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A evolução no uso do canabidiol em doenças do cérebro

São Paulo, por Kleber Patricio

Imagem de Erin Stone por Pixabay.

Há alguns anos, as leis que permitem o uso do canabidiol (CBD) para fins medicinais vêm avançando no Brasil. Desde dezembro de 2019, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) aprovou a regulamentação de produtos à base de cannabis sob prescrição médica. Em julho deste ano, inclusive, o primeiro extrato de canabidiol desenvolvido no país chegou às farmácias. Entretanto, os estudos mundiais acerca do derivado da maconha como tratamento, apesar de polêmicos, são muito mais antigos – seu uso na medicina, aliás, é estudado em inúmeras especialidades, como a neurologia.

Porém, há muita publicidade em torno do CBD, além de dúvidas sobre como ele pode, de fato, ajuda no tratamento de doenças diversas. Para falar sobre o uso do canabidiol e seus benefícios no tratamento de algumas doenças neurológicas, o Dr. Marcelo Valadares, neurocirurgião, médico do Hospital Israelita Albert Einstein (SP) e pesquisador da Disciplina de Neurocirurgia da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), elencou alguns temas que costumam gerar dúvidas:

1 – Há hipóteses de que os efeitos do CBD podem auxiliar na redução de inflamações no cérebro | O Dr. Marcelo Valadares explica que parece haver evidência, de acordo com alguns estudos, de que a substância pode auxiliar no tratamento de pacientes com transtornos e doenças neurológicas. Nessas pesquisas, há evidências de que o principal efeito do CBD no cérebro é a redução de inflamação, que está relacionada a doenças como Alzheimer, ansiedade, depressão e epilepsia, entre outras.

2 – O canabidiol é um tratamento viável para dores crônicas | Um estudo da The Health Effects of Cannabis and Cannabinoids, nos Estados Unidos, revelou que o alívio de dores crônicas é a condição mais comum citada pelos pacientes em relação ao uso do CBD medicinal. Estudos também mostram a presença de receptores canabinóides na medula espinhal, no sistema límbico, que é regulador das emoções, no hipocampo, na medula espinhal e no hipocampo, relacionado às memórias. Segundo o neurocirurgião, o uso do canabidiol em pacientes com dor crônica intensa mostra benefícios significativos, pois a cannabis tem ação direta no mecanismo central de dor. O Dr. Marcelo Valadares, inclusive, já teve relatos de bons resultados entre seus pacientes. “É um valioso recurso quando as primeiras linhas de tratamento não se mostram benéficas ou apresentam efeitos colaterais indesejáveis”, ressalta.

3 – No Brasil, o uso de medicamentos à base de CBD para dores neuropáticas é permitido, mas esse não é um tratamento tão acessível | No país, os medicamentos à base de canabinóides podem ser indicados para tratamentos de dores neuropáticas crônicas; porém, com uma receita especial e preenchimento de um formulário pelo médico responsável. É importante lembrar que os medicamentos são de alto custo e difícil acesso.

4 – O CBD pode ser um complemento no tratamento para a dor de pacientes com Parkinson | Estudos mostraram melhorias na qualidade de vida de pacientes com a Doença de Parkinson. Entretanto, há controvérsias em relação às melhorias nas funções motoras. O médico, especialista em tratamento de doenças neurodegenerativas, afirma que alguns estudos mostram evidências, mas ainda são preliminares. Entretanto, o neurocirurgião afirma que é possível considerar o canabidiol para casos de dor crônica relacionada à Doença de Parkinson.

5 – Pesquisas sobre o uso de CBD para retardar a progressão do Alzheimer são promissoras | O Dr. Marcelo Valadares explica que há, ainda, estudos sobre o uso da cannabis medicinal para o tratamento de pacientes com Alzheimer. De acordo com o médico, há limitações medicamentosas tanto para minimizar os sintomas, quanto para retardar a progressão do Alzheimer neste momento, o que enfatiza a necessidade de desenvolver mais pesquisas e viabilizar novas opções de tratamento. “Na literatura, estas pesquisas mostram-se promissoras, mas são necessárias mais avaliações acerca do tema”, diz o médico.

6 – No caso da epilepsia, o canabidiol pode ser um substituto dos medicamentos tradicionais | Casos de epilepsia, muitas vezes, são de difícil controle, como explica o neurocirurgião Marcelo Valadares. Um trabalho publicado no periódico médico The New England Journal of Medicine com pacientes que possuem a síndrome de Dravet mostra que a média de crises convulsivas por mês diminuiu de 12 para 6 após o uso da solução oral de canabidiol. O Dr. Valadares enfatiza, ainda, que existem evidências sólidas especialmente no caso de crianças.

7 – Em quadros de insônia, o canabidiol é recomendado | Pesquisas apontam que os canabinóides são bem-sucedidos na melhora da qualidade do sono em geral e podem ser uma alternativa aos tradicionais medicamentos usados para dormir, que podem gerar dependência e uma série de efeitos colaterais. Inclusive, o uso da cannabis tem sido estudado em pacientes com Estresse Pós-Traumático que sofrem com distúrbios do sono.

O neurocirurgião Dr. Marcelo Valadares. Foto: divulgação.

Sobre o Dr. Marcelo Valadares | Dr. Marcelo Valadares é médico neurocirurgião e pesquisador da Disciplina de Neurocirurgia da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp e do Hospital Albert Einstein. A Neurocirurgia Funcional é a sua principal área de atuação, sendo que o neurocirurgião trabalha em São Paulo e em Campinas. Seu enfoque de trabalho é voltado às cirurgias de neuromodulação cerebral em distúrbios do movimento e cirurgias menos invasivas de coluna (cirurgia endoscópica da coluna), além de procedimentos que envolvem dor na coluna, dor neurológica cerebral e outros tipos de dor.

O especialista também é fundador e diretor do Grupo de Tratamento de Dor de Campinas, que possui uma equipe multidisciplinar formada por médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, psicólogos e educadores físicos.

No setor público, recriou a divisão de Neurocirurgia Funcional da Unicamp, dando início à esperada cirurgia DBS (Deep Brain Stimulation – Estimulação Cerebral Profunda) naquela instituição. Estabeleceu linhas de pesquisa e abriu o Ambulatório de Atenção à Dor afiliado à Neurologia.

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