As mudanças climáticas em curso representam o maior desafio da humanidade na atualidade. O prolongamento dos períodos de seca e o aumento do volume das chuvas e da ocorrência de tempestades, além de maiores temperaturas médias em várias regiões, têm efeitos diretos sobre a produção de alimentos e matérias-primas. “Com o aquecimento global, teremos a extinção de várias espécies, o aumento do nível do mar – que pode provocar inundações -, e o comprometimento do fornecimento de serviços ambientais. De um modo geral, todos os aspectos citados interferem diretamente na economia atual e na vida em sociedade”, alerta o gestor ambiental Hiuri Metaxas.
Cada vez mais, pessoas parecem ter mais consciência sobre os desastres que tais impactos ambientais causam. Uma pesquisa realizada pela Ipsos em maio comprovou isso, mostrando que a preservação ambiental está intensificando sua relevância, mesmo em um cenário de pandemia. Na opinião de 85% dos brasileiros, a proteção do meio ambiente deve ser uma prioridade do governo no plano de recuperação do país pós-Covid-19. O estudo ouviu participantes de 16 países, sendo 1.000 no Brasil.
Natureza destruída | De acordo com o fundador e presidente da ONG Save Cerrado, Paulo Bellonia, quando o homem destrói uma floresta nativa para abrir terras, construir barragens e explorar atividades do agronegócio, está iniciando um ciclo perigoso de perda de biodiversidade e desencadeando problemas que podem afetá-lo diretamente, como a mudança climática. “Essa intensa onda de calor pode favorecer a propagação do fogo por várias regiões do país. O Brasil está em chamas e isso não é uma figura de linguagem. Os principais biomas do país e do mundo estão queimando”.
De acordo com levantamento e imagens de satélites do Instituto Nacional de Pesquisa Espacial (Inpe), a quantidade de focos de incêndio tem crescido por todo o território brasileiro. Os biomas Amazônia, Cerrado e Pantanal ocupam os três primeiros lugares do ranking negativo. Os dados são do período de janeiro a setembro de 2020.
Mudança climática | Bellonia explica que as queimadas operam em um ciclo preocupante. “Quanto mais se desmata, mais emissão de gases de efeito estufa, mais calor, mais queimadas, mais ocorrências de incidentes naturais com chuvas intensas em curto espaço de tempo, ventos extremos em locais que jamais ocorreram, como em Santa Catarina no primeiro semestre desse ano. Ao queimar a vegetação, são novamente liberados gases do efeito estufa na atmosfera, potencializando as mudanças climáticas, que, por sua vez, causam aumento de temperatura e clima mais seco em diversas regiões do mundo”.
A Organização Mundial de Meteorologia prevê para o período de 2020/2024 aumento de temperatura, redução de chuvas e, consequentemente, períodos mais secos em algumas regiões, incluindo a América do Sul. Isto pode alterar os ecossistemas de maneira que a biodiversidade, muitas vezes, não consiga se adaptar.
Bellonia esclarece que uma biodiversidade em equilíbrio mantém o meio ambiente saudável, questão fundamental para evitar a ocorrência de doenças, incluindo pandemias, como o coronavírus, um reflexo duro na humanidade mundial neste ano. “Os biomas estão interligados; enquanto o Cerrado é conhecido como a caixa d’água do Brasil por concentrar as nascentes de muitos rios e bacias hidrográficas, a Amazônia produz uma série de serviços ambientais distribuídos pelo país e um deles é levar chuvas para regiões distantes. Os chamados “rios voadores” podem ser enfraquecidos devido ao desmatamento e, consequentemente, levar menos umidade para as outras regiões, incluindo o Pantanal”.
Como podemos ajudar? | Proteger florestas nativas no Cerrado e os demais ambientes naturais é fundamental na luta contra as crises climática e da biodiversidade e cabe a nós resistir a este modelo de destruição. “Defender o equilíbrio do ecossistema é preservar a saúde e o bem-estar humano. Tudo está inserido dentro de um importante ciclo”, alerta o especialista. Por isso, fundou a Save Cerrado, uma ONG que atua exclusivamente no Cerrado, bioma com uma das maiores riquezas de biodiversidade do planeta. “Nossas ações estão relacionadas com áreas específicas e de altíssima relevância de preservação para a sociedade brasileira e mundial, tanto pela importância das águas quanto pelo fato de se tratar de um Hotspot, tudo com total transparência de onde exatamente os recursos estão sendo aplicados”, informa. Hotspots são áreas com grande biodiversidade e ameaçadas de extinção, se concentram em apenas 2,3% da superfície do planeta e detêm cerca de 60% do patrimônio biológico do mundo.
Bellonia finaliza explicando que, proporcionalmente, o Cerrado é o bioma mais desmatado do Brasil. “De acordo com a lei, 80% das áreas privadas podem ser utilizadas para o agronegócio, favorecendo o desmatamento e impactando na perda de uma da mais rica biodiversidade do planeta, além de acelerar o aquecimento global. Nós da Save Cerrado evitamos o desmatamento em áreas privadas prioritárias para conservação e desenvolvemos ações sustentáveis de recuperação de veredas, educação ambiental e extrativismo sustentável, envolvendo as comunidades e cooperativas locais. Hoje temos o orgulho de trabalhar na proteção de uma área de 180 milhões de m² em um dos 4 principais mais importantes corredores de preservação do cerrado.”
A Save Cerrado é uma Organização sem Fins Lucrativos (ONG), que atua na recuperação e preservação de áreas críticas do Cerrado, localizada dentro ou próxima de UC’s e que, nos termos da legislação tributária brasileira, goza de isenção com relação aos tributos federais devidos sobre suas receitas. Acesse o site da organização e saiba mais sobre o projeto e como você pode ajudar a combater ao desmatamento de áreas privadas em UC’s, “adotando” sua área e ajudando a preservar os 180 milhões de m² no Cerrado.