Na última sexta-feira, desci a Serra do Mar rumo a Santos e Guarujá para visitar minha família, que não via desde novembro de 2019 por conta da pandemia. No caminho, contatei minha querida amiga Renata Tannuri, que edita o portal Prosa com Tempero, voltado à gastronomia, perguntando aonde comer bem em Santos, já que quase todos os restaurantes que frequentava até meus 23 anos, quando mudei para Indaiatuba, perderam a qualidade ou simplesmente – a maioria – não existem mais. A primeira sugestão dela foi o português Tasca do Porto; agora entendo o porquê e listo alguns dos motivos.
Em primeiro lugar, o astral da casa foge ao padrão de grande parte dos restaurantes portugueses no Brasil, caracterizados por uma atmosfera mais sóbria. Apesar de estar localizada na Rua XV de Novembro, antigo centro financeiro de Santos, a Tasca do Porto fica num prédio antigo (construído em 1900), de pé direito muito alto, e possui uma decoração descontraída e descolada, projeto da designer de interiores Rafaella Madeira. Super arejada, a casa tem ainda esse antenado atrativo, ainda que tenha sido reinaugurada (antes funcionava em outro endereço) um ou dois meses antes da pandemia. Mas há outros. Aliás, História é um dos ingredientes que não faltam na Tasca do Porto, situada a poucos metros da Bolsa do Café, no Centro de Santos, onde os paralelepípedos da rua e a calçada de mosaico português nos remetem às ruas da cidade do Porto ou Lisboa. O próprio nome da casa se deve a uma brincadeira em torno do fato de que os antepassados dos sócios da casa são originários daquela região e, também, ao fato de o restaurante estar próximo ao porto de Santos.
Em segundo lugar (ainda que, na minha opinião, esse ponto seja o mais importante), a comida – ah, a comida – é espetacular, a começar pela entrada que pedimos, os bolinhos de bacalhau, que conseguiram a proeza de superar os da minha saudosa mãe, invictos até então. Cremosos, sequinhos e incrivelmente equilibrados no que diz respeito às proporções de batata e bacalhau – além, é claro, dos saborosíssimos temperos.
Na sequência, meu amigo pediu a especialidade da casa: o Bacalhau à Lagareiro – um generoso lombo grelhado com pimentão, cenoura, repolho e alho puxados em azeite, ovo cozido e as famosas batatas ao murro – que, segundo ele, superou suas maiores expectativas. Já eu, por razões sentimentais, fui de Bacalhau Com Todos – um também generoso lombo de bacalhau com cenoura, batata, couve, grãos de bico selecionados e ovos cozidos muito parecido com o que minha mãe fazia, principalmente no fato de que os ingredientes são apenas cozidos e acrescidos de muito alho e cebola crua picados – além de muito azeite, claro. Comfort food na veia. Tudo acompanhado de um tinto Alandra, da Herdade do Esporão (qualquer outra coisa seria heresia). A Tasca do Porto conta ainda com uma carta de vinhos portugueses com 20 rótulos de várias regiões de Portugal, além dos licores e da cerveja Super Bock.
A casa oferece os deliciosos doces portugueses, como o pastel de Santa Clara. Mas não pedimos sobremesa, pois já tínhamos em mente outra comfort food – a fabulosa torta de banana da lanchonete Sevilha, no Gonzaga. Mas isso já é outra história.
O terceiro ponto que merece destaque é o atendimento atencioso, capitaneado por Guilherme Brum, sócio da casa – ele próprio, extremamente cortês. Tudo rápido, tudo correto, nenhum erro ou confusão – ou seja, todas as expectativas atendidas ou superadas.
Serviço:
Tasca do Porto
Rua XV de Novembro, 115 – Centro – Santos/SP
(13) 3219-4280
Aberto todos os dias das 11h às 16h. Noite de Fado todo último sábado do mês.