Enquanto os plásticos maiores encontrados nas areias das praias ou flutuando na superfície da água causam grande alarme quanto à preservação desses ambientes, os microplásticos são uma ameaça menos visível e mais onipresente — sendo um dos maiores poluentes dos oceanos. Uma pesquisa realizada pela Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (UERGS) aponta a presença desses resíduos mesmo em praias pouco urbanizadas, consideradas preservadas, do Rio Grande do Sul. O estudo está publicado na edição de maio da revista Arquivos de Ciências do Mar.
O estudo analisou a presença de microplásticos na areia de três praias do litoral norte do Rio Grande do Sul com diferentes níveis de atividade humana: as praias de Capão da Canoa e Torres, altamente urbanizadas, e a Praia das Cabras, praia não urbanizada onde se encontram uma das últimas remanescentes de dunas conservadas da região do litoral norte gaúcho. Eles analisaram a quantidade e o tipo de resíduo encontrado nas praias, se eram microplásticos primários – chamados de pellets, esferas produzidas intencionalmente em pequenos tamanhos para serem usados na produção de plásticos maiores – ou microplásticos secundários, que resultam da fragmentação de resíduos plásticos maiores, como garrafas PET ou brinquedos de praia.
A análise revelou maior concentração de microplásticos na praia não urbanizada, a Praia das Cabras, com o dobro de unidades coletadas (1.083 unidades) em relação a Capão da Canoa (482 unidades). A praia de Torres, também urbanizada, teve apenas 162 unidades de microplásticos coletadas. Além disso, chamou a atenção dos pesquisadores a grande quantidade de microplásticos primários, ou pellets, encontrados na Praia das Cabras.
Esse material possivelmente pode ter se originado do descarte inadequado nos processos industriais e da perda acidental de contêineres durante o transporte marítimo. Algumas partículas vêm até mesmo dos próprios sistemas de esgoto e acabam chegando aos oceanos. “Como são muito leves, esses microplásticos podem ser carregados por longas distâncias”, comenta a pesquisadora Ingrid Schneider, autora do artigo. “A presença muito visível desse resíduo em uma praia que não é próxima de áreas portuárias ou industriais chama muito a atenção para o problema de gestão ambiental, pois está diretamente relacionada com a perda durante sua cadeia produtiva, desde a fabricação até o manuseio e transporte”, destaca.
De acordo com o estudo, a produção global de plástico passou de 1,5 para 360 milhões de toneladas por ano entre 1950 e 2018. Se a produção e o gerenciamento dos resíduos seguirem essa tendência, 12 milhões de toneladas de plástico vão acabar em aterros ou no meio ambiente até 2050.
A poluição por plástico representa a maior parte do lixo encontrado nos oceanos. Esses resíduos entram no ambiente marinho principalmente através dos rios e locais próximos à costa e afetam vários organismos, incluindo tartarugas, aves, peixes, até mamíferos marinhos e zooplânctons. “Vários estudos já apontaram que os pellets podem ter poluentes químicos, contaminando os animais que os ingerem e causando uma série de problemas”, explica Schneider. A pesquisadora ainda ressalta a importância de se investigar a origem destes microplásticos e a dinâmica do oceano e, também, buscar uma melhor gestão ambiental deste material.
(Fonte: Agência Bori)