Cada vez mais comuns no Cerrado e no Pantanal, grandes incêndios podem trazer impactos profundos nos ecossistemas da região. Um estudo publicado na revista britânica Journal of Applied Ecology nesta segunda (14) mostra que o grande incêndio ocorrido em outubro de 2017 nas savanas do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros causou uma alta mortalidade de árvores de florestas ripárias do parque. Nas áreas mais impactadas, a perda de cobertura florestal chega a 80%.
O estudo surgiu de uma demanda dos gestores do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, preocupados com os impactos do incêndio de 2017, que atingiu 80% da área original do parque. Ele envolveu a colaboração de vinte cientistas de diferentes instituições internacionais e brasileiras, como a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), a Universidade de Brasília (UnB) e a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
Partindo de imagens do Google Earth, os pesquisadores quantificaram a perda de cobertura florestal na paisagem entre 2003 a 2019, em uma área de 90 hectares. As imagens de satélite foram comparadas com dados de campo, coletados em 36 florestas espalhadas pela paisagem queimada, incluindo informações detalhadas sobre todas as árvores, plantas herbáceas e solo da região. “Para nossa surpresa, as florestas mais impactadas foram aquelas que inundam durante a estação chuvosa”, explica o pesquisador Bernardo Flores, primeiro autor do artigo. Em algumas florestas, o incêndio causou um impacto leve, enquanto, em outras, foi destrutivo, matando quase todas as árvores e permitindo que gramíneas e outras espécies de plantas invasoras começassem a dominar o ecossistema.
A redução da cobertura das florestas ripárias pode desequilibrar cadeias alimentares e gerar efeitos cascata em ecossistemas inteiros, já que elas são um habitat vital para grandes animais, como as onças – elas servem de abrigo para esses animais em meio às savanas abertas. Além disso, essas florestas reduzem a erosão do solo e, assim, ajudam a manter a qualidade da água dos riachos, responsáveis por alimentar grandes reservatórios de água do Brasil.
Paisagens mais inflamáveis
A expansão da agropecuária tem tornado as paisagens do Cerrado e Pantanal mais inflamáveis, pois permite que gramíneas invasoras se espalhem no território, explica Rafael Oliveira, coautor do estudo. “Junto a isso, temos um enfraquecimento da governança ambiental no Brasil nos últimos anos, o que resulta num aumento de focos de incêndio”, comenta o pesquisador.
Com as mudanças climáticas, a tendência é de que as secas extremas sejam mais constantes e tornem as savanas tropicais ainda mais vulneráveis a grandes incêndios, com impactos catastróficos que podem persistir por décadas. Por isso, estudos como esse se tornam importantes para ajudar a formular estratégias de manejo do fogo nessas paisagens. “Agora, queremos monitorar se essas florestas serão capazes de recuperar seu estado original ou se ficarão aprisionadas em um estado de vegetação aberta”, conta Bernardo.
(Fonte: Agência Bori)