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Dia das aves: espécies podem retornar a regiões que se tornaram mais calmas e limpas

São Paulo, por Kleber Patricio

Tiê-sangue, ave típica da Mata Atlântica. Imagem de Dave Eslinger por Pixabay.

Mudanças provocadas pela pandemia de Covid-19 em áreas urbanas e rurais ocasionaram redução da poluição e dos ruídos em algumas regiões. Uma consequência positiva é a volta de animais silvestres a locais dos quais eles haviam sido afugentados. Esta movimentação pode ser observada entre espécies de aves, cujo dia é celebrado em 5 de outubro. Nos primeiros meses da quarentena, por exemplo, foram avistados patos silvestres em uma fonte em Roma e nos canais de Veneza, na Itália. Na Índia, um pavão foi flagrado circulando pelas ruas. Os registros foram noticiados por veículos de imprensa de diferentes países. Em bairros de cidades brasileiras, moradores passaram a avistar pássaros mais frequentemente, o que pôde ser observado em diversas postagens em redes sociais digitais.

Conforme explica Cristina Maria Pereira Fotin, membro da Comissão Técnica de Médicos-veterinários de Animais Selvagens do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de São Paulo (CRMV-SP), essa circulação ocorre porque os animais procuram ambientes que ofereçam condições mais favoráveis, como abrigo seguro e alimento. De acordo com a médica-veterinária, a sociedade pode contribuir ainda mais para que haja a presença das aves ao preservar árvores frutíferas que atraem pássaros e outros animais silvestres. “É fundamental manter a flora existente, fomentar programas de plantio e o consumo consciente para a redução da produção de lixo e resíduos.”

Cristina alerta, entretanto, quanto à importância de não oferecer alimentos ou água para atrair as aves, uma vez que esta prática pode provocar desequilíbrios na dieta de espécies e, ainda, atrair animais com potencial de transmissão de doenças, como ratos e mosquitos, entre outros.

Planejamento urbano e controle de queimadas são cruciais

Tucano: ave tem sido avistada com mais frequência em cidades do interior paulista. Imagem de Jose Eduardo Camargo por Pixabay.

Para a médica-veterinária Hélia Maria Piedade, que faz parte da Comissão Técnica de Animais Selvagens do CRMV-SP, a arborização urbana, incluindo espécies de plantas benéficas para alimentar e abrigar aves, deve fazer parte do planejamento das cidades. “São fundamentais, ainda, medidas para manter os gatos domésticos restritos dentro das residências”, sinaliza Hélia, sobre uma ação de fomento à guarda-responsável que também reduz as chances de os felinos, com seu comportamento predador natural, atacarem aves jovens e ninhos.

Neste contexto, o controle da ocorrência de fogo em áreas verdes é outro tópico enfatizado pela médica-veterinária, cujos impactos são drásticos para toda a fauna silvestre. “Com o fogo, falta alimento, abrigo e parceiros, o que gera desequilíbrio de todo um sistema complexo das relações entre os animais, plantas e meio ambiente”, afirma a profissional.

Saiba o que fazer se encontrar uma ave ferida

É comum as pessoas encontrarem aves feridas nas ruas e estradas, em varandas e quintais das residências. Hélia orienta que a primeira medida é verificar se de fato há sinal de que a ave está machucada. “Muitas vezes está apenas desorientada ou cansada. Nestas situações, geralmente, são filhotes inexperientes”, diz a médica-veterinária, que sugere observar se há outra ave da mesma espécie por perto ou algum ninho. “Caso o local não represente risco imediato ao animal, deixe que ele descanse”, explica Hélia.

O sabiá-laranjeira, ave-símbolo do Estado de São Paulo.

Se realmente for necessário recolher o animal, Cristina explica que a ave deve ser envolvida com uma toalha e colocada em uma caixa ventilada e fechada, de forma a proporcionar sensação de segurança e diminuir o estresse. “Evite pressionar a região peitoral da ave, que controla a respiração. Do contrário, algumas espécies podem causar ferimentos com o bico ou garras na tentativa de se defender.”

Depois, é preciso levar o animal para atendimento em centros de reabilitação e fauna silvestre ou entregá-lo em um posto de polícia ou guarda ambiental para que seja direcionado a pontos de tratamento especializado – os quais, posteriormente, farão a soltura do animal em local apropriado quando a ave estiver preparada.

Hélia enfatiza a delicadeza da constituição física das aves. “Não é recomendo que pessoas não habilitadas façam algum tipo de manobra ou procedimento, tanto para preservar a ave, como para evitar que a pessoa se contamine por uma possível doença que possa ser transmitida.”

Permanecer com a ave não é permitido

Aves de vida livre são protegidas pela Lei Federal nº 9605/98, conhecida como Lei de Crimes Ambientais, que proíbe “matar, perseguir, caçar, apanhar, utilizar espécimes da fauna silvestre, nativos ou em rota migratória, sem a devida permissão, licença ou autorização da autoridade competente”.

Isso significa que não é permitido ao cidadão permanecer com a ave em casa. Todo animal silvestre que necessite de resgate deve ser encaminhado o mais breve possível para os locais autorizados pelo órgão ambiental competente. Confira, na tabela do link abaixo, alguns órgãos que podem receber animais resgatados no Estado de São Paulo:

http://arquivos.ambiente.sp.gov.br/fauna/2015/09/CETAS_CRAS_V4.pdf.