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Pesquisa da Abrasel revela dificuldades dos bares e restaurantes com a pandemia

Brasil, por Kleber Patricio

O presidente da Abrasel RMC, Matheus Mason. Foto: divulgação.

Quatro em cada cinco donos de bares e restaurantes tentaram obter empréstimos para sustentar seus negócios durante a pandemia, mas, destes, 81% tiveram o crédito negado por instituições financeiras. A informação vem de uma pesquisa realizada pela Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) com empresários do setor em todo o país. Os bancos privados são os que mais negam acesso a empréstimos: 57,55% dos entrevistados receberam uma negativa em instituições deste perfil, contra 42,45% que foram barrados em bancos públicos. Com este quadro, quase 20% dos entrevistados dizem ter que demitir todo o quadro de pessoal se a situação se mantiver nos próximos 30 dias.

Para o presidente da Abrasel, Paulo Solmucci, os bares e restaurantes estão precisando com urgência de dinheiro barato e em adequadas condições com carência e prazo de pagamentos ajustados para os desafios atuais. “Enxergamos muitas tentativas do Governo Federal de oferecer crédito barato e que chegasse na ponta, mas que, até agora, foram infrutíferas”, afirma.

Segundo Solmucci, a situação parece estar mudando. “Estamos esperançosos com os movimentos que vêm acontecendo desde a semana passada, que começam a mostrar uma luz no fim do túnel. O Ministério do Turismo liberou uma linha de crédito de R$5 bilhões via Fungetur que começa a ser utilizada com sucesso pelos empresários. Essa semana foi sancionado o Pronampe, que pode trazer alívio a uma parcela das empresas. E há informações de que o BNDES está reformulando a primeira linha anunciada, com muito alarde, mas que efetivamente não estava acessível aos empresários. Então, embora tenha havido uma frustração inicial, justificável, a expectativa é que o que deu errado está virando aprendizado para que o Governo disponibilize crédito de forma mais efetiva”.

A queda de faturamento é brutal. O delivery foi a única saída para 55% dos estabelecimentos continuarem operando. Mesmo assim, a queda na receita é de mais de 75% para 64% das empresas do setor. Além de forçar uma corrida por empréstimos, a queda obrigou os empresários a cortar custos em diversas frentes. Quase 80% das empresas já fizeram uma renegociação de aluguel.

Delivery foi a única saída para 55% dos estabelecimentos continuarem operando. Imagem de Hans Braxmeier por Pixabay.

E a possibilidade aberta pela Medida Provisória 936 (conhecida como MP dos salários) permitiu às empresas suspender os contratos de trabalho de metade dos funcionários, em média. Renegociar com fornecedores também passou a ser mandatório. Neste ponto, a resposta é positiva. Pelo menos 50% dos fornecedores já concordaram em postergar o pagamento de dívidas ou parcelar pagamentos.

Panorama na RMC

Na Região Metropolitana de Campinas (RMC), os dados levantados são preocupantes. Dos 340 associados, 64 tentaram acessar linhas de crédito junto às instituições financeiras – tanto do governo como particular –, sendo que nenhum pedido foi aceito. “O que as empresas conseguiram foram as linhas antigas, com juros bem mais elevados, com taxas na faixa de 2% a 5% ao mês”, revela o presidente da Abrasel RMC, Matheus Mason, lembrando que Campinas e diversas cidades da região completam neste sábado 60 dias de isolamento social.

Com relação ao movimento de vendas, na região constatou-se uma queda em torno de 85%. Os 15% que os bares estão conseguindo manter vêm da venda através de delivery, uso de aplicativos e drive thru. “Muitos comerciantes estão se reinventando para manter os negócios ativos durante a quarentena, sendo que mais da metade deles jamais haviam trabalhado com estes tipos de negócio. Tanto que o delivery apresentou em dois meses um crescimento que era esperado para os próximos dois anos”.

Para o presidente da Abrasel RMC, o momento é crítico e cada vez mais a necessidade de isolamento faz com que o setor e aproxime de um colapso, embora a entidade e empresários entendam a necessidade do isolamento, desde que ele tenha transparência quanto à reabertura. “O consumidor também está preocupado, mas deseja voltar a frequentar os bares e restaurantes assim que terminar a quarentena”, aponta.

Ele cita como exemplo uma pesquisa realizada pela empresa Food Consulting para um estudo inédito sobre o Impacto da Covid-19 no Consumidor do Foodservice: 69% dos entrevistados disseram que prentendem voltar a frequentar bares e restaurantes, sendo 1/3 assim que terminar a Quarentena, 1/3 após um mês e 1/3 dois meses depois.

O pós-pandemia

Le Triskell, em Indaiatuba (SP): delivery e take away permitiram manter vínculos com clientes, funcionários e fornecedores. Foto: divulgação.

Em alguns lugares já começou a ser permitida a reabertura dos estabelecimentos para o serviço no salão. Mas a retomada não é fácil. Ela significa retomar custos fixos que estavam suspensos e até investir: 62% das empresas dizem estar encontrando dificuldades para repor os estoques. Por isso, dois em cada três empresários afirma planejar a retomada com menos funcionários e com uma capacidade de atendimento reduzida em relação à situação pré-crise.

O restaurateur Gilles Mourier, do Le Triskell Bistrô, em Indaiatuba, diz que se viu em um dilema com a decretação da quarentena. “Como praticamente todo gestor do setor de alimentos e bebidas, me vi diante de duas únicas opções: manter a casa fechada ou em funcionamento parcial”, afirma Mourier. “O prejuízo mensal seria equivalente; então, decidi aproveitar o momento de desafio para estruturar o serviço de take way e delivery. O faturamento passou a ser de 25% do habitual, mas acredito que a atitude nos permitiu manter o vínculo com nossos clientes, funcionários e fornecedores”, diz. De acordo com o restaurateur, ambos os serviços serão mantidos após a quarentena, inclusive como uma forma de evitar demissões. “O oferecimento de serviços voltados ao consumo externo já era uma intenção nossa, mas estruturar todo um serviço com a casa em andamento acabava ficando em segundo plano em função da correria. No meio do processo, aproveitei a energia reunida para incorporar o imóvel ao lado, que por coincidência ficou disponível no período e, com isso, desocupei outro imóvel que detinha as mesmas funções operacionais”.

O empresário afirma que manterá várias das medidas preventivas num primeiro momento da liberação pelas autoridades. “A menos que isso venha a confrontar eventuais medidas estabelecidas pelas autoridades para o funcionamento pós-quarentena, é nossa intenção reabrir com 50% da capacidade e manter as ações de distanciamento e higienização, como funcionários de máscaras, disponibilização de álcool gel etc.”.

Na visão desta coluna, o governo do estado de São Paulo deve anunciar em breve o início gradual e controlado das atividades comerciais presenciais de maneira setorizada e conforme a realidade de cada município, com base em dados como índice de ocupação hospitalar, mortalidade etc. Caso o segmento de bares e restaurantes não seja um dos segmentos liberados, o mês de junho promete ser crucial para a sobrevivência de grande parte de seus integrantes. Segundo estudo da Abrasel divulgado no final de abril, a estimativa é de que 40% dos bares e restaurantes em SP devem fechar após crise. Levantamento da Associação Nacional de Restaurantes também em abril apontou que mais de um milhão de pessoas foram demitidas no setor desde o início da pandemia.