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Grupo Rotunda apresenta ‘A Cantora Careca’ no Teatro Arte e Ofício

Campinas, por Kleber Patricio

Crédito da foto: João Maria.

Crédito da foto: João Maria.

Dentre as características que fazem de um texto teatral, um clássico, está sua condição de, a cada período de retomada, propor diferentes significados. A Cantora Careca, de Eugène Ionesco, estreada em 11 de maio de 1950, faz parte do ciclo da obra de dimensão metafísica do autor do teatro do absurdo, por meio da qual nos é apresentada a sociedade humana como privada de realidade.

A nova montagem do Grupo Rotunda e TAO Produções, A Cantora Careca, tem direção de Sara Lopes e supervisão geral de Teresa Aguiar. No elenco estão Ariane Porto, Joel Barboza, Delma Medeiros, Jota Oliveira, Ramiro Lopes, Sara Lopes e Sérgio Vergílio, com cenários e figurinos da equipe e produção de Luiza Pasim.

A ideia de escrever de uma maneira tão inovadora para teatro nasceu da leitura de exercícios de conversação para a aprendizagem da língua inglesa. Esse manual ensinava, para Ionesco, o segredo de falar sem dizer nada, uma vez que não há nada de pessoal a dizer nesses exercícios. É assim que as personagens de Ionesco se comportam como autômatos: são simples e estereotipadas, vivem de frases feitas, acompanhadas de ações rotineiras.

A Cantora Careca aborda a história de duas famílias inglesas do pós-guerra, decadentes e pertencentes à burguesia: os Smith e os Martin. O tema principal centra-se na dificuldade de comunicação entre as pessoas – não têm nada para dizer umas às outras, ficando completamente desconectadas. As frases feitas, os clichés e os lugares comuns passam a dominar a comunicação diária, eliminando desta maneira a autenticidade do seio das relações humanas e gerando seres autômatos, desprovidos de emoções, de paixões, de utopias, perfeitamente substituíveis uns pelos outros, como se se tratassem de verdadeiros clones. Seres que deixaram de pensar, absorvidos pelo mundo da alienação, do autismo, da demência, da realidade virtual.

A crise de valores que surgiu após a 2ª Guerra Mundial, o retrato que nos chega dessa época depressiva, encontra paralelo em nossos dias: o trabalho elaborado com a linguagem em A Cantora Careca adivinha o futuro da comunicação e das relações humanas, deixando perceber, em seu cerne, a virtualização da linguagem.

A montagem simplifica ao máximo os elementos da cena, reconhecendo o desejo de anti-teatro do autor, centrando-se no texto para reconhecer, uma vez mais, sua atualidade, criatividade e clarividência, antecipadoras de futuros problemas humanos.

Serviço

Temporada de estreia:

29 e 30 de abril e 6 e a 7 de maio 2016 – 20h30

TAO – Teatro Arte e Ofício – R. Cons. Antônio Prado, 529 – Vila Nova, Campinas/SP

Telefone: (19) 3241-7217

Ingressos: $20,00 (inteira) e $10,00 (meia e idosos).