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Selo SESC lança terceiro EP da coletânea ‘Viola Paulista’ com tocadores da região sudeste do estado

São Paulo, por Kleber Patricio

O curador Ivan Vilela e o músico Ricardo Anastácio. Foto: Paula Rocha.

Para traçar o mapa etnográfico do uso da viola no estado de São Paulo, celeiro de grandes músicos, compositores e de inúmeras orquestras de viola caipira, o Selo SESC convidou o professor, músico, compositor e um dos principais pesquisadores de cultura popular e da viola caipira no país, Ivan Vilela. O projeto começou em 2018 com o lançamento da primeira edição de Viola Paulista (Selo SESC), que apresentou ao público as múltiplas sonoridades deste instrumento, seja em faixas instrumentais ou cantadas, com artistas e grupos muito diversos, mas que têm em comum a paixão pela história e pelo som da viola.

Em 2021, a gravadora do SESC São Paulo lança a segunda coletânea de Viola Paulista com a participação de 20 violeiros e violeiras que já têm uma carreira consolidada junto ao público e à cena musical. E no mapeamento de Vilela, os músicos selecionados abrangem todo o território do estado. São tocadores das regiões de Avaré, Bauru, Campinas, Piracicaba, São José do Rio Preto e Sorocaba.

O lançamento da segunda coletânea está dividido em cinco EPs. Cada um deles dá voz a diferentes sotaques do instrumento no estado. Agora, o terceiro EP traz quatro tocadores da região de Sorocaba e está nas principais plataformas de streaming desde 3 de março, incluindo na plataforma SESC Digital, que oferece o conteúdo de forma gratuita e sem necessidade de cadastro. Para ouvir, acesse aqui.

Cigarrim de paia, pinga com cataia; Viola de faia, ai é bão demais sô – a letra é de Ricardo Anastácio que, em interpretação solo, toca e canta no disco a sua Isso é bão demais. Uma música carregada de uma sonoridade muito paulista caipira com raízes no tropeirismo. Nascido em Assis, no Vale do Paranapanema, região oeste do estado paulista, e radicado em Votorantim, onde dirige orquestras de viola, assim como na vizinha cidade de São Roque, Ricardo já transitou por diversos segmentos da música instrumental brasileira no período em que dedicou-se ao violão clássico. Professor e tocador de viola, tem livros publicados sobre aspectos da Cultura Caipira e do Nheengatu – língua com origem no tronco linguístico Tupi-Guarani e muito falada durante a formação do universo cultural caipira tanto por indígenas, como por não-indígenas.

Compositor notável e tocador de viola que traz a sonoridade do Norte de Minas para o universo da viola paulista, Zeca Collares é professor do Conservatório de Tatuí e vive em Sorocaba. Junto aos músicos Fábio Gouvea (guitarra) e Cleber Almeida (percussão), ele gravou sua composição autoral Mirando a Mira. Em suas composições vocais e instrumentais, ele apresenta uma fusão entre a música de raiz brasileira, o jazz barroco e elementos contemporâneos. Com mais de vinte anos de carreira e oito discos lançados, já dividiu o palco com grandes nomes, como Hermeto Pascoal, Duofel e Pena Branca e Xavantinho, só para ficar nestes exemplos.

Reconhecido compositor e exímio tocador de viola, de técnica muito apurada, Fernando Deghi, com passagem pelo violão clássico, também é afinador de pianos. Para o álbum Viola Paulista – Volume 2, ele gravou a sua peça instrumental Navegares, composição que resgata um pouco da sonoridade dos violonistas paulistas dos anos 1950, como Paulo Vanzolini. Atualmente Fernando Deghi mora em Portugal, onde se dedica ao projeto de mestrado no Instituto Politécnico de Castelo Branco. Por lá, também tem trabalhado com construção da viola beiroa, típica da região portuguesa que faz fronteira com a Espanha.

Completando o time de violeiros do EP 3, Ricardo Vignini é um dos protagonistas de um grupo de músicos que trabalha a viola caipira na vertente do rock. À viola de corpo maciço que utiliza nos shows, incorporou pedaleiras e eletrificou o instrumento. Músico com olhar à tradição e a modernização, é o violeiro “guitarrista” da banda Matuto Moderno, que há 20 anos mistura música caipira com rock.

Repertório EP 3

Isso É Bão Demais (Ricardo Anastácio)

Músico: Ricardo Anastácio (viola e voz)

Afinação: Cebolão em mi

Mirando a Mira (Zeca Collares)

Músicos: Zeca Collares (viola), Fábio Gouvea (guitarra) e Cleber Almeida (percussão)

Afinação: Cebolão em ré

Navegares (Fernando Deghi)

Músico: Fernando Deghi (viola)

Afinação: Coimbra terça abaixo

Amálgama (Ricardo Vignini)

Músicos: Ricardo Vignini (viola), André Rass (percussão) e Ricardo Carneiro (guitarra)

Afinação: Cebolão em ré

+ VIOLA PAULISTA

Volume II | Retrato dos violeiros e violeiras profissionais com carreiras artísticas consolidadas, com discos gravados e de um público cativo que acompanham os seus trabalhos. A lista dos artistas que compõem esta segunda coletânea é bem diversificada e vai de Enúbio Queiroz e Zeca Collares, ao multi-instrumentista Neymar Dias, que também transita no repertório clássico e transcreveu parte da obra original de Bach (1685-1750) para a viola caipira, só para citar alguns exemplos. Destaque também para a presença de duas violeiras, Adriana Farias e Juliana Andrade, representantes de um crescente protagonismo feminino no mundo da viola. Os EPs 1 e 2 já estão disponíveis na internet, com gravações de Adriana Farias, Arnaldo Freitas, da dupla Cláudio Lacerda e Rodrigo Zanc e de Levi Ramiro, músicos de Bauru e região; e de Fernando Caselato, João Arruda, João Paulo Amaral e Zé Helder, tocadores das regiões de Campinas e Piracicaba.

Próximos lançamentos:

10 de março: EP 4 – com Enúbio Queiroz, Juliana Andrade, Fábio Miranda e Márcio Freitas

17 de março: EP 5 com Lauri da Viola, Wilson Teixeira, Neymar Dias e Júlio Santin.

Volume I | Com 19 faixas, a primeira coletânea, lançada em junho de 2018, traz o retrato artístico de violeiros de diferentes regiões do estado. Mescla jovens músicos que são as novas apostas do instrumento e outros de carreira estabelecida, mas que não obtiveram até aqui o devido reconhecimento pelos seus trabalhos. O repertório mostra a diversidade do instrumento, com gravações autênticas de obras mais ligadas ao universo da música caipira, chegando até a música contemporânea composta para viola. Participaram os violeiros Bob Vieira, Bruno Sanches, Fabíola Mirella e Sérgio Penna, Gil Fererich, Jackson Ricarte, Leandro de Abreu, Moreno Overá, Neto Stéfani, Osni Ribeiro, Reinaldo Toledo, Renato Gagliardi, Ricardo Matsuda e Patricia Gatti, Ronaldo Sabino, Rodrigo Nali e Rafael Schimidt, Vinícius Alves, Zé Guerreiro Quarteto, José Gustavo Julião, Trio Tamoyo e Zé Márcio.

Ficha técnica

Viola Paulista – Volume II

Curadoria e direção musical: Ivan Vilela

Produção executiva: Paula Rocha e Caio Csermak – Arueira Expressões Brasileiras

Gravação: Maurício Cajueiro

Mixagem: Ivan Vilela e Maurício Cajueiro

Masterização: Homero Lotito

Assistente de gravação: Pedro Henrique Florio

Estúdio: Cajueiro Áudio (Campinas, SP)

Fotografia e vídeo: Paula Rocha e Caio Csermak

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