Uma das doenças crônicas mais prevalentes do mundo, o diabetes atinge quase 10% da população global. No Brasil, o quarto país com maior prevalência do planeta, dados de 2019 mostraram que 7,7% dos habitantes vivem com a doença. Esse quadro tem um preço: estima-se que, anualmente, os custos totais com a patologia ultrapassem 2 bilhões de dólares. A conclusão é de um estudo das universidades de São Paulo (USP) e Campinas (Unicamp) publicado na “Annals of Global Health” na quinta (3).
As autoras aplicaram um modelo para estimar custos de doenças a partir de informações de prevalência de diabetes e gastos relacionados à saúde, entre outros dados, extraídos da Pesquisa Nacional de Saúde, do Ministério da Saúde, e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A análise foi feita com base no ano de 2016.
Os custos totais são divididos em duas modalidades: os diretos, que se referem ao conjunto de despesas de hospitalização dos indivíduos, e os indiretos, que incluem perda de produtividade quando pessoas acometidas pelas diabetes não podem trabalhar, mortes prematuras antes que atingissem idade para aposentadoria e aposentadorias antecipadas por causa da doença.
Dos 2 bilhões de dólares estimados em 2016, 70,6% vêm de custos indiretos e os outros 29,4% são oriundos de custos diretos. Ainda com relação a 2016, as despesas por paciente diagnosticado com diabetes somaram 223 dólares. “Os valores encontrados são muito significativos e, ainda assim, consideramos o custo altamente subestimado”, diz Paula Pereda, uma das autoras do estudo. Pereda comenta que a prevalência de diabetes no Brasil pode ser subestimada em até 50%. “Para fazer os cálculos, usamos o custo de procedimentos do Sistema Único de Saúde, que é muito inferior ao preço de mercado. Além disso, a diabetes está associada a casos severos de Covid-19, o que aumenta os custos diretos e indiretos da doença.”
No estudo, as pesquisadoras também projetaram o custo anual da diabetes em 2030 considerando dois cenários: com a prevalência da doença idêntica ao último dado disponível, de 2013, e, em uma perspectiva mais realista, com a prevalência da doença aumentando 13% em 2030. Se os dados se mantiverem igual a 2013, o custo poderia variar entre 2,34 a 3,33 bilhões de dólares. Caso aumente em 13%, o custo aumentaria para 5,47 bilhões de dólares, o que equivale a um aumento de 133,4%, no total, ou de 6,2% ao ano.
O estudo é importante por mostrar o possível impacto econômico de uma doença de alta prevalência no Brasil, e diretamente relacionada aos hábitos alimentares da população, para além do impacto na saúde. “As estimativas no artigo mostram políticas públicas mais eficazes, que auxiliem a população a fazer escolhas alimentares mais saudáveis e sustentáveis, têm também um alto potencial de redução de custos”, diz Pereda.
(Fonte: Agência Bori)