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Adolescente que pula café da manhã tem quase duas vezes mais chance de acumular gordura abdominal

Campina Grande, por Kleber Patricio

Foto: Helena Lopes/Unsplash.

Pular o café da manhã pode trazer prejuízos para a saúde e parece, ainda, ser um hábito recorrente de adolescentes. Pesquisa feita em escolas públicas de Campina Grande, Paraíba, descobriu que aqueles que não se alimentam pela manhã têm quase duas vezes mais chance de apresentarem acúmulo de gordura no abdômen — o que é um indicador de risco para complicações cardíacas e metabólicas. O artigo científico decorrente do estudo está publicado na Revista de Nutrição e é assinado por pesquisadoras da Universidade Estadual da Paraíba e da Universidade Federal de Campina Grande.

O estudo foi feito com 571 estudantes na faixa etária entre 15 e 19 anos selecionados por meio de amostragem aleatória – um sorteio que dá a mesma chance a todos os membros de uma população de serem selecionados. Foram avaliados o hábito de tomar café da manhã, sua frequência e o estado nutricional dos participantes, além de variáveis sociodemográficas e de estilo de vida, como sedentarismo, nível de atividade física e horas de sono. O trabalho foi financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ) e é produto da dissertação da médica Ana Raquel Ribeiro junto ao Programa de Pós-Graduação em Saúde Pública da UEPB.

O resultado encontrado foi que 10% dos estudantes apresentaram alterações na circunferência abdominal e 31% pulam a primeira refeição do dia, o que aumenta a chance de acúmulo de gordura nessa região do corpo. “Consideramos como adiposidade abdominal se a razão entre a circunferência da cintura pela estatura for maior que 0.5”, explica a endocrinologista pediátrica Carla Medeiros (UEPB), uma das autoras do artigo.

Os pesquisadores consideraram como omissão do café da manhã os casos de estudantes que não fizeram a refeição por pelo menos 5 dias durante uma semana. Medeiros já vinha observando, em outros estudos, que a ausência de fome no início do dia e o tempo curto entre acordar e ir para a escola são alguns motivos do alto índice de omissão do café da manhã entre adolescentes.

O acúmulo de gordura na região do abdômen pode estar associado a alterações metabólicas, como a resistência à insulina, hormônio produzido pelo pâncreas para controlar a glicose no sangue. Além disso, a ingestão do café da manhã pode ter um efeito benéfico na regulação do apetite e também melhorar a resposta glicêmica na refeição seguinte, proporcionando um aumento da sensibilidade à insulina.

O fato de o café da manhã ser um hábito rotineiro pode passar a impressão de que ele não causa impactos na saúde do indivíduo. Além disso, o hábito pode repercutir também nos sistemas de saúde. “A obesidade e as doenças crônicas têm uma carga muito grande para o governo, para o sistema único de saúde e para a qualidade de vida dos indivíduos”, comenta Medeiros. A pesquisadora acredita que, para enfrentar o problema, é preciso fortalecer ações do programa governamental Saúde na Escola e consolidar a importância da não omissão das refeições, nem trocá-las por lanches.

(Fonte: Agência Bori)