O Museu de Arte Sacra de São Paulo abre a mostra “Viúvas de Maridos Vivos”, de Leandro Junior, com pinturas com mais de dois metros de altura feitas com barro das encostas do Vale do Jequitinhonha. A curadoria é de Simon Watson.
A exposição marca a primeira individual institucional de Leandro Júnior, pintor e escultor figurativo que se inspira na forte cultura e intimidade fomentadas de forma única no vale rural do Jequitinhonha, localizado no sertão de Minas Gerais. Nascido e criado na Chapada do Norte, ele vem desenvolvendo sua arte a partir do barro que ele mesmo extrai e refina para ser aplicado em telas ou modelado e queimado em um forno, também feito de barro, para se transformarem em esculturas.
“Desde o primeiro contato com as obras de Leandro, há mais de quatro anos, tive o prazer de fazer três viagens ao Jequitinhonha, quando ele me apresentou o povo e os costumes da região e os jovens do Quilombo de Cuba, onde atuava como professor. Este é realmente um Iugar de pessoas humildes e generosas, imersas numa história viva e tumultuada”, diz o curador.
As chamadas “viúvas com maridos vivos” são comuns na região do Jequitinhonha: mulheres que se veem sozinhas — com o roçado, os filhos e todas as obrigações do lar — enquanto os maridos viajam para a colheita do café ou da cana, chegando a passar meses ou anos longe. Leandro, ele também filho de uma “viúva”, retratou 12 delas, sempre de costas e carregando utilitários na cabeça: lata de querosene, balaio, gamela, trouxa, saco, botija, lenha, bateia, pote de barro, bacia, leiteira. “São mulheres fortes, autônomas, protagonistas e independentes, vivendo como matriarcas numa sociedade patriarcal”, sugere o curador Simon Watson.
Padroeira do Quilombo de Cuba, a figura de Nossa Senhora Aparecida inspira fé em Leandro e em sua família. O artista já tinha feito uma estátua da santa, mas resolveu fazer uma representação em maior escala, com características Afro e expressão serena, esculpida ao longo de várias semanas de trabalho diretamente no jardim do MAS/SP. “É uma figura que me traz muita força”, conta o artista, que prepara argila em tons pretos e avermelhados para chegar ao resultado e construiu um forno na área externa do museu especialmente para a queima da escultura. “Nunca tinha feito nada nesse tamanho e dividi a composição da estátua em oito partes”, antecipa o artista.
Completa a exposição um teaser da série documental que o diretor brasileiro radicado em Nova York Diego Kelman Ajuz está produzindo no Jequitinhonha. O plano inicial era fazer uma série de vídeos curtos com entrevistas das viúvas retratadas por Leandro, mas a força dos depoimentos motivou o diretor a fazer um projeto maior, em nove episódios. “É uma chance de recontar a história do Brasil sob novos ângulos e longe dos clichês”, sugere Ajuz, que encontrou ali mulheres com valores e sabedorias que passam longe do conhecimento escolar/acadêmico. “Muitas delas não sabem ler nem escrever, mas falam olhando no olho, num contato direto, sem tanto ruído, donas de uma força e uma presença que nós talvez tenhamos perdido.”
LUZ Contemporânea | LUZ Contemporânea é um programa de exposições de arte contemporânea que se desdobra em eventos e ações culturais diversas, públicas e privadas. Desenvolvido pelo curador Simon Watson, o projeto, atualmente, encontra-se baseado no Museu de Arte Sacra de São Paulo. Nesse espaço, LUZ Contemporânea apresenta exposições temáticas de artistas convidados de modo a estabelecer diálogos conceituais e materiais com obras do acervo histórico da instituição. Embora fortemente focada no cenário artístico brasileiro atual, LUZ Contemporânea está comprometida com uma variedade de práticas, cultivando parcerias com artistas performáticos e organizações que produzem eventos de arte.
Exposição “Viúvas de Maridos Vivos”
Artista: Leandro Junior
Curadoria: Simon Watson
Abertura: 3 de abril de 2022 – domingo – às 12h
Período: de 5 de abril a 5 de junho de 2022
Local: Museu de Arte Sacra de São Paulo | MAS/SP
Endereço: Avenida Tiradentes, 676 – Luz, São Paulo/SP (ao lado da estação Tiradentes do Metrô)
Estacionamento gratuito/alternativa de acesso: Rua Jorge Miranda, 43 (sujeito à lotação)
Tel.: (11) 3326-5393 – informações adicionais
Horários: de terça-feira a domingo, das 9 às 17h (entrada permitida até às 16h30).
(Fonte: Balady Comunicação)