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Selo SESC lança obra completa para violino e piano de Claudio Santoro

São Paulo, por Kleber Patricio

Claudio Santoro. Foto: acervo da família.

O compositor e violinista Claudio Santoro (1919-1989) foi um moderno, um explorador, um eclético e sempre interessado a novas experimentações — um dos grandes autores brasileiros da música de concerto. Exímio compositor de quatorze sinfonias, uma ópera, inúmeras obras orquestrais, concertos, quartetos e obras de câmara, Santoro deixou um imenso legado repleto de embates estéticos, filosóficos e políticos. Durante o ano de 2019, orquestras, teatros e toda a produção brasileira ligada à música clássica, em particular, manteve-se envolta às lembranças e à genialidade deste músico brasileiro, que também atuou como maestro e professor universitário.

Ainda em comemorações ao centenário do amazonense — a completar 101 anos de nascimento neste 23 de novembro — o Selo SESC lança o álbum duplo Claudio Santoro – Obra completa para violino & piano, com Emmanuele Baldini e Alessandro Santoro. Um trabalho que reúne a primeira gravação da obra completa para violino e piano do compositor, incluindo quatro obras inéditas — uma oportunidade para conhecer a riqueza e o ecletismo deste célebre músico em Sonatas de estilos muito diferentes. O disco chega às plataformas digitais de streaming em 2 de dezembro, incluindo no SESC Digital, que oferece o conteúdo de forma gratuita e sem necessidade de cadastro. Devido à interrupção da produção de CDs durante o período da pandemia, a versão física do álbum de 24 faixas, com libreto, está prevista para sair no segundo quadrimestre de 2021.

Emmanuele Baldini, violinista italiano radicado no Brasil e spalla da Osesp (Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo) e Alessandro Santoro, pianista formado no conservatório de Moscou e responsável pelo acervo do compositor, seu pai, revelam neste projeto o mundo estético e artístico do fundador da Orquestra do Teatro Nacional de Brasília, atualmente Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional Claudio Santoro.

Foto: Alexandre Nunis.

Da integral das cinco Sonatas para violino e piano — reunidas no disco um — que abrangem duas importantes fases de criação do amazonense, o dodecafonismo dos anos 1940 e o nacionalismo dos anos 1950, ao registro de quatro obras inéditas, incluindo uma nova Sonata,  no disco dois.

Entre as descobertas que chegam ao público só agora, destaque para Sicilienne op. 1 para Violino e Piano e Op. 4 para Violino e Piano, escritas respectivamente em junho e setembro de 1937, quando Santoro tinha apenas 17 anos de idade e consideradas suas primeiras obras. E mais, Elegia II para Violino e Piano, datada de 1986 e até então não publicada, que representa o último período de criação do compositor, e os dois movimentos da Sonata 1939 para Violino e Piano (Allegro e Andante).

Presente no catálogo de Santoro, mas nunca antes gravada, Na Serra da Mantiqueira foi composta após o seu retorno ao Brasil, em 1950, após aprimorar-se em composição com Nadia Boulanger (1887-1979) em Paris. Está entre as primeiras obras de cunho nacionalista do compositor e de rompimento estético com o dodecafonismo. “Conviver com a música para violino e piano de Claudio Santoro foi, para mim, como ter encontrado um grande compositor e tê-lo deixado, ao final do processo, com a sensação de que tive um privilégio absoluto. Em explorar as diversas facetas de sua arte, em traduzir musicalmente seus segredos e, ainda mais, privilégio em fazê-lo em companhia de seu filho Alessandro. De fato, hoje me sinto como se Claudio Santoro tivesse sido um meu grande amigo, mesmo sem nunca tê-lo encontrado”, destaca o violinista Emmanuele Baldini.

Capa do álbum. Foto: Alexandre Nunis.

Tanto para Emmanuele quanto para Alessandro, se lhes colocassem o difícil desafio de eleger uma única obra do disco, ambos são unânimes ao indicarem a Sonata nº 3 para Violino e Piano: Bien Rythmé — uma música cativante em forma de sonata tradicional, com as notas obstinadas apresentadas pelo violino ao início da obra. Escrita entre 1947 e 1948, quando Santoro morava em Paris, trata-se de uma Sonata muito emblemática por representar um momento de transição estilística do compositor, entre o dodecafonismo e o nacionalismo.

O pianista e cravista Alessandro Santoro destaca que, mesmo após tantos anos debruçado sobre a obra de seu pai — seja editando, analisando, ouvindo ou executando sua música —, só agora, com a gravação de Claudio Santoro – Obra completa para violino & piano é que pode compreender o tamanho e a complexidade deste ciclo. “O que torna para mim absolutamente excepcional é que, Santoro, mesmo violinista prodígio e profundo conhecedor dos mistérios deste instrumento, soube como ninguém traduzir isso em obras com uma riqueza de cores e afetos muito singulares. Foi um privilégio poder conhecer, gravar e descobrir estas incríveis obras de meu pai ao lado do grande violinista Emmanuele Baldini. Espero que gostem”, afirma.

Claudio Santoro participou da vanguarda musical como fundador e integrante do grupo Música Viva e foi precursor do dodecafonismo no Brasil; trabalhou na Rádio, escreveu para o cinema, dirigiu orquestras e fundou o departamento de música da recém criada Universidade de Brasília, assim como foi fundador da Orquestra do Teatro Nacional de Brasília. Atuou a vida toda como regente, professor universitário e compositor. Pela sua atuação no campo das artes, recebeu inúmeras condecorações nacionais e internacionais. No dia 27 de março de 1989, enquanto conduzia o ensaio da Orquestra Nacional de Brasília, teve um infarto fulminante no pódio do Teatro Nacional que hoje leva o seu nome.

REPERTÓRIO

Disco 1

1 – Sonata nº 1 para Violino e Piano: Andante

2 – Sonata nº 1 para Violino e Piano: Allegro

3 – Sonata nº 2 para Violino e Piano: Allegro

4 – Sonata nº 2 para Violino e Piano: Andante

5 – Sonata nº 2 para Violino e Piano: Allegro molto

6 – Sonata nº 3 para Violino e Piano: Bien Rythmé

7 – Sonata nº 3 para Violino e Piano: Allegro Moderato (Quasi andante) – Meno – Piu Lento

8 – Sonata nº 3 para Violino e Piano: Allegro Energico

9 – Sonata nº 3 para Violino e Piano: Epílogo (Adagio)

10 – Sonata nº 4 para Violino e Piano: Allegro

11 – Sonata nº 4 para Violino e Piano: Lento

12 – Sonata nº 4 para Violino e Piano: Allegro

13 – Sonata nº 5 para Violino e Piano: Allegro

14 – Sonata nº 5 para Violino e Piano: Lento

15 – Sonata nº 5 para Violino e Piano: Vivo-Molto

16 – Sonata nº 5 para Violino e Piano: Allegro molto

Disco 2

1 – Sicilienne op. 1 para Violino e Piano

2 – Op. 4 para Violino e Piano

3 – Sonata 1939 para Violino e Piano: Allegro

4 – Sonata 1939 para Violino e Piano: Andante

5 – Na Serra da Mantiqueira

6 – Elegia I para Violino e Piano

7 – Elegia II para Violino e Piano – Romance

8 – Elegia III para Violino e Piano: Andante (cantabile)

Ficha Técnica

Concepção do projeto e produção musical: Emmanuele Baldini e Alessandro Santoro

Pesquisa e Revisão das partituras: Alessandro Santoro

Fotos: Alexandre Nunis (Xexéu)

Texto: Leonardo Martinelli

Diretora de produção: Veroni Girelli – Ritmiza Produções

Projeto gráfico e capa: Nilton Bergamini

Edição e montagem: Alessandro Santoro e Douglas Fonseca

Gravado, mixado e masterizado por André Mehmari no Estúdio Monteverdi em Mairiporã – São Paulo/SP em abril, julho e novembro de 2019.

SOBRE OS ARTISTAS

Emmanuele Baldini – violino | Italiano, Baldini iniciou seus estudos musicais em Trieste com Bruno Polli, aperfeiçoando-se em Genebra (Suíça), com Corrado Romano e em Salisburgo (Áustria) e Berlim (Alemanha), com Ruggiero Ricci. Mais recentemente, especializou-se em regência com Isaac Karabtchevsky e Frank Shipway. Sua incansável curiosidade e paixão pela música fizeram Baldini ampliar seus horizontes e, depois de uma carreira notável como violinista, começou a se aperfeiçoar como regente. Nessa nova fase, fundou também o Quarteto Osesp, intensificou sua atividade didática e, com o violino, começou a explorar o precioso repertório brasileiro, que resultou em inúmeros CDs gravados, para vários selos, com críticas muito elogiosas. Como regente, se destacam concertos no Teatro Colón, de Buenos Aires (Argentina), no Teatro del Sodre, de Montevidéu (Uruguai), da própria Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo – Osesp e apresentações com as principais orquestras da América Latina. De 2017 a 2020, foi diretor musical da Orquestra de Câmara de Valdivia, Chile. É o atual diretor artístico da Orquestra de Câmara – Sphaera Mundi, de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul.

Alessandro Santoro – piano | Nascido no Rio de Janeiro e Mestre em piano pelo Conservatório Tchaikovsky de Moscou (Rússia) na classe de Elena Richter, gravou o Concerto para piano Nº 1 de seu pai, Claudio Santoro na então URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas). Concluiu seu mestrado em cravo na classe de Jacques Ogg no Koninklijk Conservatorium de Haia (Holanda), onde posteriormente integrou o corpo docente. Apresentou-se com a Orchestra of the 18th Century e é fundador da Den Haag Baroque Orchestra. É regularmente requisitado como professor de cravo em festivais por todo o Brasil. Sua discografia compreende 20 CDs, sendo dois em parceria com o fagotista Fábio Cury e destacando o Diapason D’ Or pelo CD Sonatas para Violino e Basso Contínuo de Leclair. Recebeu o troféu da Câmara Legislativa de melhor trilha sonora do 48º Festival de Cinema de Brasília. Atualmente é professor de cravo e baixo contínuo na Escola de Música do Estado de São Paulo (Emesp Tom Jobim) e responde pelo acervo material e virtual da Associação Cultural Claudio Santoro.

SELO SESC

Criado há 16 anos, o Selo SESC tem o objetivo de registrar a amplitude da produção artística brasileira construindo um acervo pontuado por obras de variados estilos, épocas e linguagens. Recentemente, foram lançados no mercado digital os álbuns Sessões Selo SESC #6: Rakta + Deafkids, Sessões Selo SESC #7: João Donato + Projeto Coisa Fina, Sessões Selo SESC #8: Toada Improvisada – Jackson do Pandeiro 100 anos e Sessões Selo SESC #9: …And You Will Know Us By Trail Of. O CD-livro São Paulo: paisagens sonoras (1830-1880) da pesquisadora e cantora Anna Maria Kieffer; o DVD Exército dos Metais, da série O Som da Orquestra, O Romantismo de Henrique Oswald (José Eduardo Martins e Paul Klinck); os CDs físicos e digitais Dança do Tempo (Teco Cardoso, Swami Jr. e BB Kramer), Espelho (Cristovão Bastos e Maury Buchala), Eduardo Gudin e Léla Simões, Recuerdos (Tetê Espíndola, Alzira Espíndola e Ney Matogrosso), Música Para Cordas (André Mehmari), Estradar (Verlucia Nogueira e Tiago Fusco), Tia Amélia Para Sempre (Hercules Gomes), Gbó (Sapopemba), Acorda Amor (Letrux, Liniker, Luedji Luna, Maria Gadú e Xênia França), Copacabana – um mergulho nos amores fracassados (Zuza Homem de Mello), Tio Gê – O Samba Paulista de Geraldo Filme (vários artistas) e os álbuns digitais Mar Anterior (Grupo Anima), Olorum (Mateus Aleluia), Nana, Tom, Vinicius (Nana Caymmi), Jardim Noturno – Canções e Obras para Piano de Claudio Santoro (Paulo Szot & Nahim Marun), 7 Caminos (Emiliano Castro), São Paulo Futuro – A Música de Marcello Tupynambá (Vários Artistas), Cantos da Natureza (Pau Brasil), O Fim da Canção (Luiz Tatit, Zé Miguel Wisnik e Arthur Nestrovski) e Sessões Selo SESC #10: Carne Doce.

Serviço:

Lançamento de Claudio Santoro – Obra completa para violino & piano

2/12 disponível nas principais plataformas de streaming e no SESC Digital

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