem memórias repentinas, involuntárias e vívidas de experiências pessoais passadas. Em muitos casos, essas memórias poderosas estão intimamente ligadas a eventos traumáticos.” Esse é o conceito de Flashback, mas poderia ser sobre a vida de Édipo, não é? Então será! Vamos a Édipo REC, a tragédia à la Magiluth.

Ficha Técnica:

Criação: Grupo Magiluth, Nash Laila e Luiz Fernando Marques

Direção: Luiz Fernando Marques

Dramaturgia: Giordano Castro

Elenco: Bruno Parmera, Erivaldo Oliveira, Giordano Castro, Lucas Torres, Mário Sergio Cabral, Nash Laila e Pedro Wagner

Design de Luz: Jathyles Miranda

Design Gráfico: Mochila Produções

Figurino: Chris Garrido

Trilha sonora: Grupo Magiluth, Nash Laila e Luiz Fernando Marques

Cenografia e montagem de vídeo: Luiz Fernando Marques

Cenotécnico: Renato Simões

Vídeo Mapping e Operação: Clara Caramez

Captação de imagens: Bruno Parmera, Pedro Escobar e Vitor Pessoa

Equipe de Produção de vídeos: Diana Cardona Guillén, Leonardo Lopes, Maria Pepe e Vitor Pessoa

Produção: Grupo Magiluth e Corpo Rastreado.

Serviço:

Édipo REC

De 27/9 a 26/10 | quinta a sábado, às 20h; domingos, às 17h – exceto dias 6 e 27/10. Dia 12/10, sábado, às 17h. Dias 9 e 23/10, quartas, às 20h

Ingresso: R$60 (inteira), R$30 (meia-entrada), R$18 (credencial plena) e grátis para crianças até 12 anos

Sesc Pompeia – Rua Clélia, 93, Pompeia, São Paulo, SP

Duração: 105 minutos

Classificação etária: 18 anos.

(Fonte: Com Daniele Valério/Canal Aberto Assessoria de Imprensa)