Pesquisadores da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) e da Academia de Ciências da Califórnia, em parceria com a ONG Voz da Natureza e outras universidades brasileiras, realizaram um estudo de campo único no arquipélago de Fernando de Noronha, no nordeste do Brasil. Durante uma expedição, que durou 16 dias, foram encontradas quatro novas espécies de peixes, ainda não descritas pela ciência. Também foi registrada a ocorrência inédita de 19 espécies na região. O artigo que descreve esta investigação, que teve apoio da Fundação Grupo Boticário, foi publicado na revista Neotropical Ichthyology nesta segunda (14).
Foi a primeira vez que cientistas mergulharam além da quebra da plataforma continental — limite do continente onde há uma brusca mudança de declividade, atravessando zonas de transição de luminosidade que chegam a 120 metros de profundidade. “A temperatura da superfície fica em torno de 26 °C, enquanto a água na zona explorada tem em torno de 13 °C”, explica o cientista Hudson Pinheiro, um dos autores do estudo, da ONG Voz da Natureza e da Academia de Ciências da Califórnia.
O objetivo da exploração era conhecer a biodiversidade existente nessas áreas mais profundas, contribuindo para a conservação das mesmas. “O Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha protege apenas os ambientes rasos, sendo os profundos liberados para a pesca. Entre os nossos objetivos, está colaborar para o desenvolvimento sustentável da pesca na região”, destaca Hudson, que também é membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza (RECN). O time de cientistas, composto por biólogos, oceanógrafos e técnicos de mergulho, entre outros, desenvolveu um trabalho minucioso de exploração da região. Com o apoio de três embarcações, os pesquisadores se dividiram em equipes — uma trabalhando no ambiente mais raso, a segunda realizando os mergulhos técnicos mais profundos e a terceira, que trabalhou com um veículo submarino operado remotamente e sistemas de filmagens subaquáticas remotas com isca para atração dos peixes. “Integrando técnicas que ainda não são amplamente utilizadas no Brasil, foi possível alcançar os nossos objetivos na exploração”, informa Pinheiro.
Outro destaque da pesquisa foi o registro de novos comportamentos de reprodução das espécies comerciais daquela região. “Vimos que algumas espécies, como a garoupa marmoreada, estão utilizando os recifes de quebra da plataforma, entre 90 e 100 metros de profundidade, como áreas de reprodução”, relata o oceanógrafo João Batista Teixeira, outro autor do estudo.
Os resultados apontam para a necessidade do desenvolvimento sustentável da pesca e do turismo na ilha. “Os recursos naquela região são finitos e, por conta disso, dependem do manejo das espécies, principalmente daquelas que são comercializadas. Devido à pesca desregulada, muitas populações de peixes já foram extintas em regiões isoladas como o arquipélago de Fernando de Noronha”, enfatiza Pinheiro.
Ao adentrar áreas de maior profundidade na ilha, os cientistas constataram a presença de poluição, como plásticos e linhas de pesca, que colocam em risco a vida dos animais marinhos. “Por ser uma região mais profunda, entende-se que não é poluído, mas evidenciamos que mesmo estes ambientes já possuem impactos gerados pelos seres humanos”, destaca o cientista. Em breve, os pesquisadores pretendem voltar à região para coletar mais informações sobre outras espécies descobertas.
(Fonte: Agência Bori)