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Vida de Aleijadinho é contada em ópera inédita a céu aberto em Ouro Preto

Ouro Preto, por Kleber Patricio

Crédito: imagens de estudos de Renato Theobaldo para a cenografia da ópera “Aleijadinho”, produção da Fundação Clóvis Salgado – Palácio das Artes.

Dando ênfase à sua vocação para a produção artística, a Fundação Clóvis Salgado (FCS) – Palácio das Artes, de Minas Gerais, amplia sua atuação como uma das principais instituições produtoras de ópera no Brasil. Para dar prosseguimento a essa feliz trajetória e à diretriz de estímulo à criação nacional de ópera e à sua difusão, a instituição anuncia a sua nonagésima (90ª) produção operística – “Aleijadinho”, com estreia em 29 de abril de 2022.

Trata-se de uma ousada estreia mundial, encenada ao ar livre, em Ouro Preto, antiga Vila Rica, onde nasceu e viveu Aleijadinho, que terá como cenário a Igreja São Francisco de Assis, onde se encontram alguns dos principais acervos de suas criações. Essa obra inédita, “Aleijadinho”, baseia-se em fatos da vida do Mestre Antônio Francisco Lisboa, reconhecido internacionalmente como referência do Barroco Mineiro, cujas obras se encontram em diferentes cidades do Estado, especialmente em Ouro Preto e Congonhas. Após a estreia, a montagem cumpre temporada no Palácio das Artes, em Belo Horizonte, dias 14, 16, 18 e 20 de maio de 2022.

A ópera “Aleijadinho” foi composta por Ernani Aguiar, com libreto escrito por André Cardoso. A regência é de Silvio Viegas e a direção cênica, de Julianna Santos. A montagem conta com as participações da Orquestra Sinfônica e do Coral Lírico de Minas Gerais, da Cia. de Dança Palácio das Artes e dos Solistas convidados Johnny França/Aleijadinho; Mar Oliveira/Manuel Francisco; Guilherme Moreira/Tomás Antônio Gonzaga; Pedro Vianna/Alvarenga Peixoto; Lício Bruno/Lobo de Mesquita; Luanda Siqueira/Joana e Mauro Chantal/Vicente Ferreira.

Para Eliane Parreiras, presidente da Fundação Clóvis Salgado, com essa nova montagem, a instituição reafirma o seu papel como uma grande formadora de público no campo operístico em Minas Gerais, difundindo programas e promovendo espetáculos. “Ao apresentar a vida e obra de Aleijadinho, aborda-se não somente a história de um dos maiores ícones da mineiridade, mas um movimento artístico que tomou o caminho da criatividade e da transfiguração de símbolos e valores para uma verdadeira arte nacional. É muito importante para a Fundação Clóvis Salgado realizar essa montagem a partir da história de Aleijadinho, difundindo a cultura mineira, fomentando a produção operística nacional, estimulando novas plateias e celebrando o Ano da Mineiridade”, destaca Eliane Parreiras.

Obra inédita contemporânea  

A montagem desta obra inédita tem libreto e composição criados por artistas contemporâneos. Para a escrita do libreto, houve uma intensa pesquisa histórica para a construção da narrativa. Todos os personagens da ópera são reais e a cronologia é bem amarrada com os acontecimentos da época. O desenvolvimento dramático, no entanto, é ficcional, como o encontro de Aleijadinho com os Inconfidentes em uma taberna em Vila Rica ou com Lobo de Mesquita na Igreja do Carmo. Para fazer esse amálgama de ficção com realidade, o libretista André Cardoso usou em algumas passagens textos originais de Tomás Antônio Gonzaga e Alvarenga Peixoto, assim como o de um Lundu mineiro do século 18. Há ainda cenas baseadas em uma tese da historiadora Isolde Venturelli, da década de 1980 que, mesmo não sendo comprovada, tem uma grande carga dramática.

A história de vida de Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, já foi transposta inúmeras vezes para a ficção em diferentes meios de expressão – faltava uma ópera. Convencido das possibilidades dramáticas sobre a vida do escultor, André Cardoso rascunhou os primeiros esboços em forma de roteiro em julho de 2009, quando apresentou a ideia ao maestro e compositor Ernani Aguiar, que imediatamente se entusiasmou pelo projeto. Com a proximidade dos 280 anos do artista, nascido em alguma data desconhecida entre 1737 e 1738, a ideia foi retomada e o libreto concluído em 2016, sendo repassado ao compositor. A proposta inicial seria de encenar a ópera para celebrar os 300 anos de Minas Gerais, mas, com a pandemia, foi necessário adiar. Como o enredo se conecta diretamente com as comemorações dos 200 anos da independência do Brasil, a data foi alterada para 2022.

O libretista afirma que a ligação com Minas Gerais e a admiração pelo artista foram os pontos de partida da obra. “Colocar Aleijadinho em cena, para nós, foi um caminho natural. Eu espero que o público se emocione vendo em cena o mais celebrado artista mineiro de todos os tempos. Trouxemos para o palco não só o Aleijadinho, mas também a história e a cultura do estado. Estou contando os dias para a estreia. Ter intérpretes como o maestro Silvio Viegas, os solistas por ele escolhidos, os corpos artísticos da Fundação Clóvis Salgado e a equipe criativa comandada pela diretora Juliana Santos é a garantia de que apresentaremos ao público um grande espetáculo, que será possível graças ao apoio que o projeto recebeu”, completa Cardoso.

Na composição, o maestro Ernani Aguiar dialoga com a música da época, com as intervenções que realizou em uma obra de Lobo de Mesquita ao criar uma linha de canto para Aleijadinho. O maestro resgatou também o estilo das serenatas mineiras, como no dueto de Joana e Manuel Francisco, no primeiro ato, e no Prelúdio e no Interlúdio do terceiro ato. “Fomos inspirados pelo próprio Aleijadinho, patrono das artes brasileiras e meu conterrâneo. Compus a música desse libreto, que é dedicado à pátria mineira, movido pela obra-prima desse mestre. E, para mim, obra-prima é aquela que você não se cansa de admirar, seja na literatura, na música, nas artes plásticas. Cada vez que você entra em uma igreja em Ouro Preto, você descobre algo novo”, comenta o compositor Ernani Aguiar.

Já o diretor musical e regente, Silvio Viegas, destaca que uma das questões que chamou sua atenção no libreto é que, apesar de estar todo embasado em livros e pesquisas, não se perdeu a liberdade poética, fundamental para uma ópera. “A música do Maestro Ernani Aguiar é moderna e histórica ao mesmo tempo. Tem todo o arroubo de suas composições, mas ao mesmo tempo faz referências à escrita daquela época, fazendo citações de dança, como o Lundu, da música Colonial Mineira de Lobo de Mesquita e da Seresta Mineira. Uma ópera que tem tudo, romance, drama, dor, alegrias, sofrimentos e que faz tudo isso tendo como personagem central nosso amado Aleijadinho”, ressalta.

Silvio Viegas também aponta para o importante fato de ser uma obra inédita em que o compositor e libretista estão vivos, o que permite conversar com o compositor para entender quais eram suas intenções e desejos. “Discutir e realizar alterações é algo maravilhoso e que somente pode ser feito tendo seus criadores vivos e abertos a sugestões e observações. É construir uma parte da história dessa ópera e fazer parte de um momento cultural histórico para nosso Estado e nosso País”, comemora.

Respeito às pautas sociais

A atual gestão da Fundação Clóvis Salgado tem sustentado o compromisso de manter a equidade de gênero e diversidade em suas produções artísticas. Tanto no Cefart (Centro de Formação Artística e Tecnológica) como nas produções dos Corpos Artísticos e demais atividades do Palácio das Artes, há sempre o cuidado em refletir questões da atualidade. É o caso, por exemplo, do convite feito a Julianna Santos para assumir a direção cênica da ópera Aleijadinho, fortalecendo o reconhecimento do trabalho da artista, com experiência em mais de 80 projetos em quase 20 anos.

Nessa montagem, a diretora imprimiu o seu estilo e destaca que, para além de contar a vida de um grande artista como Aleijadinho, as entrelinhas dessa história trazem muitas características sobre ele, como sua ancestralidade, sendo filho de uma escrava com um português. “Para potencializar essa ideia de ancestralidade, teremos um vídeo curto em que a coreógrafa e bailarina de dança Afro, Júnia Bertolino, atuará como uma quase representação da ‘mãe ancestral’, que não aparece no texto, mas estamos trazendo para a encenação. Essa figura também aparece no final e leva o Aleijadinho com ela”, revela a diretora.

O caminho de penitência do artista e a revolução em sua própria obra, deixando um legado, uma arte reconhecida mundialmente, também foram pontos de relevância para a direção cênica. “A expectativa é de que consigamos construir, junto com os artistas, essa história que é uma grande emoção para Ouro Preto e um orgulho para todos os brasileiros, não só os mineiros. A obra de Aleijadinho é um símbolo mundial, com toda sua beleza e especificidades. Pensando nas doenças que ele teve, me soa quase como uma arte penitente, redentora, ele passava pelo sofrimento que estava vivendo. Suas obras são muito teatrais e dramáticas, expressivas e emotivas. Quando entramos em contato com elas, sentimos. Tentamos expandir para o palco essa grandiosidade”, completa Juliana Santos.

Volumetria barroca

Edificar um evento em uma cidade tão peculiar como Ouro Preto tem sido desafiador. De acordo com Luciana Salles, diretora Cultural da FCS, a topografia, as restrições e tradições que uma cidade Patrimônio Cultural da Humanidade impõem para sua preservação se refletem nos modos de produção e na logística. “Isso nos aproximou de profissionais muito experientes e que toparam com entusiasmo enfrentar esse desafio conosco. Todos têm plena consciência da importância dessa montagem e da responsabilidade que é homenagear um artista como o mestre Aleijadinho. O respeito ao seu legado pautou todo o pensamento que antecede a montagem, tal como a proposta cenográfica que, diferente de tentar reproduzir alguma de suas obras, o que seria impossível sem soar como um arremedo, optou pelas projeções mapeadas e que revelam detalhes do olhar desse artista magnífico”, destaca Luciana Salles.

No cenário de Renato Theobaldo é possível encontrar o barroco na volumetria, com imagens das obras de Aleijadinho projetadas, muitas vezes em detalhes, trazendo o relevo que ele construiu, o barroco brasileiro. Isso traz um caráter ilustrativo, mas também emotivo da grandiosidade de sua obra. “Trouxemos o conceito de velas de projeção, que tiram a forma tradicional de telas, normalmente retangulares, criando uma dinâmica de movimentação de cena que remete às encenações de rua. Essa foi a chave formal para o projeto e como eu tinha em mente que seria um espetáculo para acontecer também no Palácio das Artes, não foi uma adaptação ao teatro fechado, mas uma criação simultânea para estes dois espaços. O projeto é, em sua essência, a conversa entre estes dois espaços”, revela Renato Theobaldo.

Já para Ney Bofante, responsável pela iluminação do espetáculo, a ideia para a estreia em Ouro Preto foi minimizar as influências que a apresentação ao ar livre sofre, como clima, vento e iluminação pública. Tudo foi pensado para que o público se concentre na história sendo contada, com menos detalhes e mais foco no âmbito geral, tentando aproveitar o que seria algo contrário para a encenação, como recurso. “Já a montagem no Palácio das Artes conta com toda a estrutura de uma casa de espetáculos. A iluminação entra para somar e ajudar a contar a história, selecionando, climatizando e esculpindo as belíssimas imagens oferecidas pela Cenografia e Projeção, além dos figurinos e da encenação”, finaliza Bofante.

O figurino de Marcelo Marques retrata as diferenças sociais da época, presentes na indumentária de uma elite abastada e de uma classe trabalhadora carente.

Sinopse | Vila Rica, capital de Minas Gerais, entre 1789 e 1814, momento da deflagração da Inconfidência Mineira. A ópera coloca em cena personagens que fazem parte da história do povo mineiro e que sonharam com a liberdade por meio do movimento precursor de nossa independência, artistas fundamentais para a construção da nacionalidade brasileira. A trama percorre o adoecimento do artista, a rejeição do seu filho e termina com sua morte. Estruturado em três atos, o libreto baseia-se em fatos e cronologia reais da vida de Aleijadinho para estruturar a narrativa dramática. Nela estão presentes personagens não só da vida pessoal do escultor, como seu filho Manuel, sua nora Joana e seus escravos Firmino, Maurício e Januário, como também personalidades da vida política e cultural das Minas Gerais do século XVIII e XIX, como os poetas Thomás Antônio Gonzaga e Alvarenga Peixoto, o compositor Lobo de Mesquita e Vicente Ferreira, contratante da Irmandade do Bom Jesus de Matosinhos. Os temas centrais da ópera, mais que uma sequência de fatos da vida do Aleijadinho, são a desilusão, a perda, o abandono e a solidão. Ao longo das cenas, tais sentimentos se acentuam no protagonista. Primeiro se dá́ a perda de seus amigos Inconfidentes, depois do colega músico Lobo de Mesquita, de um de seus escravos, Maurício, que morre durante o trabalho em Congonhas e Justino, que o abandona sem deixar vestígios. Por fim o próprio filho, restando-lhe, no final da vida, apenas a nora Joana.

FICHA TÉCNICA

Aleijadinho

O mestre do barroco mineiro em ópera inédita

Compositor / Ernani Aguiar

Libretista /André Cardoso

Direção musical e Regência / Sílvio Viegas

Concepção e direção cênica / Julianna Santos

Orquestra Sinfônica de Minas Gerais

Coral Lírico de Minas Gerais

Companhia de Dança Palácio das Artes

Cenografia / Renato Theobaldo

Figurinos / Marcelo Marques

Iluminação / Ney Bonfante

Coreografia / Júnia Bertolino

Criação Artística – Arte e Vídeo / Angélica Carvalho

Solistas

Johnny França (barítono) / Aleijadinho

Mar Oliveira (ternor) / Manuel Francisco

Guilherme Moreira (tenor) / Tomás Antônio Gonzaga

Pedro Vianna (barítono) / Alvarenga Peixoto

Lício Bruno (barítono) / Lobo de Mesquita

Luanda Siqueira (soprano) / Joana

Mauro Chantal (baixo) / Vicente Ferreira.

Serviço:

Aleijadinho em Ouro Preto

Data: 29 de abril de 2022 – Estreia mundial

Horário: 20h

Local: Igreja de São Francisco de Assis. Largo de Coimbra – Centro – Ouro Preto – Minas Gerais

Acesso gratuito

Informações para o público: (31) 3236-7401

Ano da Mineiridade

A ópera integra a programação do Ano da Mineiridade, da Secretaria de Estado de Cultura e Turismo de Minas Gerais (Secult), projeto criado para celebrar os elementos que compõem a assinatura mineira, com suas tradições, costumes e histórias. O Ano da Mineiridade será marcado por inúmeras iniciativas que celebram a diversidade da produção artística no estado, aproximando municípios e promovendo uma maior transversalidade entre os setores da cultura e do turismo e de todos os profissionais envolvidos nesses segmentos.

Segundo o secretário de Estado de Cultura e Turismo, Leônidas Oliveira, o Ano da Mineiridade é uma ação que celebra todas as características de Minas Gerais. “A ópera ‘Aleijadinho’ vem ao encontro do nosso desejo de celebrar Minas Gerais. Ela condensa uma série de elementos que compõem a nossa rica diversidade artística e cultural. Por meio dessa montagem, vamos celebrar quem somos, celebrar nossas cidades, nossa arte e a nossa intensa e rica cultura, além de dar visibilidade à história desse grande artista negro, Antônio Francisco Lisboa, o maior representante do Barroco mineiro, reconhecido em todo o mundo, patrimônio da Humanidade Unesco”, comemora Leônidas Oliveira.

Para o Instituto Cultural Vale, a vida de Aleijadinho e toda a sua produção artística precisam ser, sempre, lembradas, compartilhadas e experimentadas por todas as gerações. “E o Instituto, que fomenta as múltiplas manifestações artísticas brasileiras, tem a imensa alegria de ser também parte dessa celebração do maior artista do Barroco mineiro, e, por meio dele, de celebrar também as Minas Gerais”, afirma Hugo Barreto, diretor presidente do Instituto Cultural Vale.

A ópera “Aleijadinho” é realizada pelo Ministério do Turismo, Governo de Minas Gerais / Secretaria de Estado de Cultura e Turismo de Minas Gerais, pela Fundação Clóvis Salgado, e correalizada pela APPA – Arte e Cultura. Tem como apresentadores do Programa o Instituto Unimed-BH¹ e o Instituto Cultural Vale, como patrocinadores Cemig, ArcelorMittal, Instituto Cultural Vale, AngloGold Ashanti, Usiminas e CSN por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura. Conta com o apoio da Prefeitura de Ouro Preto, Faop, Sesc em Minas, Revista Concerto, Instituto Usiminas e Instituto Hermes Pardini.

O patrocínio do Instituto Unimed-BH é viabilizado pelo incentivo de mais de 5,2 mil médicos cooperados e colaboradores.

A Fundação Clóvis Salgado é integrante do Circuito Liberdade, complexo cultural sob gestão da Secretaria de Estado de Cultura e Turismo de Minas Gerais (Secult) que reúne diversos espaços com as mais variadas formas de manifestação de arte e de cultura em transversalidade com o Turismo.

Fundação Clóvis Salgado | Com a missão de fomentar a criação, formação, produção e difusão da arte e da cultura no Estado, a Fundação Clóvis Salgado (FCS) é vinculada à Secretaria de Estado de Cultura e Turismo de Minas Gerais (Secult). Artes visuais, cinema, dança, música erudita e popular, ópera e teatro, constituem o campo onde se desenvolvem as inúmeras atividades oferecidas aos visitantes do Palácio das Artes, CâmeraSete – Casa da Fotografia de Minas Gerais – e Serraria Souza Pinto, espaços geridos pela FCS. A Instituição é responsável também pela gestão dos corpos artísticos – Cia. de Dança Palácio das Artes, Coral Lírico de Minas Gerais e Orquestra Sinfônica de Minas Gerais –, do Cine Humberto Mauro, das Galerias de Artes e do Centro de Formação Artística e Tecnológica (Cefart). Em 2020, quando celebrou 50 anos, a FCS ampliou sua atuação em plataformas virtuais, disponibilizando sua programação para público amplo e variado, por meio do projeto #PalácioEmSuaCompanhia. O conjunto dessas atividades fortalece seu caráter público, sendo um espaço de todos e para todos.

(Fonte: Conteúdo Comunicação)