Lilo é mais uma vítima da Covid, mas uma rede de amigos se uniu para garantir a ele um tratamento que possa representar um diferencial a sua sobrevivência. Para além da amizade, que ele tem às pencas, seus amigos também querem salvar um profissional considerado um “poeta das lentes”, dada a sua sensibilidade de captar a essência das coisas na sua objetiva.
Maurilo Clareto, o Lilo – apelido que traz da infância e como é chamado por todos que o conhecem – abraçou a fotografia por volta dos 15 ou 16 anos, quando foi trabalhar no tradicional estúdio de fotos campineiro Foto Ferrari. Ele sempre conta que, dentro do laboratório, quando viu a magia de uma imagem se revelar pela primeira vez, teve uma catarse. A partir daí, nasceu o Lilo Clareto fotógrafo – ou renasceu, porque dentro dele, uma paixão repousava. Na infância, outro irmão da linhagem dos treze filhos de Dona Geraldinha e seo Antonio Clareto, o Expedito Clareto, então estudante de jornalismo em Belo Horizonte, surgia, durante o período de férias, no sítio em que moravam na cidade mineira de Passos, com uma câmera fotográfica da marca Flika. Na descrição do Lilo, uma caixa de plástico preto, com uma lente, bem rudimentar – coisa barata –, que funcionava muito bem. Usava filmes 120 e gerava negativos grandes, 6×6, como ele gosta de detalhar. Na sua lembrança de menino dos seus quatro ou cinco anos, o irmão o deixava usar – ou talvez ele o fizesse de enxerido mesmo. “A minha primeira influência no rumo da fotografia”, crava.
Enquanto laboratorista, passou pelo também por outro conhecido estúdio da época, Profcolor, ao mesmo tempo em que iniciou o curso de Publicidade e Propaganda na Puccamp, quando descobriu a fotografia publicitária, tendo trabalhado com grandes nomes da publicidade campineira. Já formado, paradoxalmente, trocou a publicidade pelo jornalismo, aproveitando uma oportunidade que surgiu de trabalhar no extinto jornal Diário do Povo. Logo de cara, fez uma foto que chamou a atenção do então editor-chefe do jornal, nos idos de 1988 e que lhe valeu uma menção honrosa em uma premiação de fotojornalismo. “Ali, já me acreditei repórter fotográfico”.
Quem conhece o Lilo sabe bem que sua alma de artista faz com que ele tenha muita dificuldade em planejar de forma cartesiana seus próximos passos. E foi assim que a vida o levou para São Paulo. Já estava a caminho sua primeira filha, Beatriz, hoje com 31 anos (ele também é pai do Fran e da Gaby). Casou-se com Lia Alcântara e iniciou uma série de trabalhos como free-lancer no Diário Popular, até ser contratado pelo O Estado de São Paulo, o Estadão. Ficou por 15 anos nessa casa, onde ganhou um dos mais importantes – mas não o único – prêmios da vida profissional de um jornalista: a Estatueta Líbero Badaró, maior orgulho da sua vida. Foi por uma reportagem de uma desocupação, em que a polícia invadiu o local e, no confronto com moradores, uma pessoa foi morta ao seu lado. Apesar do prêmio, até hoje, humanista que é, tem uma lembrança muito angustiante do momento. “Nunca tinha visto alguém morrer”. Mas, sua foto mais famosa, que ganhou fama como Chupetinha, é de um menino de rua, de uns três anos, que afasta a chupeta na boca para dar uma tragada no cigarro. Algo que somente alguém com o tamanho da sensibilidade de um artista poderia captar.
Após sair do Estadão, Lilo Clareto ingressou na revista Época, onde conheceu e estabeleceu parceria com a jornalista e conceituada colunista Eliane Brum. Essa parceria, que perdurou após ambos terem se desligado daquele veículo, já soma mais de 20 anos de grandes reportagens, tendo como foco, atualmente, a vida amazônica e a defesa do meio ambiente.
Foi em Altamira, para onde ambos se mudaram em 2017, que Lilo conheceu sua atual companheira, a ativista socioambiental do Xingu, Daniela Silva, e onde, como as árvores da floresta, criou raízes e se fortaleceu na luta pela vida (e já dando frutos: a pequena Maria, sua filha caçula, de dois anos de idade). É esse Lilo Clareto, necessário ao mundo, que a campanha 20×20 Galeria Solidária vem resgatar.
As fotos desta galeria, além da sua condição artística e histórica, por retratarem uma época, um período e uma condição sociocultural e ambiental, são de uma qualidade técnica que simplesmente as tornam obras de arte para apreciador nenhum botar defeito. “O objetivo é ajudar no tratamento do fotógrafo Lilo Clareto, mas, com certeza, quem adquirir essas fotos se tornará proprietário de uma bela obra de criação”, diz a publicitária e jornalista Inês Costa, irmã de Lilo Clareto.
20X20 Galeria Solidária | Cada foto pode ser adquirida pelo valor de R$220,00. Elas podem ser visualizadas e escolhidas no Instagram @galeriasolidariadefotografia. Feito isso, o interessado deve mandar um e-mail para galeriasolidariadefotografia@gmail.com indicando as fotos escolhidas. Todos os recursos arrecadados serão usados para cuidar do Lilo e da sua família enquanto ele luta pela vida.
O interessado recebe uma cópia em jato de tinta, papel 100% algodão Hahnemühle Photo Rag, 308g, no tamanho 20x20cm, carimbada em alto relevo com a marca d’água da 20 X 20 Galeria Solidária de Fotografia. https://www.instagram.com/galeriasolidariadefotografia.