Movimento social ocorrido no Nordeste entre o final do século XIX e o início do século XX, o cangaço tem uma presença extensa na filmografia brasileira. Ele começa a aparecer no cinema nordestino, sobretudo pernambucano e baiano, a partir de 1925, quando o fenômeno estava em pleno andamento, em filmes como “Filho sem mãe” (1925), “Sangue de irmão” (1927) e “Lampião, a fera do nordeste” (1930). Desses títulos, infelizmente, nenhum sobreviveu.
O título mais antigo da mostra, “Lampeão” (1936), é um registro documental raro e intrigante de Lampião, Maria Bonita e seu grupo, mostrando cenas cotidianas de lazer e tranquilidade realizadas com grande esforço pelo cinegrafista Benjamin Abrahão, cuja odisseia para conquistar a confiança do grupo é ficcionalizada sessenta anos depois em “Baile perfumado” (1996).
Mas é com “O cangaceiro” (1953), de Lima Barreto, filme que completa 70 anos em 2023, que a representação do cangaço, do Nordeste e do bangue-bangue se consolida como um estilo cinematográfico tipicamente brasileiro, batizado pelo crítico Salvyano Cavalcanti de Paiva de ‘nordestern’. Isso porque esses filmes tinham uma clara inspiração nos westerns americanos e seus filmes de aventuras no Velho Oeste. O nordestern, tal como sua contemporânea, a chanchada, torna-se, portanto, um gênero produzido em série, com uma linha própria de valores e códigos.
Gênero controverso, tal como o próprio cangaço, por retratar o movimento por vezes como excessivamente violento, por vezes sob uma ótica romantizada e heroica, o nordestern foi produzido inclusive no Sul do país, sempre evocando os signos e o imaginário em torno do Nordeste, sua história e cultura.
Da trama de vingança e as cores vibrantes de “A morte comanda o cangaço” (1960), passando pelo documentário sociológico “Memória do cangaço” (1964), pelo épico de Glauber Rocha “O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro” (1967), pelo importante documentário “A musa do cangaço” (1982), que aborda a participação das mulheres no cangaço, até produções contemporâneas que evocam o fenômeno, como “Bacurau” (2019) e “Sertânia” (2019), dentre outros, a mostra convida o público a apreciar o mosaico de produções que compõem esse interessante movimento do cinema brasileiro.
A programação inclui também uma conversa com Kleber Mendonça Filho, co-diretor de “Bacurau”, antes da exibição de seu filme no dia 19, quinta, e uma mesa de conversa sobre mulheres no Cangaço no dia 28, sábado, com Walnice Nogueira Galvão e Maria do Rosário Caetano, organizadora do livro “Cangaço: o nordestern no cinema brasileiro”, que estará à venda no foyer Grande Otelo depois do debate.
Sábado infantil | A partir de janeiro de 2023, a Cinemateca Brasileira inicia sessões dedicadas às crianças com frequência quinzenal, sempre aos sábados. Serão exibidos filmes brasileiros e estrangeiros, de diferentes períodos e estilos, de modo a fomentar a formação de público cinematográfico desde a infância.
Mostra Nordestern: bangue-bangue à brasileira
De 19 a 28 de janeiro – grátis
Cinemateca Brasileira
Largo Senador Raul Cardoso, 207 – Vila Mariana – São Paulo (SP)
Horário de funcionamento
Espaços públicos: de segunda a segunda, das 08 às 18h
Salas de cinema: conforme a grade de programação.
Biblioteca: de segunda a sexta, das 10h às 17h, exceto feriados
Sala Grande Otelo (210 lugares + 4 assentos para cadeirantes)
Retirada de ingresso 1h antes do início da sessão.
Quinta-feira, 19 de janeiro
16:00 – Debate “Bacurau e o gênero Nordestern”
Kléber Mendonça Filho – Diretor, produtor, roteirista e crítico de cinema. Seu filme “Bacurau”, codirigido por Juliano Dornelles, conquistou o prêmio do júri no Festival e Cannes em 2019.
Luiz Felipe Miranda – Jornalista e pesquisador, autor do livro “Dicionário de Cineastas Brasileiros” (1990), coorganizador da “Enciclopédia do Cinema Brasileiro” (2000) e co-autor do livro “Cangaço: o Nordestern no cinema brasileiro”.
18:00 – “Bacurau”
Brasil | França, 2019, 133 min, cor, dcp, 16 anos
Direção: Kleber Mendonça Filho, Juliano Dornelles
Elenco: Sonia Braga, Udo Kier, Bárbara Colen, Thomás Aquino, Silvero Pereira, Wilson Rabelo, Carlos Francisco, Karine Teles
Sinopse: Num futuro próximo, Bacurau, um povoado do sertão de Pernambuco, some misteriosamente do mapa. Quando uma série de assassinatos inexplicáveis começam a acontecer, os moradores da cidade tentam reagir. Mas como se defender de um inimigo desconhecido e implacável?
Comentários: Sucesso de público e crítica, “Bacurau” recebeu entre outros, o prêmio do júri na competição oficial do Festival de Cannes em 2019.
Sexta-feira, 20 de janeiro
18:00 – “O Cangaceiro”
Brasil, 1997, 120 min, 35 mm, 12 anos
Direção: Aníbal Massaini Neto
Elenco: Alexandre Paternost, Paulo Gorgulho, Luíza Tomé, Ingra Lyberato, Lamartine Ferreira
Sinopse: Em meio à luta com as tropas organizadas por voluntários em busca de defesa de seus vilarejos, o conflito entre dois cangaceiros por causa de uma professora raptada a quem um deles pretende libertar por amor.
Comentários: Remake de “O cangaceiro”, de Lima Barreto.
20:00 – “Corisco e Dadá”
Brasil, 1996, 101 min, 16mm, 14 anos
Direção: Rosenberg Cariry
Elenco: Chico Díaz, Dira Paes, Bárbara Cariry, Antônio Leite
Sinopse: O capitão Corisco, cognominado de Diabo Loiro, é reputado por sua crueldade, valentia e beleza. Corisco rapta Dadá quando esta tinha 12 anos, condenando-a à difícil vida do cangaço. A partir daí, a vida do cangaceiro transforma-se por completo. Ele é um condenado de Deus, cujo destino é lavar com sangue os pecados do mundo. Dadá, que a princípio o odiava, vê o companheirismo, entre lutas e dificuldades, transformar-se em amor. É o amor de Dadá que humaniza Corisco e determina sua nova história. A história de um amor impossível, uma visão trágica e fascinante do homem e do sertão.
Comentários: Por sua atuação neste filme, Chico Diaz recebeu o Kikito de melhor atuação masculina na competitiva de Gramado e Dira Paes levou o Candango de melhor atriz no 29º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro. Além destes dois emblemáticos festivais, “Corisco e Dadá” participou também do Festival de Toronto e do de Havana.
Sábado, 21 de janeiro
15:00 – Sábado Infantil: “Uma Viagem ao Mundo das Fábulas”
The Secret of Kells
Irlanda, Bélgica, França, 2009, 75 min, 35 mm, livre
Direção: Tomm Moore, Nora Twomey
Elenco: Evanv McGuire,BrendanGleeson,Christen Mooney, MickLally, Michael McGrath,LiamHourican,Paul Tylak
Sinopse: Na remota floresta irlandesa, Cellach constrói uma fortaleza para se defender de um iminente ataque viking. O jovem sobrinho de Cellach é recrutado por um monge para completar uma série de tarefas perigosas e fazer magias.
Comentários: O estilo de desenho do filme é inspirado na arte celta e medieval, sendo o primeiro longa da trilogia de folclore irlandês dirigida por Toom Moore, que conta também com “A canção do oceano” (2014) e “Wolfwalkers” (2020). Filme selecionado para a 59ª edição do Festival Internacional de Cinema de Berlim, indicado ao Oscar de Melhor Animação e premiado como Melhor Filme no Festival de Cinema de Animação de Annecy.
17:00 – “Lampeão”
Direção: Benjamin Abrahão
Brasil, 1936, digital, 11 min, 12 anos
Elenco: Virgulino Ferreira da Silva, Maria Bonita, Verônica, Ezequiel Ponto Fino, Benjamin Abrahão, Mergulhão, Pancada, Virgínio, Durvinha
Sinopse: Cenas da vida cotidiana de Virgulino Ferreira da Silva – o chefe cangaceiro Lampião – e seu grupo, captadas pelo cinegrafista Benjamin Abrahão. As formas de sobrevivência na paisagem do sertão, os gestos, os hábitos, as vestimentas, a alimentação. Orgulhosos de sua condição, alguns membros do grupo aparecem ostentando suas armas e suas habilidades de combate na caatinga. Maria Bonita e Lampião surgem em instantes de descontração, ressaltando a harmonia interna do grupo.
Comentários: O imigrante libanês e almocreve Benjamin Abrahão decidiu se tornar cinegrafista para poder registrar imagens de Lampião e de seu bando que, em sua visão, eram muito diferentes do banditismo cruel perpetuado pela mídia. Nessa empreitada, realizou um filme de grande valor histórico que revela momentos de tranquilidade e intimidade do grupo.
“Baile Perfumado”
Brasil, 1996, 93 min, cor/p&b, 16 anos
Direção: Paulo Caldas, Lírio Ferreira
Elenco: Duda Mamberti, Luiz Carlos Vasconcelos, Aramis Trinidade, Chico Díaz, Joffre Soares, Cláudio Mamberti, Germano Haiut, Manoel Constantino, Giovanna Gold, Johnny Hooker, Daniela Mastroianni
Sinopse: O jovem libanês Benjamin Abrahão, homem de confiança de Padre Cícero, parte de Juazeiro, na década de 1930, em busca de recursos para realizar um velho sonho: filmar Lampião e seu bando. Para isso, recorre as pessoas influentes, especialmente um coronel amigo do cangaceiro, mas os sonhos do mascate são prejudicados pela ditadura do Estado Novo.
Comentários: O filme é um marco de virada na linguagem cinematográfica pernambucana e acompanha a retomada do cinema brasileiro no final da década de 1990. Imagens de Super 8 são misturadas com imagens de vídeo, criando uma estética que transita entre o cinema novo e os filmes de ação hollywoodianos. Combinando tradição e modernidade, a obra apresenta uma releitura do cangaço a partir de fatos verídicos: o encontro entre Benjamin Abrahão e Lampião. Trabalhando com imagens reais feitas por Abrahão, para o filme “Lampeão” (1936), é adicionada à obra um tom documental. “Baile Perfumado” teve público aproximado de 80 mil espectadores, além de ter sido exibido em festivais como Cannes, Havana, Toronto, Líbano e São Francisco. Foi premiado como melhor filme no Festival de Brasília de 1996.
19:00 – “O homem que virou suco”
Brasil, 1980, 97 min, 16 anos
Direção: João Batista de Andrade
Elenco: José Dumont, Aldo Bueno, Rafael de Carvalho, Ruthinéa de Moraes, Denoy de Oliveira, Dominguinhos, Ruth Escobar, Vital Farias
Sinopse: Deraldo, poeta popular recém-chegado do Nordeste a São Paulo, é confundido com o operário que matara o patrão. Perseguido, Deraldo tenta trabalhar na metrópole: construção civil, serviços domésticos, Metrô. Acuado e rebelde, tenta encontrar o verdadeiro assassino. Na busca, defronta-se com o meio operário: as indústrias mecânicas, a greve, a repressão.
Comentários: Filme bastante premiado nacional e internacionalmente, com destaque para a medalha de ouro no Festival Internacional de Moscou de 1981. Apresentando uma visão crítica do êxodo rural,a obra inclui em sua linguagem e enredo as influências da literatura de cordel e do repente.
Domingo, 22 de janeiro
16:00 – “A mulher no cangaço”
Brasil, 1976, 36 min, cor/p&b, livre
Direção: Hermano Penna
Elenco: Dadá, Maria Bonita, Cila, Adilia
Sinopse: Documentário sobre algumas das mais de 50 mulheres que estiveram no cangaço. Destaque para Dadá, Cila e Adilia. Dadá relembra o dia em que foi raptada por Corisco. Cila conta que teve que doar o filho, cujo parto foi feito por Maria Bonita, pois não dava para criar um bebê devido a peregrinação do bando pelas caatingas e sertões. Adilia conta que encontrou na companhia do marido, Canário, a liberdade que o pai lhe negava.
Comentários: Produzido para o Globo Repórter em 1976, o filme aborda, de maneira pioneira, a presença das mulheres no cangaço. Com depoimentos e imagens de arquivo reveladoras, a obra apresenta uma análise histórico-política das fases do movimento do cangaço, incluindo a entrada das mulheres nos bandos. “Menos vaidosas que os homens, as mulheres não eram responsáveis pela cozinha, não sofriam violências, produziam as festas, as danças, os enfeites, o lúdico e às vezes lutavam ombro a ombro com os homens, superando situações-limite (gravidez, ciclos menstruais), nos duros afazeres da campana que envolvia a travessia sertões, a sede e a fome” – Documento Globo Repórter.
“Canta Maria”
Brasil, 2006, 95 min,
Direção: Francisco Ramalho Jr
Elenco: Vanessa Giácomo, José Wilker, Ravi Ramos Lacerda, Edward Boggis, Eliete Cigarini, Francisco Carvalho, Marco Ricca
Classificação indicativa: 12 anos
Sinopse: Em 1930, o nordeste brasileiro está em guerra. Tropas do exército perseguem os cangaceiros e uma mulher vive nesse fogo cruzado: Maria.
18:20 – “O dragão da maldade contra o santo guerreiro”
Brasil, 1969, 95 min, 35mm, cor, 14 anos
Direção: Glauber Rocha
Elenco: Maurício do Valle, Odete Lara, Othon Bastos, Hugo Carvana, Joffre Soares, Lorival Pariz, Rosa Maria Penna, Emmanuel Cavalcanti
Sinopse: Antônio das Mortes é contratado por um coronel para exterminar um bando de cangaceiros. No caminho, cruza com desmandos de jagunços e coronéis, e se vê cara a cara com as dificuldades enfrentadas pelos sertanejos.
Comentários: Vencedor do prêmio de melhor diretor no Festival de Cannes e 1969, é o primeiro filme colorido de Glauber Rocha, fotografado por Affonso Beato. Rodado na cidade de Milagres, na Bahia (mesma cidade onde foi filmado “Os fuzis”, de Ruy Guerra), o filme retoma personagens e tipos de Deus e o diabo na terra do sol, outro longa de Glauber. Aqui, a teatralidade, a literatura de cordel e a religiosidade popular são conjuradas para expor os dramas da vida no Nordeste.
Quinta-feira, 26 de janeiro
18:00 – “Memória do Cangaço”
Brasil, 1964, 26 min, 16mm, p&b, livre
Direção: Paulo Gil Soares
Elenco: Paulo Gil Soares, Estácio de Lima, Gregório, José Rufino, Leonício Pereira, Benevides, Antônio Isidoro, Ângelo Roque, Benício Alves dos Santos, Sérgia Ribeiro da Silva
Sinopse: Entrevistas com alguns sobreviventes da luta no sertão. Depoimentos do Cel. Rufino, matador confesso de 20 cangaceiros, e do cabo Leonício Pereira, que cortava as cabeças dos cangaceiros “para que fossem tiradas fotografias”. Sob uma ótica médica, o diretor do Museu de Antropologia da Bahia tenta explicar a predisposição criminal dos cangaceiros a partir de características físicas de seus integrantes. E os próprios cangaceiros explicam seus motivos para terem se juntado ao bando.
Comentários: Realizado no estilo documentário sociológico, em alta no Brasil no início da década de 60, o filme é uma das colaborações do diretor Paulo Gil Soares com o produtor Thomas Farkas sobre a cultura nordestina.
“Os Últimos Cangaceiros”
Brasil, 2012, 79 min, digital, 14 anos
Direção: Wolney Oliveira
Elenco: Durvinha, Moreno, Dulce
Sinopse: Durante mais de meio século, Durvinha e Moreno esconderam sua verdadeira identidade até dos próprios filhos, que cresceram acreditando que os pais se chamavam Jovina Maria da Conceição e José Antonio Souto, nomes falsos sob os quais haviam reconstruído suas vidas. Durvinha e Moreno fizeram parte do bando de Lampião, o mais controverso líder do cangaço. A verdade só é revelada quando Moreno, então com 95 anos, resolveu dividir com os filhos o peso das lembranças e reencontrar parentes vivos, entre eles seu primeiro filho.
Comentários: Considerado o último cangaceiro homem e um dos últimos integrantes do bando de Virgulino Ferreira (O Lampião), Moreno morreu aos 100 anos em 2010. Sua esposa, Durvinha, faleceu em 2008, aos 93 anos. O documentário conta ainda com personalidades que fizeram parte da história e ainda vivem, como a cangaceira Dulce, entrevistada no filme, com 92 anos.
20:00 – “A morte comanda o cangaço”
Brasil, 1960, 108 min, cor, 14 anos
Direção: Carlos Coimbra
Elenco: Alberto Ruschel, Aurora Duarte, Milton Ribeiro, Maria Augusta Costa Leite, Gilberto Marques, Ruth de Souza
Sinopse: No interior do Ceará, em 1929, o camponês Raimundo Vieira tem sua fazenda atacada pelo bando do cangaceiro Silvério, a mando do Coronel Nesinho, padrinho do criminoso. Determinado a conseguir sua vingança, Vieira reúne alguns homens de confiança e sai à caça do bando para extinguir o cangaço com as próprias mãos.
Comentários: O filme introduziu no cinema de cangaço o uso de cores, com a fotografia marcante de Tony Rabatoni representando a geografia imponente do sertão nordestino.
Sexta-feira, 27 de janeiro
18:00 – “Menino de Engenho”
Brasil, 1965, 81 min, p&b, 35mm, livre
Direção: Walter Lima Jr.
Elenco: Geraldo Del Rey, Sávio Rolim, Rodolfo Arena, Anecy Rocha, Margarida Cardoso, Maria Lúcia Dahl, Antonio Pitanga, Maria de Fátima
Sinopse: 1920, na Paraíba. Ao ficar órfão, um menino passa a ser criado por seu avô e tios, ricos proprietários rurais, em um engenho de cana-de açúcar. Lá ele testemunha a chegada de um novo tempo, com o advento das modernas usinas de açúcar e as transformações econômicas e sociais em seu entorno.
Comentários: Adaptação do romance homônimo de José Lins do Rego, incluindo elementos de outras obras do escritor associadas ao chamado ciclo da cana-de-açúcar.
20:00 – “Sertânia”
Brasil, 2019, p&b, 97 min, dcp
Direção: Geraldo Sarno
Sinopse: Quando o bando de Jesuíno invade a cidade de Sertânia, Antão é ferido, preso e morto. O filme projeta a mente febril e delirante de Antão, que rememora os acontecimentos.
Comentários: Exibido no Festival de Havana, na Mostra de Cinema de Tiradentes e no Festival Ecrã, o filme foi bem recepcionado pela crítica especializada, sendo um dos filmes brasileiros mais comentados de 2020. É o último filme do diretor Geraldo Sarno, que faleceu em 2022, vítima de Covid-19.
Sábado, 28 de janeiro
16:00 – “A Mulher no Cangaço”
Brasil, 1976, 36 min, cor/p&b, livre
Direção: Hermano Penna
Elenco: Dadá, Maria Bonita, Cila, Adilia
Sinopse: Documentário sobre algumas das mais de 50 mulheres que estiveram no cangaço. Destaque para Dadá, Cila e Adilia. Dadá relembra o dia em que foi raptada por Corisco. Cila conta que teve que doar o filho, cujo parto foi feito por Maria Bonita, pois não dava para criar um bebê devido a peregrinação do bando pelas caatingas e sertões. Adilia conta que encontrou na companhia do marido, Canário, a liberdade que o pai lhe negava.
Comentários: Produzido para o Globo Repórter em 1976, o filme aborda, de maneira pioneira, a presença das mulheres no cangaço. Com depoimentos e imagens de arquivo reveladoras, a obra apresenta uma análise histórico-política das fases do movimento do cangaço, incluindo a entrada das mulheres nos bandos. “Menos vaidosas que os homens, as mulheres não eram responsáveis pela cozinha, não sofriam violências, produziam as festas, as danças, os enfeites, o lúdico e às vezes lutavam ombro a ombro com os homens, superando situações-limite (gravidez, ciclos menstruais), nos duros afazeres da campana que envolvia a travessia sertões, a sede e a fome” – Documento Globo Repórter.
Debate “Mulheres no Cangaço”
Maria do Rosário Caetano | Jornalista, pesquisadora, atualmente colabora com o Caderno 2, de O Estado de São Paulo e com a Revista de Cinema. É organizadora do livro “Cangaço: o Nordestern no cinema brasileiro”.
Walnice Nogueira Galvão | Crítica literária, professora emérita de teoria literária e literatura comparada da Universidade de São Paulo. Tem 40 livros publicados, sendo coautora do livro “Cangaço: o Nordestern no cinema brasileiro”.
Paulo Caldas | Diretor, roteirista e produtor. É co-diretor de “O baile perfumado”, um dos filmes mais elogiados da primeira safra da retomada do cinema brasileira no final dos anos 1990.
19:00 – “A Musa do Cangaço”
Brasil, 1982, 15 min, p&b, livre
Direção: José Umberto Dias
Elenco: Dadá
Sinopse: Visão interna do cangaço feita por Dadá, companheira de Corisco, subtenente do grupo de Lampião. Ela presta um depoimento sobre sua vivência entre os cabras de Lampião, “o rei do cangaço”, destacando sua forma de organização como grupo, o modo de comportamento, a luta pela sobrevivência, os códigos de honra, as táticas de guerrilha aplicadas e os amores dos cangaceiros.
Comentários: O documentário mostra o papel da mulher e sua participação efetiva nesse fenômeno de luta armada no Nordeste brasileiro. Revela lembranças afetivas de Dadá, os desafios enfrentados no cotidiano no bando, as estratégias de combate contra as forças armadas, as hierarquias e a ética interna do grupo. Prêmio de Melhor Produção Baiana e prêmio Pólo Cinematográfico na Jornada de Curta Metragem de Salvador.
“O Cangaceiro”
Brasil, 1953, 94 min, digital, p&b, 14 anos
Direção: Lima Barreto
Elenco: Alberto Ruschel, Marisa Prado, Milton Ribeiro, Vanja Orico, Adoniran Barbosa, Ricardo Campos, Neusa Veras, Zé do Norte
Sinopse: O bando de cangaceiros do capitão Gaudino semeia o terror pela caatinga nordestina. Num de seus ataques ele rapta a professora Olívia, mas ele e o seu braço direito, o valente Teodoro, ficam atraídos pela bonita cativa e a discórdia se instaura no bando.
Comentários: Premiado como melhor filme de aventura e melhor trilha sonora no Festival de Cannes de 1953, “O cangaceiro” foi um sucesso de crítica internacional e de público no Brasil, com cerca de 800 mil ingressos vendidos. Embora não tenha sido o suficiente para salvar da falência seu estúdio produtor, a ambiciosa Vera Cruz, que fecharia as portas um ano depois, o filme consagrou o gênero do cangaço no cinema brasileiro.
Cinemateca Brasileira
A Cinemateca Brasileira, maior acervo de filmes da América do Sul e membro pioneiro da Federação Internacional de Arquivo de Filmes – FIAF, foi inaugurada em 1949 como Filmoteca do Museu de Arte Moderna de São Paulo, tornando-se Cinemateca Brasileira em 1956, sob o comando do seu idealizador, conservador-chefe e diretor Paulo Emílio Sales Gomes. Compõem o cerne da sua missão a preservação das obras audiovisuais brasileiras e a difusão da cultura cinematográfica. Desde 2022, a instituição é gerida pela Sociedade Amigos da Cinemateca, entidade criada em 1962, e que recentemente foi qualificada como Organização Social.
O acervo da Cinemateca Brasileira compreende mais de 40 mil títulos e um vasto acervo documental (textuais, fotográficos e iconográficos) sobre a produção, difusão, exibição, crítica e preservação cinematográfica, além de um patrimônio informacional online dos 120 anos da produção nacional. Alguns recortes de suas coleções, como a Vera Cruz, a Atlântida, obras do período silencioso, além do acervo jornalístico e de telenovelas da TV Tupi de São Paulo, estão disponíveis no Banco de Conteúdos Culturais para acesso público.
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Twitter: cinematecabr
(Fonte: Trombone Comunica)