Notícias sobre arte, cultura, turismo, gastronomia, lazer e sustentabilidade

MAM SP apresenta exposição “ruptura e o grupo: abstração e arte concreta, 70 anos”

São Paulo, por Kleber Patricio

Hermelindo Fiaminghi (São Paulo, SP, 1920-São Paulo, SP, 2004). “Círculos com movimento alternado”, 1956. Coleção MAM São Paulo. Foto: Romulo Fialdini.

O Museu de Arte Moderna de São Paulo recebe a exposição “ruptura e o grupo: abstração e arte concreta, 70 anos”, a partir do dia 2 de abril. A mostra realiza uma releitura da exposição histórica do grupo Ruptura, que aconteceu no MAM São Paulo em 1952 e teve duração de somente 12 dias. Naquela ocasião, o grupo lançou um manifesto homônimo que defendia novos paradigmas para a arte. O documento e a exposição apontaram diretrizes para a formação da arte concreta brasileira ao longo da década de 1950.

Com curadoria de Heloisa Espada e Yuri Quevedo, a mostra propõe uma revisão crítica do legado da arte construtiva no Brasil. O manifesto Ruptura criticava a figuração e, sem mencionar uma única vez os termos “abstração” ou “arte concreta”, apontava para essas linguagens como sendo “o novo” na arte. Em 2022, o conjunto de obras expostas traz à tona novas reflexões, questionamentos e análises. Para a curadora Heloisa Espada, “Olhar para o grupo Ruptura hoje não significa aderir sem crítica às ideias apresentadas nos anos 1950, mas considerar as circunstâncias de seu aparecimento, assim como as várias contradições entre o que os artistas escreviam e aquilo que eles faziam. Ainda assim, a pesquisa visual desses artistas tinha uma conotação libertária, pois se propunha a imaginar novas formas de organizar o mundo no pós-guerra”.

Os artistas do Ruptura adotaram uma linguagem geométrica de cores vibrantes que não se confundia com as imagens da natureza. A proposta de uma arte não figurativa, que não representasse as aparências do mundo, buscava criar uma relação franca e direta com a realidade. Para eles, na arte, apenas elementos visuais como cores, linhas e formas poderiam ser de fato considerados reais, pois eles não simulavam nenhuma aparência – eram eles mesmos. Além disso, em suas obras, a repetição de formas e a adesão às leis da teoria da percepção conhecida como Gestalt criavam uma forte sensação de movimento e ritmo visual. A ideia de movimento projetava o dinamismo que os artistas do Ruptura desejavam ver na sociedade brasileira.

Barros, Geraldo de 2001.035 – Romulo Fialdini. Tombo: 2001.035.
Geraldo de Barros (Chavantes, São Paulo, Brasil, 1923-São Paulo, São Paulo, Brasil, 1998). “Sem título” – São Paulo – Brasil, circa 1947. fotografia em papel de gelatina/prata, 40 x 30,1 cm. Coleção MAM São Paulo, Patrocínio Petrobrás, 2001. Foto: Romulo Fialdini

Em um primeiro momento, “ruptura e o grupo: abstração e arte concreta, 70 anos” aborda a mostra original do grupo Ruptura no MAM, em 1952, por meio de um conjunto de documentos e de obras realizadas pelos artistas no início daquela década. Entre elas, estão duas pinturas que estiveram na exposição histórica: “Desenvolvimento ótico da espiral de Arquimedes” (1952), de Waldemar Cordeiro, e “Vibrações verticais” (1952), de Luiz Sacilotto.

Em seguida, a exposição aborda a produção do grupo ao longo da década de 1950, quando alguns artistas se afastam e novos nomes se aproximam do Ruptura, como Judith Lauand, por exemplo. “Há uma discussão se o grupo Ruptura existiu como tal apenas na exposição de 1952 ou se ele tem uma duração mais longa. Essa dúvida se esclarece quando lemos os depoimentos dos artistas que entraram depois e seguiram se referindo a eles mesmos como parte do Ruptura. Também percebemos a proximidade ao olhar para as obras, porque há entre elas uma coerência de preocupações e uma coincidência dos problemas que enfrentam”, explica Yuri Quevedo.

Durante a década de 1950, os artistas participantes são Anatol Wladyslaw, Geraldo de Barros, Hermelindo Fiaminghi, Judith Lauand, Kazmer Féjer, Leopold Haar, Lothar Charoux, Luiz Sacilotto, Maurício Nogueira Lima e Waldemar Cordeiro.

A mostra conta com obras raramente vistas de Haar, que estão guardadas em acervo familiar desde que o artista faleceu, em 1954, não tendo sido exibidas em nenhum local desde então. Heloisa Espada aponta que, por existir um limite tênue entre as esculturas que produzia e as maquetes de projetos para vitrines, “Haar é um dos artistas que melhor exemplifica a proposta do Ruptura de que a arte deveria ter uma aplicação prática na vida das pessoas”. Quevedo acrescenta que “O grupo defendia a abstração como projeto de transformação, capaz de permear o cotidiano das pessoas, influenciando a indústria e organizando a vida em suas mais diversas escalas: das artes plásticas ao design, da arquitetura à cidade”.

Wladyslaw, Anatol 2007.289 – Romulo Fialdini. Tombo: 2007.289. Anatol Wladyslaw Naftali (Varsóvia, Polônia, 1913-São Paulo, São Paulo, 2004). “Sem título”, 1955 – nanquim sobre papel, 36,1 x 16,4 cm. Coleção MAM São Paulo, doação Blanka Wladislaw, 2007. Foto: Romulo Fialdini

“Depois de antecipar as discussões sobre o centenário da Semana de Arte Moderna de 1922 no ano passado, a programação do MAM em 2022 reflete sobre uma outra geração de artistas modernos que estão intimamente ligados à história do museu. Trata-se de um grupo que participou ativamente dos primeiros anos do MAM e que tinha um ideal utópico que revela muito do ambiente cultural em que o MAM foi criado”, discorre Cauê Alves, curador-chefe do MAM São Paulo.

“A mostra sobre o grupo Ruptura, além de dar visibilidade a artistas tão importantes na invenção da arte concreta e no abstracionismo geométrico no Brasil, revê um momento fundamental da história da arte e da história do MAM. São poucas as instituições culturais que podem, 70 anos depois, revisitar uma exposição que ela mesma realizou”, diz Elizabeth Machado, presidente do Museu de Arte Moderna de São Paulo.

Artistas: Anatol Wladyslaw, Geraldo de Barros, Hermelindo Fiaminghi, Judith Lauand, Kazmer Féjer, Leopold Haar, Lothar Charoux, Luiz Sacilotto, Maurício Nogueira Lima e Waldemar Cordeiro.

Sobre o grupo Ruptura

O grupo Ruptura foi um conjunto de artistas que marcou o início do movimento de arte concreta em São Paulo, no Brasil. Criado em 1952, era liderado por Waldemar Cordeiro (também seu principal teórico) e composto, inicialmente, por Geraldo de Barros, Luiz Sacilotto, Lothar Charoux, Kazmer Féjer, Anatol Wladyslaw e Leopold Haar. Depois da primeira exposição, Maurício Nogueira Lima, Hermelindo Fiaminghi e Judith Lauand passaram a integrar o grupo. Em seu manifesto, é proposta a “renovação dos valores essenciais da arte visual” por meio de pesquisas geométricas, aproximando arte e indústria, e combatendo o abstracionismo lírico entendido como expressão individual inadequada para o contexto da arte daquele momento.

Sobre o MAM São Paulo

Fundado em 1948, o Museu de Arte Moderna de São Paulo é uma sociedade civil de interesse público, sem fins lucrativos. Sua coleção conta com mais de 5 mil obras produzidas pelos mais representativos nomes da arte moderna e contemporânea, principalmente brasileira. Tanto o acervo quanto as exposições privilegiam o experimentalismo, abrindo-se para a pluralidade da produção artística mundial e a diversidade de interesses das sociedades contemporâneas.

O Museu mantém uma ampla grade de atividades que inclui cursos, seminários, palestras, performances, espetáculos musicais, sessões de vídeo e práticas artísticas. O conteúdo das exposições e das atividades é acessível a todos os públicos por meio de visitas mediadas em libras, audiodescrição das obras e videoguias em libras. O acervo de livros, periódicos, documentos e material audiovisual é formado por 65 mil títulos. O intercâmbio com bibliotecas de museus de vários países mantém o acervo vivo.

Localizado no Parque Ibirapuera, a mais importante área verde de São Paulo, o edifício do MAM foi adaptado por Lina Bo Bardi e conta, além das salas de exposição, com ateliê, biblioteca, auditório, restaurante e uma loja onde os visitantes encontram produtos de design, livros de arte e uma linha de objetos com a marca MAM. Os espaços do Museu integram-se visualmente ao Jardim de Esculturas, projetado por Roberto Burle Marx para abrigar obras da coleção. Todas as dependências são acessíveis a visitantes com deficiência.

Serviço:

“ruptura e o grupo: abstração e arte concreta, 70 anos”

Período expositivo: 2 de abril a 3 de julho de 2022

Local: MAM São Paulo

Endereço: Parque Ibirapuera (Av. Pedro Álvares Cabral, s/nº – Portões 1 e 3)

Horários: terça a domingo, das 10h às 18h (com a última entrada às 17h30)

Telefone: (11) 5085-1300

Ingresso: R$25,00. Gratuidade aos domingos. Agendamento prévio necessário. Ingressos disponibilizados online no link.

Meia-entrada para estudantes, com identificação; jovens de baixa renda e idosos (+60). Gratuidade para crianças menores de 10 anos; pessoas com deficiência e acompanhante; professores e diretores da rede pública estadual e municipal de São Paulo, com identificação; sócios e alunos do MAM; funcionários das empresas parceiras e museus; membros do ICOM, AICA e ABCA, com identificação; funcionários da SPTuris e funcionários da Secretaria Municipal de Cultura.

Acesso para pessoas com deficiência

Restaurante/café

Ar-condicionado.

(Fonte: a4&holofote comunicação)