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Museu Afro Brasil celebra 20 anos com três exposições que homenageiam a cultura e a resistência afro-brasileira

São Paulo, por Kleber Patricio

Uma História do Poder na África. Banco Mbombo – Artista Luba não identificado – República Democrática do Congo. Fotos: Museu Afro Brasil.

No dia 23 de outubro de 2004, Emanoel Araujo (1940–2022) inaugurava o Museu Afro Brasil, um momento essencial para a valorização das contribuições africanas e afro-diaspóricas para a formação do país. Desde então, o museu tornou-se um espaço de memória, resistência e criação, voltado para o reconhecimento das lutas, conquistas e legados do povo negro.

Em comemoração ao seu 20º aniversário, o Museu inaugurou no dia 23 de outubro de 2024 três exposições que dialogam com diferentes facetas da arte, história, e cultura afro-brasileira: ‘Uma História do Poder na África’, ‘Popular, Populares’ e ‘Pensar e Repensar, Fazer e Refazer’. As mostras estarão abertas para visitação de terça a domingo das 10h às 17h e trazem obras que integram o espaço do Museu e refletem sobre o passado e o futuro da instituição.

As produções expostas reproduzem os desafios que o povo negro enfrenta e reimaginam a trajetória de luta da população preta no Brasil, reconhecendo a pavimentação desse caminho ao longo dos séculos e seu impacto na sociedade brasileira.

Uma História do Poder na África – Um olhar profundo sobre a centralidade africana

Uma Historia do Poder na Africa. Cachimbo – Artista Bamum e Bamileke.

O Ministério da Cultura apresenta Uma História do Poder na África, inspirada nas ideias de Cheikh Anta Diop. Uma História do Poder na África destaca a relevância da África na formação das civilizações mundiais, reconhecendo o Egito antigo como parte integrante do continente africano. As obras expostas exploram a intersecção entre passado e presente, com destaque para relíquias egípcias que reforçam a importância cultural e histórica do Egito para a África subsaariana.

Dois nomes contemporâneos ganham destaque: a angolana Damara Inglês e a guineense Gisela Casimiro, artistas com obras especialmente comissionadas para essa exposição. Ambas trazem perspectivas atuais que dialogam com o conceito de poder e ancestralidade africana, contribuindo para uma releitura crítica da arte africana em suas diversas manifestações.

Entre os artefatos e obras mais marcantes, estão o Trono do Reino Daomé, o Banco Luba e a Cabeça de bronze de Yoba, além de peças raras da antiga civilização egípcia. As conexões culturais entre o Egito e o resto da África, tão defendidas por Diop, são evidenciadas ao longo da mostra, que se divide em cinco núcleos temáticos.

Popular, Populares – A pluralidade do ‘popular’ nas artes 

Popular, Populares – Sem título – Artista Ciça – Cícera Fonseca da Silva.

A exposição Popular, Populares chegou em um momento oportuno, coincidindo com as comemorações dos 20 anos do Museu Afro Brasil. Ela enxerga questionamentos sobre o que é definido como ‘popular’ nas artes, desafiando as categorizações que rotulam muitas vezes esses artistas como ‘ingênuos’ ou com pouca formação acadêmica. A mostra apresenta obras de mestres como Cândido Santos Xavier, Luiz Antônio da Silva, Ciça – Cícera Fonseca da Silva, M. L. C. – Maria de Lurdes Cândido, Jadir João Egidio, M. C. M. – Maria Cândido Monteiro, Mestre Noza, Manuel Graciano Cardoso, Mestre Vitalino (e família), Véio e Dedé.

A pluralidade da arte popular é explorada em várias dimensões, desde as peças multicoloridas e antropo-zoomorfas até o minimalismo das formas. As obras são expostas em diálogo, permitindo ao visitante uma experiência imersiva. A viagem começa com os barcos de Exu de Cândido Santos Xavier, atravessa as memórias e retratos esculpidos da ‘Família quilombola’ de Mauro Firmino e se encerra no realismo fantástico de sereias e seres míticos brasileiros com esculturas de Resêndio e Manuel Graciano Cardoso.

O questionamento sobre o que é ‘popular’ atravessa toda a exposição, com o museu desafiando visões estereotipadas sobre o lugar dessas produções na história da arte brasileira. A arte popular, sempre plural, revela a resistência e a sobrevivência cotidiana de seus criadores.

Pensar e Repensar, Fazer e Refazer – Reflexões sobre o legado do Museu, uma linha do tempo da resistência

Pensar e repensar, fazer e refazer – Emanoel Araujo como preto velho, 2023 – Gustavo Nazareno.

Ao longo de duas décadas, o Museu Afro Brasil abrigou e promoveu exposições que celebram a história e a cultura afro-brasileira, e também desafiam narrativas que limitam o papel dos negros no Brasil e no mundo. Exposições como Brasileiro, Brasileiros (2004), Benin está vivo ainda lá (2007) e Isso é coisa de preto – 130 anos da abolição da escravidão: arte, história e memória (2018) mostram o esforço do museu em se posicionar como um espaço de luta coletiva.

Homenagens a figuras negras emblemáticas

Em paralelo à exposição, o Museu Afro Brasil prestará homenagens a figuras históricas que representam a luta e a conquista de espaço para a população negra no Brasil, como Ruth de Souza, atriz pioneira e primeira mulher negra a protagonizar uma peça no teatro brasileiro, que dá nome ao teatro do museu, e Carolina Maria de Jesus, escritora e catadora de papéis cujo nome batiza a biblioteca da instituição. Essas personalidades são exemplos de resistência e simbolizam a transformação social pela qual o museu trabalha desde sua fundação.

O legado de Emanoel Araujo

Emanoel Araujo, que dirigiu o Museu Afro Brasil até 2022, foi um incansável defensor da cultura negra e da pluralidade de narrativas afro-brasileiras. Ele desafiou a visão limitada da história propondo um museu em constante transformação, onde o passado e o presente se entrelaçam para recontar a história da diáspora negra de forma ampla e complexa. O conceito de ‘pensar e repensar’ orienta a nova exposição e reflete a visão de que o museu é um espaço que promove o dinamismo, sempre aberto a todos.

Sobre o Museu Afro Brasil Emanoel Araujo

O Museu Afro Brasil Emanoel Araujo é uma instituição da Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas do Estado de São Paulo administrada pela Associação Museu Afro Brasil – Organização Social de Cultura. Inaugurado em 2004, a partir da coleção particular do seu fundador, Emanoel Araujo (1940–2022), o museu é um espaço de história, memória e arte. Localizado no Pavilhão Padre Manoel da Nóbrega, dentro do mais famoso parque de São Paulo, o Parque Ibirapuera, o Museu Afro Brasil Emanoel Araujo conserva, em cerca de 12 mil m², um acervo museológico com mais de 8 mil obras apresentando diversos aspectos dos universos culturais africanos e afro-brasileiro e abordando temas como religiosidade, arte e história a partir das contribuições da população negra para a construção da sociedade brasileira e da cultura nacional. O museu exibe parte deste acervo na exposição de longa duração e realiza exposições temporárias.

Serviço:

Exposições: Uma História do Poder na África e Popular, Populares

Endereço do Museu: Parque Ibirapuera, Av. Pedro Álvares Cabral, s/nº, portão 10, São Paulo–SP (acesso via transporte público ou veículo de aplicativo)

Ingresso: gratuito

Estacionamento (Parque Ibirapuera)

Horário: 10h às 17h

A exposição Uma História do Poder na África é um projeto viabilizado pelo Ministério da Cultura por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura

Informações adicionais: Neste dia o museu terá gratuidade para visitação das 10h às 17h. Para mais detalhes sobre o evento e os artistas participantes, acesse as redes sociais do Museu Afro Brasil ou entre em contato pelo site oficial.

Acessos para automóveis: Portões 3 e 7.

(Com Ghabriella Costermani/Si Comunicação)